Meus netos gêmeos, hoje com 13 anos, andam cerca de 1,5 quilômetro até a escola e jogam basquete no pátio durante uma hora ou mais na maioria das tardes quando o tempo e as aulas de música permitem.
Os garotos, assim como o pai deles, são esguios, fortes e saudáveis. Os pais deles escolheram viver em Nova York, onde as pernas e o transporte público permitem que eles se locomovam de maneira eficiente, a um baixo custo e com pouco estresse (geralmente).
Eles têm um carro, mas usam quase exclusivamente nas férias. Locomoção "verde" é uma prioridade na minha família. Eu uso minha bicicleta para a maioria das minhas compras e tarefas pelo bairro, e acabo de comprar bicicletas novas para os meus netos. Meu filho trabalhava em Nova Jersey, o que implicava em uma viagem detestável de carro que demorava de 50 a 90 minutos para ir ou vir.
Ele saiu daquele emprego quando os filhos nasceram, e, trabalhando de casa meio período, ele cuidava dos meninos. Agora, vai para o trabalho em Nova York a pé e de metrô, conseguindo tempo para ler por prazer. Como será visto a seguir, as mudanças provavelmente foram boas para a saúde dele também.
Apenas 5% dos americanos usavam transporte público
De acordo com o Departamento de Recenseamento dos Estados Unidos, mais de três quartos das pessoas iam para o trabalho sozinhos, em seus próprios veículos, em 2009.
Apenas 5% deles usaram transporte público, e 2,9% iam a pé. Meros 0,6% iam de bicicleta, embora pedalar tenha finalmente começado a ganhar popularidade conforme cidades como Nova York criam ciclovias e programas de compartilhamento de bicicletas.
No entanto, os trabalhadores não são os únicos dirigindo durante várias horas do dia. O idílio suburbano de meados do século 20 de crianças saindo para brincar com os amigos nos quintais e em ruas seguras deu um alerta para a nova realidade: encontros marcados para brincar, e aulas e atividades organizadas, para as quais as crianças precisam ser levadas e acompanhadas por adultos.
No capítulo propriamente chamado de My Car Knows the Way to Gymnastics (meu carro sabe o caminho até a academia), do novo e profético livro de Leigh Gallagher, The End of the Suburbs (O Fim dos Subúrbios, ainda não lançado no Brasil), ela descreve uma mãe e dona de casa de Massachusetts que dirige mais do que o marido dirige até o trabalho - de 64,4 a 80,5 quilômetros por dia durante a semana - "apenas para levar os filhos para cima e para baixo todos os dias".
Milhões de americanos como ela pagam caro por sua dependência de carros, perdendo horas do dia que seriam melhor aproveitadas fazendo exercícios, socializando com amigos e família, preparando refeições caseiras ou simplesmente dormindo o suficiente. O custo final, tanto à saúde mental quanto à física, com certeza, não é trivial.
A expansão suburbana "causou um enorme estrago à nossa saúde", escreveu Gallagher, editora da revista Fortune. "Há pilhas de pesquisas que estabelecem uma ligação entre a expansão suburbana e o aumento da obesidade no nosso país. Pesquisadores também descobriram que as pessoas se exercitam menos conforme aumenta a distância entre o lugar onde moram, trabalham, fazem compras e socializam.
"Nova-iorquinos, talvez os últimos pedestres, pesam, em média, entre 2,7 e 3,2 kg a menos do que o americano do subúrbio", observou ela.
Mudança de comportamento
Em seu livro, Gallagher reconta alegremente tendências compensatórias: mais famílias jovens estão escolhendo morar nas cidades; menos jovens de 17 anos estão tirando carteira de motorista; as pessoas estão dirigindo menos quilômetros; e o compartilhamento de bicicletas está em alta. Mais casas e comunidades estão sendo planejadas ou reconfiguradas para diminuir os trajetos, reduzir a dependência de carros e facilitar interações positivas com outras pessoas.
Richard Jackson, presidente da área de ciência da saúde ambiental na Universidade da Califórnia, em Los Angeles, diz que as mudanças demográficas estão alimentando o interesse em cidades boas para morar. Membros da geração Y tendem a preferir uma mistura, bairros onde é possível caminhar e trajetos curtos até o trabalho, disse ele, e casais sem filhos e aqueles nascidos no Baby Boom e que não dirigem mais, frequentemente, são a favor dos ambientes urbanos.
Embora ainda haja um longo caminho a percorrer antes que a maioria dos americanos viva em comunidades que fomentem boa saúde, mais planejadores urbanos estão agora fazendo avaliações de impacto na saúde e trabalhando em conjunto com arquitetos, com o objetivo de projetar comunidades mais saudáveis, que dependam menos de veículos motorizados para o transporte.
Pesquisas: tempo gasto dirigindo é ligado ao aumento de riscos de doenças
- Uma pesquisa recente com 4.297 texanos comparou a saúde deles com a distância entre a casa e o trabalho de cada um.
- Conforme a distância aumentava, a atividade física e a aptidão cardiovascular caíam, e a pressão, o peso, a cintura e o risco metabólico aumentavam.
- O relatório, publicado ano passado no Diário Americano de Medicina Preventiva por Christine M. Hoehner e seus colegas da Escola de Medicina da Universidade de Washington, em Saint Louis e o Instituto Cooper, em Dallas, forneceram provas casuais de descobertas anteriores que ligavam o tempo gasto dirigindo com um aumento no risco de morte por doença cardiovascular.
- A pesquisa também revelou que dirigir mais de 16 quilômetros de uma vez, indo e voltando do trabalho, nos cinco dias da semana, foi associado ao aumento do risco de desenvolver hiperglicemia e colesterol alto.
- Os pesquisadores também ligaram os longos trajetos a um maior risco de depressão, ansiedade e isolamento social, fatores que podem prejudicar a qualidade e a duração da vida.
- Um estudo sueco confirmou o alcance internacional destes efeitos. Erika Sandow, da Universidade de Umea, descobriu que pessoas que dirigiam por mais de 48 quilômetros por dia tinham mais tendência a sofrer de pressão alta, estresse e doença cardíaca. Em um segundo estudo, Sandow descobriu que mulheres que moravam a mais de 50 quilômetros do trabalho tendiam a morrer mais cedo do que aquelas que moravam perto do trabalho.
- Independentemente do modo como se chega ao trabalho, ter um emprego longe de casa pode prejudicar a saúde. Outro estudo sueco, conduzido por Erik Hansson, da Universidade Lund, entrevistou mais de 21 mil pessoas entre 18 e 65 anos, e descobriu que, quanto mais tempo elas demoravam no trajeto, seja de carro, metrô ou ônibus, mais reclamações de saúde elas tinham.
Mobilidade e saúde
Tempo gasto dirigindo é ligado ao aumento de riscos de doenças
Pessoas costumam de exercitar menos conforme aumenta a distância até os locais onde ficam seus empregos
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