Uma mesma quadrilha é apontada pela Polícia Civil por seis ataques a grandes redes de lojas no Litoral Norte em um intervalo de menos de dois meses. Conforme a investigação, de cinco a 10 homens integram o grupo, que seria responsável por crimes em Arroio do Sal, Capão da Canoa, Terra de Areia, Três Cachoeiras e Xangri-lá.
O objetivo principal dos criminosos seria pegar os smartphones que ficam em balcões envidraçados, mas outros itens de tecnologia não são descartados. Os investigadores dizem que parte dos bandidos vai até um vendedor, se passando por cliente, enquanto outra vai até o balcão de telefonia. Na parte de fora, um dos assaltantes fica como um segurança, impedindo a entrada e saída de clientes ou até mesmo da polícia. Depois anunciam o roubo, que acontece de maneira ágil, pegando os pertences. Na fuga, usam um veículo sedan escuro,ainda não identificado pela polícia.
Em um dos casos, no dia 12 de setembro, o gerente da loja Lebes de Arroio do Sal foi sequestrado pelos bandidos. Ele estava em casa, com um casal, quando foi surpreendido por cinco assaltantes armados. O gerente teve de entregar o carro dele. O veículo foi usado para levar as três vítimas até a loja, onde, do lado de fora, um Cruze com os demais membros do grupo aguardava. Foram roubados celulares, notebooks e televisores.
O crime mais recente ocorreu na tarde de quinta-feira (28), em Três Cachoeiras. Os bandidos levaram uma grande quantidade de telefones da loja Benoit após render e ameaçar funcionários. Segundo o delegado Celso Jaeger, que investiga parte dos casos, o grupo agiu com violência.
— Eles são muito perigosos, sempre agem com pistolas e revólveres. No último assalto, tinha um brigadiano como cliente e, por sorte, não foi revistado — conta o delegado, lembrando que os bandidos poderiam atirar contra as vítimas.
A sequência de violência vem assustando também os funcionários das redes de lojas. O supervisor comercial da Benoit do Litoral Norte, Nilson Nyland, conta que há funcionários pensando em se demitir por causa dos ataques.
— É uma sensação de impotência total. Não só por causa dos crimes, que nos deixam prejuízo expressivo, mas os funcionários ficam muito abalados. Alguns, com enorme sensação de tristeza, pensam em largar o trabalho — revela o supervisor.
Nyland descreve a forma de agir dos bandidos. Segundo ele, as ameaças são constantes.
— Muita agressividade, alguns trancos, empurrões. Através do medo, eles inibem qualquer tentativa de comunicação com a Brigada Militar — diz.
Suspeitos já foram identificados
A Polícia Civil diz que dois dos criminosos já foram identificados em uma investigação conjunta entre as delegacias da região. Eles são jovens e moradores de outras regiões do estado, e teriam se especializado nesse tipo de roubo. A polícia ainda não revela o nome deles. Os investigadores acreditam que a quadrilha esteja trazendo os smartphones para revender no Centro de Porto Alegre.
Comerciantes da região reclamam do tempo de resposta da Brigada Militar. Segundo um deles, que prefere não se identificar, a polícia costuma demorar a chegar nas lojas após os roubos. A deficiência é reconhecida pelo comandante do policiamento no Litoral Norte, coronel Ricardo Cardoso. O oficial confessa que, em Terra de Areia e Três Cachoeiras, o policiamento é dividido com outras três cidades por falta de efetivo, e que os moradores das cidades não estavam acostumados com situação de violência.
— São cidades pequenas e pacatas, mas de um tempo para cá com a questão da insegurança começou a dar esse tipo de problema. Foge da rotina deles (moradores) — comenta Cardoso.
O coronel alega que pede com frequência o reforço de efetivo de Porto Alegre e que operações estão sendo realizadas para amenizar a sensação de insegurança. Ele cita a chamada "Operação Fecha Quartel", em que todos os soldados vão para a rua, como uma das medidas tomadas recentemente. O oficial afirma, também, que vem aumentando o contato com moradores por meio de aplicativos para agilizar o tempo de resposta a ocorrências.