
Cerca de 30% de brasileiros convivem com a hipertensão arterial, popularmente conhecida como pressão alta, aponta um levantamento da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas (Vigitel) do Ministério da Saúde. Esse número pode ser ainda maior, já que a condição não se manifesta em sintomas e muitos nem sabem que a possuem.
— É uma doença silenciosa e, muitas vezes, a primeira manifestação clínica que ela vai provocar já é um dano em um órgão alvo, que são os três principais que a hipertensão ataca: cérebro, coração e rins — pontua Eduardo Barbosa, coordenador do Núcleo de Hipertensão do Complexo Hospitalar da Santa Casa de Porto Alegre.
De modo simplificado, a hipertensão pode ser traduzida da seguinte forma: o coração bombeia sangue para o organismo com uma determinada pressão. Se a pressão nesse sistema está acima do ideal, ela pode provocar lesões nos vasos sanguíneos e nos órgãos.
Mesmo em estágios iniciais e até avançados da doença, a pessoa vai vivendo normalmente. Contudo, nesse meio tempo, a condição pode se agravar e fazer com que os tecidos lesionados manifestem reações.
— Algumas pessoas, quando a pressão está realmente muito elevada, entre 180 por 120 (18 por 12) ou 200 por 100 (20 por 10), por exemplo, ou quando ela passou anos com uma pressão não controlada, ela pode começar a ter sintomas das lesões nos órgãos alvo. As pessoas podem referir dor de cabeça, alteração na visão e dor no peito — destaca a médica Carisi Polanczyk, chefe do serviço de Cardiologia do Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre.
Se não há sintoma, como saber se sou hipertenso?
Como é silenciosa, a hipertensão é inicialmente identificada por meio dos tradicionais medidores de pressão. É preciso acompanhar regularmente para verificar possíveis suspeitas, principalmente se há fatores de risco, como: histórico familiar, sedentarismo, tabagismo, obesidade, entre outros.
— É recomendado que toda pessoa acima de 18 anos, quando for em uma consulta médica, medir a pressão. Todo mundo acima de 40 anos, obrigatoriamente, tem que fazer. Se a pressão dá normal, 120 por 80 (12 por 8), a recomendação é repetir a medida em dois ou três anos. Se a pressão estiver mais alta do que isso, todo ano deve ser medida. Para um paciente que é tabagista, é obeso ou diabético, a recomendação é que seja mais frequente ou anual — pontua Carisi Polanczyk.
O médico Eduardo Barbosa recomenda que, de forma geral, a pressão seja aferida uma vez por ano e que sejam feitas três medições, com um intervalo de alguns minutos entre elas. Caso o número atinja ou ultrapasse 13 por 8, é hora de procurar um médico para que ele possa confirmar ou não o diagnóstico.
Diagnóstico
O diagnóstico definitivo não deve considerar apenas os resultados das medidas realizadas em consultórios. Há uma recomendação para que os pacientes também afiram a pressão em casa.
Conforme a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), o profissional de saúde deve considerar a monitorização ambulatorial (MAPA) ou a monitorização residencial (MRPA) da pressão arterial. O primeiro consiste em um dispositivo acoplado no paciente, que faz uma medição em intervalos regulares, enquanto ele realiza suas atividades diárias. O outro se refere à medição com um aparelho validado, mas feita em casa a partir das orientações de um especialista.
A conduta é importante para afastar a tensão que a presença do ambiente ambulatorial pode provocar. Há situações, chamadas de hipertensão do avental branco, em que a pressão está elevada no consultório, mas normal em casa. Há, também, a chamada hipertensão mascarada, em que a pressão está normal no consultório, mas alta fora dele.
Exemplos de consequências
Os sintomas relacionados à hipertensão são uma consequência da pressão não controlada ou de situações em que ela está muito elevada. Quando aparecem, indicam que outra condição já foi estimulada.
Lesão no coração pode provocar insuficiência cardíaca
A pessoa com hipertensão arterial que não faz tratamento poderá sentir dores no peito quando a doença já afetou tecidos do coração. Isso pode ser um indicativo de obstrução das artérias e um risco para infarto. A médica Carisi Polanczyk adiciona:
— Um mecanismo que o coração faz para conseguir vencer a resistência dos vasos: ele acaba crescendo. Chamamos isso de hipertrofia do miocárdio. Ao longo do tempo, isso pode levar a uma falha do coração, a uma insuficiência cardíaca.
Lesão nos rins pode provocar insuficiência renal
Os rins também podem ser afetados. Quando já ocorreu uma lesão nesses órgãos, o corpo pode manifestar retenção de líquido, fadiga persistente e mudanças na urina, sinais de insuficiência renal.
— Vamos supor que causou uma lesão renal: se você não trata a hipertensão, o rim vai perdendo função até que a pessoa vai parar em uma diálise — cita o cardiologista Eduardo Barbosa.
Lesão no cérebro pode provocar AVC
O hipertenso não tratado pode vir a ter danos cerebrais e neurológicos. Dores de cabeça e visão turva são apenas algumas das manifestações iniciais dessas lesões. Esses podem ser os primeiros sinais para a ocorrência de um acidente vascular cerebral (AVC).
O que leva à hipertensão
A cardiologista Carisi Polanczyk afirma que, em 95% dos casos, a hipertensão é uma doença multifatorial. É uma combinação entre pré-disposição genética e aspectos do estilo de vida. Ela pode ser impulsionada pelo consumo alto de sal, obesidade, inatividade e consumo de álcool em excesso, entre outros.
Além disso, existem causas secundárias, que podem estar relacionadas à questões endócrinas, por exemplo.
Tratamento
A hipertensão arterial é classificada como uma doença crônica. O controle envolve a construção de hábitos mais saudáveis e medicamentos.
— A mudança de estilo de vida é a base da terapêutica. Não existe manejo da hipertensão sem a redução do sal, perda peso, atividade física, abandono do tabagismo, de todos os fatores que vão desencadear a hipertensão — afirma o cardiologista Barbosa.
Falta de adesão é um problema no tratamento da hipertensão
Uma das preocupações por parte dos médicos é a falta de adesão ao tratamento. Segundo a médica Carisi, cerca de 1/3 dos hipertensos não fazem o controle adequado. Um dos principais motivos é os efeitos adversos comuns das medicações.
— É uma doença que não te dá sintomas. As pessoas começam a tratar e a ter efeito adverso, por isso que tem abandono de tratamento. Há quem pense: "Não vou tomar isso. Antes eu não tinha nada e comecei a ter sintomas" — exemplifica Eduardo Barbosa.
Se o tratamento não for feito, o paciente fica sujeito aos riscos.
— O paciente precisa entender que isso é uma condição crônica, para o resto da vida. Não há uma cura para pressão alta, há controle. Se ele não toma a medicação, a pressão vai subir — afirma Carisi Polanczyk.
*Produção: Carolina Dill
É assinante, mas ainda não recebe as newsletters com assuntos exclusivos? Clique aqui e inscreva-se para ficar sempre bem informado!