Sonhada por muitas mulheres, a gravidez pode reservar algumas surpresas nada desejadas. É o caso de doenças que aparecem durante a gestação, mas tendem a desaparecer após o nascimento do bebê. De acordo com a ginecologista e obstetra Ivete Teixeira Canti, coordenadora do Setor de Gestação de Alto Risco e Medicina Fetal do Hospital Conceição, de 10% a 15% das futuras mães apresentam complicações no período. Os quadros mais prevalentes, segundo Ivete, são os de hipertensão (pré-eclâmpsia), diabetes e infecções do trato urinário.
Identificar essas alterações no pré-natal é fundamental para evitar questões mais graves, que vão desde morte materna, fetal ou neonatal até problemas de desenvolvimento do recém-nascido. Saiba mais sobre as principais doenças gestacionais, como identificá-las e tratá-las.
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Diabetes gestacional
Assim como diabetes tipo 2, o gestacional está em crescimento no país. De acordo com a chefe do Centro Obstétrico do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Maria Lúcia Oppermann, a explicação está no aumento da obesidade, que tem relação íntima com a doença.
Caracterizada por uma glicemia maior ou igual a 92 mg/dL em jejum, a enfermidade é exclusiva da gestação – fora da gravidez, são considerados diabéticos aqueles que apresentam glicemia a partir de 126 mg/dL em jejum – e tende a desaparecer após o nascimento do bebê. Entretanto, é sabido que ter diabetes gestacional é fator de risco para o desenvolvimento do diabetes tipo 2.
O problema ocorre por conta dos hormônios liberados no período, explica a ginecologista e obstetra Ivete Canti:
– Uma mulher predisposta, quando o organismo não consegue dar conta de toda a glicose, pode desenvolver a doença. Mas, geralmente, ocorre em obesas.
Mais problemática para o bebê do que para a mãe, a doença aumenta a necessidade de recorrer à cesárea, pois a criança tende a nascer pesando mais de quatro quilos.
– Os bebês podem ter mais dificuldade respiratória em função do amadurecimento atrasado dos pulmões e têm risco de hipoglicemia. Além disso, recém-nascidos obesos têm mais risco de desenvolver doenças cardiovasculares e até mesmo obesidade no futuro – alerta o obstetra do Hospital Moinhos de Vento Cristiano Salazar, que trabalha com gestações de alto risco.
É bom lembrar que, diferente de bebês grandes por questões genéticas, os filhos de diabéticas têm mais gordura na composição corporal, especialmente nos ombros.
A doença aparece depois das 24 ou 28 semanas de gestação e, na maioria dos casos, é assintomática. Poucas mulheres apresentam os sintomas clássicos do diabetes tipo 1, que são fome, sede e urina excessivas. Portanto, somente exames frequentes podem apontar o quadro. Dieta, exercícios, controle da glicose e, dependendo do caso, medicamentos, são os tratamentos mais recomendados pelos especialistas. Ter diabetes gestacional aumenta em duas vezes o risco de pré-eclâmpsia, garante Maria Lúcia.
Pré-eclâmpsia
A hipertensão gestacional pode causar uma série de doenças que atingem o feto e a gestante. A mais importante delas é a pré-eclâmpsia, diagnosticada quando a pressão aferida é de 14/9, associada à urina com perda de proteína. Pressão ainda mais alta, acima de 16/11, e alterações nos exames de fígado, plaquetas e rins sinalizam um caso grave da doença, normalmente, relacionado a um pré-natal deficiente ou tardio.
O problema é mais frequente nos últimos dois meses de gestação, mas pode aparecer a partir das 20 semanas, muitas vezes sem sintomas. Dores fortes de cabeça e de estômago, alterações visuais (enxergar pontos brilhantes), mal-estar, náuseas e vômitos são sinais que costumam aparecer quando o quadro já é mais grave. É fundamental procurar um médico.
Para tratar a doença, a única solução é o nascimento do bebê. Na maioria dos casos, a mulher deve ficar hospitalizada e passar por constantes avaliações.
– A paciente deve ficar internada porque é uma doença de evolução imprevisível. E, como não tem cura, espera-se a maturidade mínima do nenê para o seu nascimento – explica Ivete.
A causa do problema é uma incógnita na medicina. O que se sabe é que a pré-eclâmpsia está relacionada a problemas na formação da placenta. Alguns fatores contribuem para a doença: histórico familiar (mãe ou irmã que tiveram o problema) ou da doença em outra gestação, diabetes, obesidade, hipertensão prévia e ser a primeira gravidez de um parceiro.
– Os riscos são maiores na primeira gravidez da mulher com aquele parceiro. Ou seja, se ela tiver três filhos, um com cada companheiro, todas as gestações correm risco – diz Maria Lúcia, acrescentando que o aparecimento da doença é mais comum em mulheres muito jovens e muito velhas.
Depois do parto, a tendência é que a pressão volte ao normal. Mas ainda pode haver piora no quadro da mãe, que deve permanecer internada por alguns dias.
A pré-eclâmpsia é a principal causa de morte materna e fetal do mundo.
Infecções urinárias
Infecções do trato urinário também são comuns no período gestacional.
– Teorias dizem que há relação com a compressão do útero sobre o ureter, com o esvaziamento incompleto da bexiga e com a redução da imunidade na gravidez – diz Salazar.
Fora o desconforto, que ocorre na cistite, por exemplo, outras infecções, como dos rins, podem trazer riscos maiores. Dependendo da evolução do quadro, pode induzir um parto prematuro e até causar a morte da mãe e do bebê. Ardência ao urinar, sensação de que vai urinar, mas faz pouco xixi, dores na região lombar e baixo ventre e febre são indicativos desse tipo de problema.