A marca do assassinato de pai, filhos e genro em Carazinho, no norte do Estado, foi a violência. Conforme a Polícia Civil, os quatro homens foram agredidos e obrigados a ficar de joelhos antes de serem executados a tiros na madrugada desta quinta-feira (31).
De acordo com a delegada Rita De Carli, Luiz Fernando Silveira Fagundes, conhecido como Burro, 43 anos, seria o dono do estabelecimento onde o crime ocorreu, pouco depois da meia-noite. O bar, montado em uma casa de madeira, com uma varanda improvisada com mesa de sinuca, fica no trecho de chão batido da Rua Fernando Ferrari, no bairro Santa Terezinha. O estabelecimento havia sido aberto há cerca de duas semanas.
Além de Fagundes, seus dois filhos – Luiz Fernando Silveira Fagundes Junior, o Shrek, 18 anos, e Lucas Pinheiro Fagundes, o Burrinho, 22 anos – e o genro Roberto dos Santos, conhecido como Coxengo, 36 anos, que acabaram mortos, estavam no local duas mulheres. Elas eram companheiras de duas das vítimas e já prestaram depoimento à polícia.
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– Os criminosos teriam mandado que elas entrassem na casa enquanto agrediam com socos e pontapés os homens. Depois, elas ouviram os tiros – conta a delegada.
No entanto, as testemunhas não teriam indicado nenhum indício que pudesse levar à identificação dos criminosos – a polícia ainda apura se eram quatro ou dois homens encapuzados e armados, pois o número varia conforme os relatos.
– Elas (as mulheres) não indicaram outras testemunhas, inimizades ou suspeitos, nada que pudesse levar a uma execução. Inicialmente, os criminosos teriam pedido dinheiro, mas, pela violência e pela cena do crime, não acreditamos em latrocínio (roubo com morte) – esclarece Rita.
A chacina ocorreu a cerca de 50 metros de um colégio. Com cerca de 180 alunos de Ensino Fundamental, a Escola Municipal Políbio do Valle amanheceu assustada com a violência.
Uma funcionária, que prefere não se identificar, conta que muitos estudantes faltaram às aulas e diversos pais procuraram a escola, assustados.
– Todos aqui são parentes ou conhecidos. Todas as crianças do bairro estudam aqui e, inclusive, o Shrek (uma das vítimas) se formou aqui há uns dois anos – conta a servidora. – Era um guri muito bacana. Conhecíamos toda a família. Gente boa, mas a gente nunca sabe tudo sobre todos.
Ainda conforme ela, o bairro é de classe baixa e média e, assim como outras regiões de Carazinho, lida com a violência, principalmente pelo tráfico de drogas.
– Já tivemos vários assassinatos no entorno. No ano passado foi de um lado da escola, outro ano foi do outro lado – lembra.
Conforme a delegada Rita, as vítimas não tinham antecedentes ligados ao tráfico. Alguns deles têm passagens por crimes de menor gravidade, como lesão e ameaça. Por isso, afirma, todas as hipóteses de investigação serão levadas em conta.
Os criminosos teriam fugido a pé e, até as 11h, ninguém havia sido preso.
Histórico de chacinas
Esta foi a terceira chacina do ano no interior do Estado.
Em junho, quatro pessoas foram mortas com pelo menos 40 tiros e tiveram os corpos carbonizados em uma casa do bairro Progresso, em Caxias do Sul. A polícia constatou que se tratava de um crime relacionado às disputas pelo controle do tráfico na cidade da Serra.
No mês seguinte, cinco pessoas foram executadas em uma casa no bairro Indianópolis, em Tramandaí. Outras duas pessoas ficaram feridas no ataque a tiros. Conforme a investigação policial, o principal alvo dos criminosos era o dono do imóvel que serviria como ponto de tráfico no Litoral Norte.
Na Região Metropolitana, já foram registradas pelo menos 10 chacinas desde o começo de 2017.
*colaborou Eduardo Torres