
O homem que está preso por suspeita de participação na execução do empresário Jair Silveira de Almeida havia sido beneficiado com o regime semiaberto em julho e deveria estar sendo monitorado por tornozeleira eletrônica. Por falta do equipamento, Roger Duarte Mello, condenado a 47 anos de prisão, estava livre sem qualquer controle das autoridades. A partir do resultado de perícias, a Polícia Civil confirmou nesta segunda-feira (11) que impressões digitais dele foram encontradas em um dos veículos usados pelos criminosos no dia do ataque.
Almeida, 53 anos, foi morto a tiros dentro de uma Range Rover na quinta-feira (31), no bairro Anchieta, em Porto Alegre. O carro foi atingido por pelo menos 11 disparos. Horas depois do crime, Mello, 32 anos, foi capturado pela Brigada Militar em Cachoeirinha.
Conforme a BM, no local em que ele foi encontrado havia duas armas, toucas ninja e uniformes da polícia. Exames feitos pela seção de papiloscopia do Departamento de Identificação confirmaram que havia impressões digitais dele em um dos carros que os criminosos teriam usado naquele dia. Os investigadores só não detalham em qual veículo as impressões digitais foram encontradas para não atrapalhar as investigações.
Mello tem condenação por tentativa de homicídio, roubo e tráfico de drogas. Em julho, ganhou progressão de regime. Devido à falta de vagas no sistema penitenciário, a Vara de Execuções Criminais (VEC) determinou que ele fosse incluído no sistema de monitoramento eletrônico, ou seja, deveria colocar tornozeleira eletrônica. Entre as condições que o apenado deveria cumprir para manter o benefício estão a proibição de se afastar do local de residência entre 20h e 6h e a comprovação, em até 30 dias depois da soltura, de que estava trabalhando. Sem isso, o benefício seria cassado e ele, recolhido a uma prisão.
Quatro meses depois de ter sido libertado, Mello seguia sem usar tornozeleira por falta de equipamento disponível na Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe). GaúchaZH pediu à VEC informação sobre se Mello havia comprovado estar trabalhando, e aguarda resposta.
Quando foi preso, na madrugada da sexta-feira (1), Mello optou por se manter em silêncio, sem depor à polícia sobre as suspeitas que o envolviam na morte de Almeida. Mas para seu advogado, Marcelo Dorneles da Silva, afirmou ser inocente.
Polícia busca identificação dos outros envolvidos
A investigação da morte do empresário está sendo feita pela 3ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (3ª DHPP), que tem agora como prioridade a identificação dos outros três suspeitos que participaram diretamente da execução. Conforme o delegado Cassiano Cabral, a investigação aponta para a participação de quatro pessoas no ataque. A polícia também verifica quem teria sido o mandante do crime e qual seria a motivação.
Uma das hipóteses verificadas pela polícia é se Almeida teria sido atingido por engano, já que usava um carro emprestado. O dono do veículo procurou a polícia depois do crime dizendo acreditar que ele é que seria o alvo da execução, pois vinha recebendo ameaças. O delegado Cassiano não descarta, no entanto, que Almeida pudesse ser o alvo dos criminosos.
O crime
O empresário Jair Silveira de Almeida foi morto a tiros na Rua Bartolomeu Bernardi, no bairro Anchieta, em frente a uma clínica terapêutica. O prédio da clínica era alugado em nome dele.
A mulher de Almeida é sócia da clínica, juntamente com uma sobrinha de Almeida. Esta sobrinha da vítima é casada com o empresário que afirma que seria o verdadeiro alvo da execução, e que é dono da Range Rover.
Contraponto
O que diz o advogado Marcelo Dorneles da Silva:
"Roger alega ser inocente. A defesa ainda não teve acesso aos autos para poder se manifestar".
O que diz Cristiano Fortes, diretor do Departamento de Segurança e Execução Penal da Susepe:
"Estamos fazendo processo de migração dos equipamentos para tornozeleiras mais modernas e que vão permitir melhor controle. Atualmente, há cerca de 600 apenados sem o equipamento. No caso específico, este apenado estava se apresentando semanalmente para verificar se tinha o equipamento disponível e também tinha autorização de saída para trabalhar. Como não teve o benefício cassado, acreditamos que tenha comprovado o trabalho junto à Justiça. E se estava trabalhando, nossa fiscalização estava sendo feita".
O que diz a Vara de Execuções Criminais:
GaúchaZH aguarda resposta sobre se o apenado havia comprovado estar trabalhando, o que lhe garantia a manutenção do benefício de inclusão no sistema de monitoramento eletrônico.