Uma operação policial prendeu nesta sexta-feira (26) 18 pessoas suspeitas de integrar uma organização criminosa que roubava, clonava e vendia pela internet os carros adulterados. Segundo a polícia, o esquema era liderado por Fernando Martins Marques, 41 anos, condenado a 107 anos de prisão e detento da Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc).
Durante a manhã, mais de 170 policiais civis cumpriram 89 ordens judiciais em 10 cidades da Região Metropolitana e do Vale do Sinos, além de Charqueadas. Escuta obtida com autorização da Justiça, durante a investigação, mostra o detento, de dentro da Pasc, conversando com a companheira, Cristiane da Silva Dallagnol, 32 anos — que foi presa preventivamente nesta sexta — sobre dois carros roubados que seriam oferecidos a novas vítimas:
— Importante que eu consegui combinar com uma vítima ali uma SUV boa e acabei de pegar um Ka branco lá também.
Em outro áudio, o preso afirma ser um capitão do Exército, morador de Brasília, e negocia um carro roubado e adulterado com uma potencial vítima do golpe:
Fernando Martins Marques tem antecedentes por tentativa de homicídio, roubo qualificado e com vítima ferida, roubo a estabelecimento comercial, três estelionatos, receptação qualificada, formação de quadrilha, porte ilegal de arma, falsificação de documentos públicos, uso de documentos falsos, clonagem, ameaça e lesão corporal.
Em 2005, ele fugiu do Foro do Sarandi, na zona norte da Capital, durante uma audiência, após pegar uma arma que alguém deixou para ele no banheiro do local e render um agente penitenciário. Em 2014, foi apontado pela polícia por aplicar o golpe do aluguel e do falso emprego, com mais de 100 vítimas, de dentro do Presídio Central.
Conforme a investigação, Marques teria lucrado mais de R$ 1 milhão com o esquema em dois anos. No período, a organização teria negociado mais de 40 veículos roubados — dos quais 19 já foram recuperados.
A chamada Operação Errores foi deflagrada pela Delegacia de Roubos de Veículos do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) e cumpriu mandados em Porto Alegre, Gravataí, Cachoeirinha, Alvorada, Charqueadas, Sapiranga, Viamão, São Leopoldo, Novo Hamburgo e Canoas.
GaúchaZH tenta contato com a defesa de Cristiane da Silva Dallagnol. Segundo o delegado Rafael Liedtke, a mulher foi encaminhada para a delegacia e até as 17h30min não tinha prestado depoimento. Ainda conforme Liedtke, os presos estão sendo acompanhados por advogados.
O esquema
O delegado Rafael Liedtke, um dos coordenadores da operação, diz que o esquema tinha subdivisões, com integrantes tendo funções específicas, mas todos ligados ao preso da Pasc, à companheira e ao sogro dele, moradores da Capital.
— A primeira vítima é a pessoa que tem o carro roubado e, depois, a que tem placas clonadas. A última é a que compra um veículo adulterado e percebe o golpe, assim como o prejuízo, só depois que vai fazer a vistoria no Detran — explicou.
Conforme a investigação, o preso Fernando Martins Marques e um comparsa — que também é alvo da polícia — comandariam um grupo de criminosos que se especializou apenas no roubo de carros à mão armada. Eles eram selecionados pelo detento e atuavam em toda a Região Metropolitana e no Vale do Sinos.
Após os crimes, os ladrões entregavam os veículos para os integrantes da quadrilha responsáveis pela adulteração de sinais identificadores no motor, chassi e vidro, além das placas. Outro grupo ficaria com a responsabilidade de falsificar os documentos dos automóveis — tudo sob o comando do preso.
Depois, os carros eram revendidos para outros criminosos ou para receptadores, com valores sempre abaixo do preço de mercado. Parte dos veículos era anunciada nas redes sociais, e o próprio preso montava os anúncios e atendia ligações telefônicas ou enviava mensagens via WhatsApp.