
Da mesma forma que atraem consumidores, os celulares também se mantêm como artigos desejados no mundo do crime. Em Porto Alegre, nos últimos cinco anos, houve aumento de 46% nos roubos e furtos dos equipamentos. De janeiro a maio deste ano, foram 2.357 casos — o mesmo período de 2013 teve 1.607 ocorrências.
Até maio, em média, 15 celulares foram furtados ou roubados por dia em Porto Alegre. Há cinco anos, eram 10 aparelhos levados diariamente. Os dados, informados pela Polícia Civil, refletem realidade sentida por quem tem medo de ser nova vítima e por quem tenta combater esse tipo de crime. Somente na área da 17ª Delegacia de Polícia, na Rua Voluntários da Pátria, onde circulam milhares de pessoas, foram quase 500 ocorrências neste ano.
— Quem comete esse crime são pessoas especializadas. Tem vários grupos que ficam no Centro circulando e esperando uma pessoa desatenta. Quem furta, já tem para quem largar. Não vai furtar celular e pesquisar quem quer comprar. É um exército para o crime — afirma o delegado Fernando Soares, responsável pela 17ª DP.
Na delegacia, policiais acumulam dezenas de caixas e sacos plásticos lotados de celulares e carcaças de aparelhos. O material, recolhido nos últimos seis meses, expõe a dificuldade que a polícia tem de localizar as vítimas. Ao contrário de outros bens, como automóveis, onde é possível conferir pela placa se o veículo foi roubado, no caso dos celulares, essa descoberta é mais complexa. É preciso fazer pedido às operadoras para que informem o nome que consta no cadastro. Somente no ano passado, 350 pessoas foram indiciadas por receptação desses equipamentos na área da delegacia, mas o delegado acredita que a ação poderia ser mais eficaz, com banco de dados que permitisse identificar o proprietário do aparelho.
— No momento que abordamos alguém que está vendendo celular, não temos um sistema que mostre que é produto de crime, presumimos. Se não consegue comprovar a origem, apreendemos. Faço o indiciamento por receptação e aguardo o retorno das operadoras, mas isso pode levar meses. Se tivéssemos um cadastro atualizado, poderíamos prendê-los em flagrante — argumenta.
Justamente nesses últimos cinco anos é que no Brasil os smartphones dominaram o mercado. E eles são muito mais atrativos para quem rouba, por conta do valor.
EDUARDO TUDE
Presidente da Teleco, consultoria especializada em telecomunicações
Presidente da Teleco, consultoria especializada em telecomunicações, Eduardo Tude afirma que o aumento dos casos de roubos e furtos se dá por conta do tipo de aparelho que hoje é comprado, com valores superiores aos de 2013.
— As pessoas saíram de um celular de voz, muito mais barato, e foram para o smartphone, que é muito mais caro. Justamente nesses últimos cinco anos é que no Brasil os smartphones dominaram o mercado. E eles são muito mais atrativos para quem rouba, por conta do valor — afirma.
Comandante do 9º Batalhão de Polícia Militar (BPM), tenente-coronel Rodrigo Mohr Picon, afirma que a Brigada tenta inibir a ação dos criminosos com a circulação regular de policiais nas áreas conhecidas pela venda de produtos roubados.
— Nosso objetivo é mantê-los sob tensão. Quando veem o bonezinho branco, recolhem as mesinhas com os celulares e se mandam. Mas sabemos que, dificilmente, só a ação policial vai conseguir resolver o problema. Eles têm lucro porque as pessoas compram, sem se importar com a origem, mesmo sabendo que podem ser as próximas vítimas. É enxugar gelo.
Revendidos pela metade do preço
Assim como evidenciam o aumento das ocorrências, os dados também indicam que criminosos estão mais violentos. Os roubos, que são os casos em que há emprego de violência ou ameaça, tiveram crescimento de 130% em comparação com os cinco primeiros meses de 2013. Os furtos aumentaram 19%.
— Em alguns casos, agridem a vítima para que ela se distraia. Enquanto está preocupada com a agressão, outro criminoso está levando o aparelho — afirma o delegado Soares.
Nessas ações, ladrões costumam agir em grupos de três a quatro pessoas, com funções definidas.
— Um empurra, outro pega o celular e passa para um terceiro. Um quarto vem ali conversar com a vítima, fingir que está preocupado, para tirar a atenção dela. Em três minutos, todo mundo some do local, inclusive aquele que te ofereceu ajuda. É uma ação que beira o perfil do estelionatário — avalia o policial.
Além dos assaltantes, o esquema inclui técnicos responsáveis por fazer a limpeza de dados dos aparelhos e receptadores, que farão a venda do celular ou das peças. Ao longo da Voluntários da Pátria e da Rua Júlio de Castilhos é possível encontrar pessoas vendendo aparelhos sobre caixas de papelão, por preços que não chegam a metade do valor do celular no mercado. Mas o comércio não ocorre somente nas ruas.
— Muitas vezes recuperamos na mão de terceiros, que compraram em alguma loja, aparentemente idônea, e até com recibo. A pessoa não imagina que está comprando aparelho roubado, pensa que é usado e por isso tem preço baixo. É um comércio clandestino muito forte — afirma o delegado César Carrion, responsável pela 2ª Delegacia de Polícia, localizada no Menino Deus.
A importância do Imei
Todo celular possui código único, que permite identificá-lo: o Imei. Para saber o número do seu, basta digitar *#06#. É importante armazenar essa sequência. Em caso de roubo, deve ser informado à polícia. Isso permite que o aparelho seja identificado e rastreado.
Como se proteger
De roubos e furtos:
- Criminosos procuram vítimas que pareçam vulneráveis. Segundo a polícia, pessoas circulando sozinhas, mulheres, adolescentes e idosos estão entre os principais alvos. O alerta vale para todos, mas quem estiver nesses grupos deve redobrar os cuidados.
- Evite ficar distraído ao celular em locais aberto com grande circulação de pessoas ou em paradas de ônibus. É nesse momento de distração que os ladrões costumam agir.
- Caso precise atender uma ligação urgente, procure entrar em prédios como comércios ou órgãos públicos.

- Nunca deixe o aparelho em locais acessíveis como o bolso traseiro da calça ou bolsos externos de mochilas.
- Mesmo em locais fechados, como shoppings e restaurantes, os aparelhos devem permanecer guardados.
- Mantenha bolsas e mochilas próximas e em locais visíveis.
- Em caso de assalto, não reaja, entregue o celular e informe a polícia assim que possível.
Ao comprar:
- Desconfie de valores abaixo do mercado. Celulares furtados ou roubados, que no mercado custam, R$ 3 mil podem ser encontrados no mercado ilegal por R$ 300,00 a R$ 500,00.
- Caso o vendedor argumente que é um produto usado, exija a entrega da nota fiscal do aparelho.
- Compras pela internet devem ser feitas em sites conhecidos e recomendados.
- Habilite o telefone ainda na loja. É nessa hora que muitos compradores descobrem que o aparelho está bloqueado por roubo ou furto.
- Quem compra aparelhos roubados, se for descoberto, no mínimo perderá o valor pago, já que terá o celular apreendido e ainda pode responder criminalmente. Portanto, não se arrisque.
Fontes: Brigada Militar e Polícia Civil