Depois de oito horas no taxi, tendo que enfrentar o trânsito caótico da Capital, um ou outro passageiro impaciente, e ainda alguns colegas mau-humorados, é no asfalto mesmo que o taxista Ronaldo da Silva Pereira, 31 anos, encontra refúgio. A diferença é que, após o expediente, ele trafega sobre duas rodas.
- Eu precisava despejar a carga de estresse em algum lugar. A bicicleta une liberdade e prazer. É assim que eu desligo do mundo - diz o taxista.
Ronaldo está entre uma minoria de gaúchos economicamente ativos que busca no esporte uma forma de lidar com o estresse do dia a dia. De acordo com uma pesquisa feita em 2011 pelo instituto Isma-BR, especializado em pesquisas sobre estresse e qualidade de vida, 53% dos entrevistados - 650 homens e mulheres com idade entre 25 e 60 anos - usam algum tipo de medicamento, 48% recorrem a bebidas alcoólicas e 41% usam petiscos como forma de gratificação. Somente 28% praticam um exercício físico e 14% buscam refúgio no entretenimento, como cinema ou música.
A psicóloga Ana Maria Rossi, diretora-presidente do Isma-BR, explica que o estresse tem efeitos não apenas psicológicos, mas também fisiológicos. Em pesquisas anteriores feitas pelo instituto, 86% dos executivos relataram dores musculares e de cabeça, 38% distúrbios do sono, 26% problemas gastrointestinais e 13% hipertensão. É isso que leva as pessoas a buscarem estratégias de alívio.
- Para viver melhor, o trabalhador precisa ter outros objetivos de vida que não sejam somente profissionais - sugere Ana Maria.
Taxista há 10 anos, há três Ronaldo começou a pedalar. Em 2010, foi vice-campeão gaúcho no circuito de ciclismo e já representou o Estado no Uruguai. Mais que medalhas e troféus, o ciclismo trouxe a Ronaldo qualidade de vida.
- Não sei mais o que é uma dor nas costas, sou uma pessoa mais calma, mudei minha alimentação... - começa a enumerar.
A rotina é mesmo de atleta: levantar da cama às 3h30min da madrugada para trabalhar no táxi até a hora do almoço, por volta de 11h. Mais umas duas horinhas do trânsito até a hora do descanso. E ainda tem o treinamento. São duas ou três horas de pedaladas diárias, ou 80 a 100 quilômetros rodados.
- Quando termina o treino, parece que minhas pernas estão flutuando. No dia seguinte, acordo super disposto para o trabalho - garante.