Chamado para apartar uma briga entre dois adolescentes na Escola Municipal Osvaldo Bastos, em Osório, um PM acabou surpreendendo a todos ao agredir com um tapa no rosto um estudante de 12 anos na frente de toda a turma. A Polícia Civil e a Brigada Militar abriram investigações para apurar o caso.
Conforme o diretor da instituição de ensino, Luciano Pereira, as aulas foram interrompidas na manhã de quarta-feira em uma das turmas devido a um confronto entre dois estudantes, ambos de 13 anos. Inicialmente, a direção tentou acionar o Conselho Tutelar, mas os servidores alegaram que estavam impossibilitados de ir ao local. Luciano, então, contatou a Brigada.
– Os PMs vieram e apartaram a briga sem problema algum. Então, os convidamos a conversar com a turma da qual fazem parte os dois que estavam brigando. A ideia era de que eles dessem conselhos para que os estudantes não se envolvam em coisas erradas – disse.
Leia mais:
Operação policial desarticula rede de tele-entrega de drogas em Porto Alegre
Presos integrantes de facção que montou supermercado para revender produtos roubados
Ainda conforme o diretor, enquanto um dos PMs falava, um aluno de 12 anos sorriu. A atitude foi considerada deboche pelo policial, que chamou o aluno à frente da classe.
– Fui falar com o outro PM para que ele pedisse ao colega que não pegasse tão pesado, pois estava expondo o aluno. Antes que terminasse de falar, ouvi o estalo do tapa que deu no aluno – contou o diretor.
Ao saírem da escola, os PMs foram à 1ª Delegacia de Polícia Civil (1ª DP) do município e registraram ocorrência por suposto desacato de parte do estudante. Uma professora que testemunhou a agressão também procurou a DP, mas o policial plantonista alegou que não era necessária nova ocorrência, devido ao registro anterior.
– Com a mesma ocorrência, vamos apurar todos os fatos acontecidos. Investigaremos em relação ao estudante um possível ato infracional por desacato, e do policial militar, se houve o abuso de poder e se resultou em agressão – explicou o titular da 1ª DP, delegado Peterson Benitez.
O comando do 8º Batalhão de Polícia Militar (8º BPM), que atende o município, adotou providências. A primeira delas foi a de ouvir os envolvidos no caso e transferir o soldado autor da agressão para função administrativa, tirando ele do policiamento ostensivo.
– Já procuramos a direção da escola e a Secretaria de Educação. Tão logo tomamos conhecimento, remanejamos o policial para outra função. Foi um caso isolado, que não reflete o trabalho de prevenção que realizamos junto às escolas pela não-violência. Estamos apurando o caso e daremos resposta – disse o comandante do 8º BPM, tenente-coronel Luís Link.
"Partiu de quem deveria evitar"
A atitude do policial surpreendeu especialistas em educação e em violência escolar. Para a orientadora educacional Cassia Silva Gonçalves, além de traumas no agredido e em seus colegas, a atitude acaba fazendo com que o PM perca a sua autoridade.
– A violência partiu justamente de quem deveria estar falando em como evitá-la. Esse caso me faz lembrar frases como “a palmada é a falência da palavra” e “violência gera violência”.
Reação contrária
A pedagoga Denise Soares Miguel, autora de trabalhos sobre violência escolar, acredita que os reflexos do caso acabam atingindo toda a comunidade.
– O policial militar está representando uma instituição e, na medida que essa instituição pratica um ato contra o qual ela deveria agir, a cena acaba provocando uma reação contrária na comunidade – afirma.