A escola na qual pelo menos 20 alunas dizem ter sofrido abusos sexuais por parte de um ex-diretor e professor de matemática, em David Canabarro, no norte do Estado, não comunicou o caso para instâncias superiores nem para a Polícia Civil.
A 7ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), a qual o Instituto Estadual de Educação Assis Brasil é subordinado, ao saber da situação por pais de estudantes, também deixou de abrir sindicância e de alertar a Secretaria da Educação (Seduc) sobre as suspeitas, que vieram à tona em março.
A secretaria só soube dos abusos relatados por estudantes na quarta-feira (25), quando o professor César Pedro Zanella, 56 anos, foi preso e GaúchaZH pediu informações sobre a situação. Zanella é acusado pelo Ministério Público de estupro, estupro de vulnerável e por submeter adolescente a vexame ou constrangimento. A escola, na qual o professor atua há 27 anos, não quis se manifestar sobre o caso. Ainda na quarta-feira, o secretário de Educação, Faisal Karam, determinou a abertura de sindicância para apurar os fatos.
Em 21 de março, um grupo de 60 alunas procurou a direção do Instituto Assis Brasil para relatar episódios de abuso e assédio por parte de Zanella. Estudantes contaram que o professor as tocava de forma inadequada, passando as mãos nos cabelos, ombros, nádegas, pernas e seios. Há relatos de que ele chaveava a porta de salas de aula em momentos em que estava sozinho com alunas, normalmente, durante a recuperação de provas que elas haviam perdido.
A direção registrou na ata da reunião com as estudantes que iria verificar a situação junto ao professor e "solicitar que ele não mais praticasse atitudes que deixavam as alunas constrangidas". No dia seguinte, 22 de março, o professor se afastou do trabalho por conta de licença-saúde. A escola não fez comunicação alguma do caso a autoridades.
A polícia acabou sabendo das suspeitas porque um grupo de alunas foi à Delegacia de David Canabarro em 23 de março. Pais de estudantes também procuraram a 7ª CRE, que chamou a direção para dar explicações. Os representantes da escola foram ouvidos e entregaram a ata da reunião. O professor também teria sido chamado. Depois disso, nada mais foi feito. Desde o começo do mês, a 7ª CRE está sob nova gestão. Conforme a Seduc, a coordenadoria, assim que soube do caso, em março, deveria ter aberto sindicância e repassado o assunto para a secretaria.
Conforme a Seduc, Zanella ingressou no Instituto Assis Brasil em 1992 e alternou funções como diretor, vice-diretor e professor de matemática. Esteve na direção entre 1995 e 1999 e entre 2017 e 2018. Nos relatos reunidos até agora pela polícia, estão descritas situações de abuso sexual e assédio que teriam ocorrido em 2006, em 2011, em 2012 e de 2016 a 2019.
Ainda conforme a secretaria, a licença-saúde do professor tem validade até 17 de outubro, mas esse afastamento será reavaliado na sindicância que está em andamento.
Contrapontos
O que diz a Secretaria de Educação
"Considerando que a Seduc é dividida em 30 Coordenadorias Regionais, as quais são responsáveis pelas escolas de sua abrangência, bem como que cabe à autoridade que tiver ciência de irregularidade a adoção de providências e apuração imediata, sob pena de tornar corresponsável, nos termos do art 198 da LC n 10.098/94, a CRE tem o dever de realizar sindicância administrativa em relação a fatos ocorridos no âmbito de estabelecimentos de ensino de sua abrangência. Segundo o art. 201 da referida Lei Complementar, toda autoridade estadual é competente para, no âmbito da jurisdição do órgão sob sua chefia, determinar a realização de sindicância."
O que diz a direção da escola
O diretor Luis Carlos Dallamaria disse que adotou as medidas necessárias e que não deve explicações à imprensa.