Passado na máquina, coado ou expresso, o café vai bem da manhã à pausa no meio da tarde. Além do sabor e aroma inconfundíveis, a bebida serve como estimulante e traz inúmeros benefícios para a saúde. Os mais recentes foram apontados por dois estudos que confirmaram: o consumo regular pode ajudar a viver mais. Mas você sabe qual é a melhor idade para iniciar esse hábito? Afinal, criança pode tomar café?
Para o médico pediatra do Hospital São Lucas da PUCRS Délio Kipper, deve-se seguir a regra de não oferecer nada além de leite materno até os seis meses de vida do bebê. Passado esse período, estão permitidas frutas e outros alimentos. Somente depois dos dois anos é que a introdução do café ou de bebidas com cafeína, como chá, chimarrão e refrigerante, é permitida:
– Cafezinho ativa, deixa mais alerta, mas será que as crianças precisam disso? Não há razão dietética para isso, ou seja, não faz falta para a criança – observa.
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A dose também deve ser restrita. Enquanto a medida indicada para adultos é de 400mg de cafeína por dia – o equivalente a duas ou três xícaras de café –, para os pequenos, essa quantidade deve ser bem menor. Kipper afirma que ainda não há muitas pesquisas com esse recorte da infância, mas um estudo canadense indicou que uma medida segura para as crianças é de 25mg de cafeína por dia – algo como uma xícara pequena. Mas preste atenção: isso refere-se à quantidade total da substância, incluindo chás, sucos e refrigerantes.
Cafeína pode ajudar prematuros
Quando consumida em excesso, a cafeína pode gerar ansiedade, inquietação, tremores, batimentos cardíacos irregulares, aumento de pressão, dores de cabeça e problemas para dormir, lista a nutricionista materno infantil Camila Seffrin Martinevski. Além desses sintomas comuns a todas as idades, o consumo exacerbado na infância influencia a absorção de nutrientes fundamentais no desenvolvimento da criança.
– A cafeína pode prejudicar a absorção de cálcio e ferro, que são muito importantes para esta faixa etária. O primeiro tem papel fundamental no crescimento, e o segundo tem como funções o transporte de oxigênio e elétrons para as células, além de integrar os sistemas enzimáticos de diversos tecidos – diz a especialista.
Somam-se a isso problemas de insônia e no esmalte dos dentes. Como quase tudo o que diz respeito à alimentação, vale a regra do equilíbrio.
– A criança, eventualmente, quando vê a família tomando, pede um golinho. Isso não tem problema – indica Kipper.
Embora não tenha recomendação para consumo na infância, um dos usos da cafeína bastante difundido é em casos de prematuridade. Segundo Kipper, a substância é administrada para prematuros que sofrem de apneia, por ser um estimulante do sistema nervoso central e da respiração.
Nesse sentido, uma pesquisa conduzida na Austrália revelou, recentemente, que a cafeína, além de auxiliar os prematuros, não traz prejuízos a longo prazo. Para chegar à conclusão, 142 crianças nascidas com peso inferior a 1,251 quilo foram acompanhadas até os 11 anos. Algumas delas receberam cafeína e outras placebo nas primeiras semanas de vida.
– Descobrimos que o grupo que recebeu cafeína teve mais habilidade para extrair o ar, e os pulmões funcionaram melhor – diz Lex Doyle, professor de pediatria neonatal da University of Melbourne.
Em 2014, outro estudo feito nos Estados Unidos apontou que o tratamento com cafeína não afetou os padrões de sono das crianças com o passar dos anos.