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Isolados pela pandemia do coronavírus, idosos do Rio Grande do Sul tem sido vítima de um golpe que une esperteza e sangre frio, mostra uma reportagem da RBS TV exibida pelo Fantástico neste domingo (21). Quadrilhas de estelionatários se fazem passar por funcionários de bancos para obter senhas e recolher cartões de crédito das vítimas.
Para convencer, os fraudadores telefonam sempre para um telefone fixo. Alegam que foram realizadas compras indevidas em nome do idoso. A reportagem conversou com vítimas de Santa Maria, São Luiz Gonzaga, Guaíba e Caxias do Sul.
A história que relatam é confirmada por um conjunto de áudios dos fraudadores em ação, obtido pela reportagem da RBS TV com uma fonte ligada a bancos.
— O motivo do meu contato é referente a uma compra, no valor de R$ 2,5 mil. Gostaria de confirmar essa compra com a senhora — disse o golpista em uma das gravações.
Para resolver a situação, prossegue o fraudador, a vitima precisa ligar para o telefone o 0800 da operadora que aparece atrás do cartão. Só que em vez de desligar, o golpista segue na linha, que, assim, fica bloqueada.
Depois de colocar o telefone no gancho, a vítima chama para o número indicado, acreditando estar iniciando uma nova conversa. E cai no golpe, ouvindo uma gravação automática rodada não pelo call center da operadora, mas pelo bandido.
— Somos a central de segurança. Não desligue, sua ligação é muito importante para nós —diz um integrante da quadrilha na gravação.
Assim, o golpista acerta o repasse da senha, e a entrega do cartão A um motoboy, que também se faz passar por falso funcionário do banco.
— Me deu assim um branco. Não sei nem como explicar o que eu senti naquele momento. Peguei o cartão e dei pros caras. Cartão com senha, com tudo. Essa situação, para mim, foi terrível — lamenta um idoso de Guaíba, que teve R$ 3 mil debitados em compras no seu cartão.
Em Caxias do Sul, um falso funcionário da Caixa Econômica Federal chegou a ter a imagem registrada pelas câmeras de um prédio, onde um idoso foi lesado em R$ 2 mil. Em alguns casos, as vítimas relatam que os criminosos pedem que seja entregue apenas o chip que contém os dados do cartão, o que é confirmado por outro áudio.
— A senhora vai cortar ele ao meio na vertical, mas o chip que é aquela parte prateada dele, não poderá ser danificado, porque através desse chip, nós vamos conseguir saber localizar da onde partiu a clonagem do cartão da senhora — orienta o estelionatário no áudio.
Foi desta forma que um aposentado de Santa Maria foi lesado em R$ 7,1 mil, em uma compra parcelada em seis vezes.
— E realmente, dali alguns minutos o funcionário teve aqui, e eu, baseado não sei no quê, sabendo que não podia fazer isso, entreguei o cartão e a senha e tudo — afirma o idoso.
A delegada Débora Dias, da delegacia de Proteção ao Idoso e Combate à Intolerância da cidade da Região Central, conseguiu flagrar três suspeitos paulistas em um hotel barato. Com eles foram apreendidos falsos crachás de bancos, máquinas de cartão de crédito e celulares.
— Estamos concluindo o inquérito neste mês. Pretendo pedir a prisão preventiva deles — informa a delegada.
Segundo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), esse tipo de golpe vem ocorrendo, em menor escala, desde 2018. Mas aumentou 65% durante a pandemia. A orientação aos clientes de cartões de crédito é clara.
— Se você receber esse tipo de ligação, desligue imediatamente, e ligue para o seu gerente. O banco não tem nenhum serviço de motoboy para retirada de documentos. Se você for inutilizar o seu cartão, danifique o chip e não apenas corte-o ao meio — orienta Adriano Volpini, diretor da Comissão Executiva de Prevenção a Fraudes da entidade.
Já a diretora-executiva do Procon de Porto Alegre, Adriana Borges, diz que as operadoras de cartões e bancos podem ser responsabilizados caso fique comprovado que houve uso de informações pessoais na mecânica do golpe.
— Se houver a comprovação da falha na prestação de serviços, que houve um vazamento de informações, que não houve um cuidado em relação às práticas de fraude, a administradora de cartão de crédito ou a instituição financeira podem responder — explica Adriana.