Cultivar uma rotina de exercícios para as crianças é fundamental - porém nem sempre fácil. Manter os três filhos fisicamente ativos demanda uma boa ginástica para a policial federal Aletea Vega Marona Kunde, 42 anos. Quando colocou Vitório, hoje com oito anos, no futebol, não teve jeito de ele gostar – para a infelicidade do pai, aficionado pelo esporte. Matriculou os gêmeos João Inácio e Camilo (hoje com cinco anos) na natação ainda quando bebês, mas, por volta dos dois anos, eles começaram a encrencar. Hoje, o trio pratica judô. Se quiserem mudar de esporte, haverá negociação, mas parar de se exercitar está fora de cogitação.
— A combinação que a gente tem é de que eles vão fazer uma atividade física — diz a mãe.
Para o professor de Educação Física Rodrigo Flores Sartori, quando a criança quer desistir de algum esporte, antes de tirá-la da modalidade, o ideal é conversar com o instrutor sobre possíveis estratégias para tornar a prática mais interessante. Outro fator importante para estimular a realização de exercícios é o exemplo que vem de casa.
— Os pais têm de praticar. Jogar com o filho é a melhor coisa. Vai a um espaço livre, troca uma bola, brinca de correr. Os modelos passam a ter papel fundamental no desenvolvimento do prazer da criança pela prática — recomenda Sartori.
Como ajudar os filhos a se mexer
*Converse com o pediatra sobre como ajudá-lo a aumentar a prática de atividade física e ser fisicamente ativo;
*Estimule seus filhos a brincar ao ar livre sempre que possível. Brincar faz parte da infância e é fundamental para o crescimento e o desenvolvimento saudável, incluindo aspectos cognitivos;
*Estimule e permita que seus filhos participem de jogos e esportes da escola e da comunidade onde vivem;
*Se as condições de segurança permitirem, estimule e permita que seu filho se desloque até a escola a pé ou de bicicleta em vez de ônibus ou carro;
*Incentive seu filho a participar das atividades domésticas. Podem ser coisas simples, como arrumar seus próprios brinquedos, organizar os livros, arrumar a cama, varrer a casa ou levar a roupa suja até a lavanderia;
*Esteja atento ao tempo em que seus filhos permanecem em atividades sedentárias. Evite que eles passem mais que duas horas por dia sentados, seja assistindo a televisão, jogando videogame ou no computador;
*Cuidado com o estímulo desigual para a prática de atividades físicas entre gêneros. Nossa sociedade ainda tende a incentivar mais os meninos. Repense sua postura e dê iguais condições para que tanto os meninos quanto as meninas possam ser fisicamente ativos.
Fonte: Manual de orientação do Grupo de Trabalho em Atividade Física da Sociedade Brasileira de Pediatria
As recomendações para cada faixa etária
0 a 2 anos
1) Bebês recém-nascidos devem ser incentivados a serem ativos, mesmo que por curtos períodos, várias vezes ao dia. A pediatra Aline Friedrichs de Souza indica estímulos de cinco minutos após a amamentação.
— O que a gente faz de rotina é trocar a fralda, dar de mamá e deixar em cima do trocador, ou na cama, estimulando-o a interagir com algum brinquedinho colorido — comenta a pediatra.
2) Crianças que ainda não engatinham devem ser encorajadas a serem ativas alcançando, segurando, puxando e empurrando, movendo a cabeça, corpo e membros nas rotinas diárias e durante atividades supervisionadas no chão.
3) Bebês que conseguem engatinhar podem ser estimulados com a colocação de algum objeto de interesse a sua frente ou então incentivados a ultrapassar obstáculos como uma almofada.
4) Crianças que conseguem andar sozinhas devem ser fisicamente estimuladas todos os dias por pelo menos 180 minutos, em atividades que podem ser fracionadas. Dá para incluir práticas leves, como ficar de pé, movendo-se, rolando e brincando, além de outras mais energéticas, como saltar, pular e correr.
5) Crianças dessa faixa etária não devem permanecer por longos períodos em comportamentos sedentários, que é o tempo em que as crianças estão fazendo muito pouco movimento físico, como passear de carro ou ficar no carrinho de bebê.
6) Até os dois anos de vida, recomenda-se que o tempo de tela (TV, tablet, celular, jogos eletrônicos) seja zero.
3 a 5 anos
1) Crianças dessa faixa devem acumular ao menos 180 minutos de atividade física distribuídos ao longo do dia, incluindo uma variedade de exercícios em diferentes ambientes e que desenvolvam a coordenação motora.
2) Brincadeiras ativas, como andar de bicicleta, atividades na água, jogos de perseguir e jogos com bola são as melhores maneiras para essas crianças se movimentarem.
3) Atividades físicas estruturadas, como natação, danças, judô, entre outras, também podem ser paulatinamente incluídas. Aline ressalva que nesse estágio ainda não é indicado cunho competitivo:
– Tem de respeitar a criança e não pressionar, pois ela pode até desenvolver ansiedade.
4) Comportamentos sedentários devem ser fortemente evitados. Recomenda-se que o tempo de tela seja limitado a duas horas por dia, não consecutivas.
6 anos ou mais
1) Crianças e adolescentes devem acumular pelo menos 60 minutos diários de atividades físicas de intensidade moderada a vigorosa. São aquelas que fazem a respiração acelerar e o coração bater mais rápido, tais como pedalar, nadar, brincar em um playground, correr, saltar e outros movimentos que tenham, no mínimo, a intensidade de uma caminhada.
2) Exercícios de intensidade vigorosa, incluindo aqueles capazes de fortalecer músculos e ossos, devem ser realizados em, pelo menos, três dias por semana. Eles podem ser não estruturados, como brincadeiras que incluam saltos, atividades de empurrar, puxar, e apoiando ou suportando o próprio peso corporal.
3) Atividades de flexibilidade envolvendo os principais movimentos articulares devem ser realizadas pelo menos três vezes por semana.
4) De forma geral, Aline indica esportes competitivos, com cobrança de rendimento, apenas a partir dos nove anos de idade.
5) Assim como para crianças de três a cinco anos, comportamentos sedentários devem ser evitados, e recomenda-se que o tempo de tela seja limitado em duas horas por dia, sendo que quanto menos tempo gasto frente às telas será melhor. Esse limite não deve levar em consideração o tempo destinado ao uso de computador para realização de tarefas escolares.
IMPORTANTE:
Essas diretrizes são relevantes para todas as crianças e adolescentes, a menos que condições médicas específicas individuais indiquem outro procedimento.
E O FUTEBOL?
Paixão dos brasileiros, o futebol pode ser mais uma brincadeira a partir do momento em que a criança consiga andar e chutar. Para competição, é melhor esperar os nove anos de idade.
Fonte: Manual de Orientação do Grupo de Trabalho em Atividade Física da Sociedade Brasileira de Pediatria, com informações da pediatra Aline Friedrichs de Souza