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A publicidade das empresas fabricantes de cigarros influencia crianças de cinco e seis anos nos países de renda baixa e média, como o Brasil, o que aumenta o risco de se tornarem fumantes, revelou um estudo americano divulgado nesta segunda-feira.
A pesquisa publicada na revista Pediatrics abrangeu seis países: Brasil, China, Índia, Nigéria, Paquistão e Rússia, escolhidos por terem as taxas mais elevadas de tabagismo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Nesses países, as crianças reconhecem com mais frequência pelo menos um logotipo de uma fabricante de cigarros, não necessariamente por morarem com alguém que fuma, destacou o estudo da Escola de Saúde Pública de Johns Hopkins em Baltimore, em Maryland.
- O incrível, para mim, foi ver crianças que não moravam com fumantes, mas eram muito conscientes das marcas de cigarros. O que isso me diz é que as crianças estão recebendo a mensagem em sua comunidade, em seu entorno. Estão vendo em estabelecimentos comerciais, estão vendo cartazes. Quando vão comprar uma bala em uma loja local, elas veem esses logotipos - disse a principal autora do estudo, Dina Borzekowski, da Universidade de Maryland.
Das 2.423 crianças estudadas em seis países, 68% eram capazes de reconhecer ao menos uma marca de cigarros, em um percentual que vai de 50% na Rússia a 86% na China, onde mais de 28% da população fuma (53% dos homens e 2% das mulheres), segundo a pesquisa.
- Na China, em média, as crianças conheciam quase quatro de oito das marcas. Eram crianças pequenas. É incrível que possam reconhecer logotipos com tão pouca idade - disse Borzekowski.
No extremo oposto está a Rússia, onde 50% das crianças estudadas conheciam pelo menos um logotipo de cigarros. No Brasil, 59% das crianças podiam reconhecer uma marca de cigarros.
Os resultados geram preocupação sobre o cumprimento das restrições internacionais da publicidade de tabaco em países de renda baixa e média, de acordo com os autores do estudo.
Mais de um quarto das crianças estudadas foram capazes de identificar de duas a três marcas de cigarros e 18% conheciam quatro ou mais. Também foi perguntado às crianças se pensavam em fumar quando chegassem à idade adulta. A taxa mais alta de respostas afirmativas ocorreu na Índia, onde 30% - tanto meninos quanto meninas - disseram que pensavam em se tornar fumantes.
O estudo foi realizado em áreas urbanas e rurais, com cuidado especial em não refletir apenas a realidade das comunidades mais ricas, onde a consciência da comercialização do tabaco poderia ser maior, afirmaram os pesquisadores. No entanto, eles advertiram que o estudo "pode não refletir as populações nacionais de cada país".
Este estudo e outros semelhantes evidenciam estratégias de marketing sofisticadas e eficazes, adotadas pelas fabricantes de tabaco, cujas mensagens afetam claramente os mais jovens, lamentaram os autores da pesquisa.
Um longo caminho
Embora muitos fatores estejam relacionados com o tabagismo, o estudo mostra que, para os mais jovens, estar exposto ao tabaco e ter uma atitude de aceitação dos anúncios de cigarros está ligado a um aumento da probabilidade de fumar.
Em 2003, a OMS reagiu à epidemia mundial do tabagismo com a adoção de um convênio assinado por 168 países, que aponta para um controle maior, especialmente da publicidade, da promoção e do patrocínio de eventos por parte das fabricantes. Mas segundo os estudiosos, "ainda há um longo caminho para a plena aplicação da presente convenção e suas recomendações".
Um estudo feito nos Estados Unidos há 22 anos demonstrou que crianças de seis anos podiam reconhecer tanto o logotipo da Disney quanto dos cigarros Camel. Essa pesquisa levou a regulamentações da publicidade de tabaco nos Estados Unidos para proteger as crianças, lembraram os cientistas.