
Quem tem bebê em casa sabe bem: vez ou outra, a hora da amamentação acaba em lambança. Isso porque a maioria das crianças pequenas regurgita parte do leite ingerido, um episódio conhecido como refluxo.
A situação, que gera desconforto e preocupação em muitos pais de primeira viagem, é tratada com tranquilidade pelos médicos. Eles afirmam: refluxo é normal em bebês e, na maioria dos casos, não representa um problema de saúde. Segundo o pediatra José Paulo Ferreira, membro da Sociedade Brasileira de Pediatria, de 60% a 80% das crianças apresentam refluxo fisiológico até os seis meses. A partir do sétimo mês, o percentual cai para 21% e, após o primeiro ano, apenas 5% das crianças continuam com os sintomas.
Por que o ronco não pode ser considerado normal no sono das crianças
O problema pode acometer pessoas de qualquer idade, mas é recorrente em recém-nascidos - principalmente os prematuros - por um motivo simples: nessa fase da vida, o sistema digestivo ainda é imaturo. O esfíncter inferior - uma espécie de válvula localizada entre o esôfago e o estômago - é responsável por conter o conteúdo ingerido na barriga e demora um pouco a funcionar perfeitamente, causando o retorno do alimento. Além disso, a dieta dos recém-nascidos, baseada integralmente em leite, também contribui: alimentos líquidos ou pouco espessos transitam com mais facilidade de lá para cá, entre o estômago e o esôfago.
Não somente considerado normal, o refluxo pode ser interpretado como um mecanismo de defesa do organismo da criança a eventuais exageros durante a mamada.
Pais encontram na internet espaço para dividir experiências sobre a paternidade
- A natureza é esperta. O bebê não sabe o quanto precisa mamar, nem a mãe. Imagine que ele deveria ingerir 100ml de leite, que é o que cabe na sua barriguinha, mas acaba tomando 150ml. Ele não tem o que fazer, tem de botar para fora o resto - explica Ferreira.
Alerta vermelho para alguns sintomas
Em alguns casos, porém, os episódios de vômitos podem se tornar patológicos, configurando o que os médicos chamam de doença do refluxo. É importante estar atento aos sinais do bebê que revelam se o vômito está fora da normalidade - eles são perceptíveis até para leigos.
Bebês com refluxo normal são conhecidos como "vomitadores felizes". Após regurgitar, recompõem-se rapidamente, sem apresentar sinais de incômodo. Por outro lado, há aqueles que demonstram claro desconforto, por meio do choro - durante e após a mamada -, da irritação ou de expressões de dor. Em geral, o vômito também é mais volumoso e a criança pode ter dificuldade para ganhar peso. Se forem percebidos esses sintomas, o alerta vermelho deve ser ligado: é bom consultar um médico.
Como escolher a roupa certa para a temperatura do corpo do bebê
Conforme Ferreira, até 15% das crianças com refluxo têm o tipo patológico. Embora com menor frequência, a doença pode se agravar para quadros de apneia (pausa respiratória), cianose (coloração azulada da pele e das mucosas), tosse e até pneumonia. Se não tratada, também pode causar lesões, devido à constante agressão à mucosa do esôfago pelo conteúdo estomacal ácido.
Phmetria é o nome do exame indicado para o diagnóstico, no qual se insere uma sonda por meio do nariz do bebê até o estômago. Mas o teste não é um procedimento padrão. Normalmente, constata-se a doença apenas pela observação dos sintomas clínicos.
- O exame é invasivo, porque tem de colocar uma sonda no estômago. É indicado nos casos mais graves, como em bebês que têm pausa respiratória, crise de cianose ou pneumonia de aspiração, para se ter uma ideia do grau do refluxo. Existem refluxos gravíssimos, que precisam ser corrigidos cirurgicamente, mas são casos raros - explica a pediatra neonatologista do Hospital Moinhos de Vento Patrícia Martins.
Leia mais notícias sobre família e infância
O tratamento pode variar desde medidas simples, como mudanças posturais na rotina do bebê, até a administração de medicamentos. Também há fórmulas infantis desenvolvidas para evitar o vômito - são substâncias que se tornam mais espessas ao alcançar o estômago. Mas os médicos advertem: não é recomendado trocar o leite materno - considerado o melhor e mais nutritivo alimento para os recém-nascidos - pelas fórmulas antirrefluxo.
- Às vezes, o refluxo é tratado muito mais do que se deveria. O vômito pode causar ansiedade nos pais, nem todo mundo consegue lidar. Temos de ter esse cuidado, saber manejar isso sem usar um tratamento que, em alguns casos, não é necessário - avalia Patrícia.
Para a médica, o melhor remédio para lidar com o problema é a paciência. Com o tempo e o correto desenvolvimento do organismo da criança, os episódios de vômito tendem a se tornar cada vez mais raros.
Como evitar o problema
- Mantenha a criança em posição vertical por pelo menos 15 ou 20 minutos após a mamada. Isso facilita a descida do leite até o estômago. Evite trocar as fraldas, manusear ou agitar o bebê nesse período.
- Espere o bebê arrotar, isso ajuda a eliminar o ar ingerido durante a amamentação. O arroto não necessariamente impede que o bebê vomite, mas pode ajudar.
- Ao deitar a criança, deixe-a de barriga para cima: é a posição que melhor evita o retorno do alimento.
- Durante a amamentação, não há restrições: a mãe deve procurar a posição que for mais confortável para ela e o bebê.
Fonte: Patrícia Martins, pediatra
*Zero Hora