Um levantamento feito entre pacientes atendidos pelo Instituto do Câncer de São Paulo (Icesp) mostrou que aproximadamente 70% dos casos de câncer de bexiga, de um total de 2,5 mil doentes, têm relação com o tabagismo. O diagnóstico tardio é um problema da doença, que tem maior incidência entre trabalhadores químicos e motoristas.
De acordo com Marcos Dall' Oglio, coordenador da Urologia do Icesp, os agentes metabólicos do cigarro, que são inalados junto com a sua fumaça, irritam o delicado revestimento do aparelho urinário, chamado urotélio.
- E esse fenômeno irritativo, causado por esses agentes do cigarro, no longo prazo, causa o câncer de bexiga - explica o médico.
Dall' Oglio esclarece que processos irritativos da bexiga, como infecção crônica, elevam os riscos do desenvolvimento do câncer. Entre os sintomas mais importantes estão a sensação de ardência e a vontade de urinar a toda hora. De acordo com ele, cerca de 88% dos casos também apresentam sangue ao urinar.
O levantamento mostrou também que metade dos pacientes com câncer de bexiga iniciam o tratamento após um diagnóstico tardio.
- Talvez, quando surgem os sintomas, a pessoa não procure assistência médica, porque acha que vai melhorar, ou talvez porque tenha tido dificuldade em fazer o diagnóstico - considera Dall' Oglio.
Por apresentar sintomas semelhantes a de outras doenças, como infecção urinária, pedra na bexiga ou, em homens, uma próstata inchada, o câncer de bexiga pode ter o diagnóstico retardado.
-Esses sintomas urinários podem ser motivo, às vezes, de confusão - alerta.
O médico explica que pacientes do sexo masculino são os que sofrem mais com esse tipo de câncer - para cada mulher diagnosticada, existem três homens com o problema.
Prevalência em motoristas e profissionais que lidam com produtos químicos
Outro dado da pesquisa revela que há prevalência da doença em duas profissões: motorista e profissionais que lidam diretamente com produtos químicos. Suspeita-se que o alto número de motoristas com o câncer de bexiga tenha relação com a baixa frequência com que vão ao banheiro e também com a menor ingestão de líquidos.
No caso dos profissionais que lidam com produtos químicos, a exposição prolongada - há mais de dez anos - aumenta o risco de se desenvolver um tumor na bexiga.
- Produtos a base de derivados do petróleo, como plásticos, elementos e produtos de limpeza, têm o papel de exercer um fenômeno irritativo sobre as vias urinária - explica o médico.
Esse contato ocorre por inalação ou manuseio, fazendo com que os derivados químicos sejam absorvidos pelo organismo.
O tratamento do câncer de bexiga, quando a doença é detectada no começo, é feito por meio de cirurgia por dentro do canal da urina, para retirada do tumor.
- Isso quando o tumor é superficial, que não tem uma raiz mais profunda na musculatura da bexiga - explica.
Em caso contrário, o tratamento com maior chance de cura é uma cirurgia mais radical.
- É retirar a bexiga ou fazer radioterapia - conclui.