
A relação entre atividade física e vida sexual tem ganhado destaque nas redes sociais, com vídeos virais questionando se exercícios podem aumentar a libido. O tema gerou debate e levantou dúvidas se há essa conexão e sobre quais modalidades podem ser mais benéficas ou maléficas — para o desejo e o desempenho sexual.
Segundo especialistas consultados por Zero Hora, a prática regular de exercícios físicos tem impacto positivo na função sexual, tanto para homens quanto para mulheres. No entanto, a intensidade e a carga dos treinos podem influenciar os resultados.
Enquanto a musculação, especialmente para membros inferiores, pode aumentar a produção de testosterona e melhorar a libido, exercícios aeróbicos quando praticados em excesso podem levar à fadiga e afetar negativamente o desejo sexual.
Exercícios influenciam na libido e no desempenho sexual?
A prática de atividades físicas estimula a liberação de hormônios como dopamina, serotonina e noradrenalina, responsáveis pela sensação de prazer e bem-estar.
Além disso, há um aumento na produção de testosterona, hormônio essencial para a libido, tanto em homens quanto em mulheres.
— Quando começamos a praticar exercícios, o corpo libera uma série de hormônios que influenciam diretamente no desejo sexual e na performance. O aumento da testosterona é especialmente relevante nos homens, e a musculação de membros inferiores, muitas vezes esquecida, é uma das melhores formas de estimular essa produção — explica o médico Yago Fernandes, especialista em endocrinologia e hipertrofia.
Já a ginecologista e sexóloga Juliana de Mattos Ulysséa reforça que a atividade física também melhora a circulação sanguínea, o que impacta diretamente a excitação sexual, a ereção nos homens e a lubrificação nas mulheres.
— Exercícios aeróbicos, como corrida e natação, melhoram a saúde cardiovascular, reduzindo o risco de doenças que podem prejudicar a função sexual, como hipertensão e diabete. A atividade também vai ajudar a regular o cortisol, que tem um efeito negativo na libido e, claro, ajuda a reduzir o estresse e a ansiedade — pontua a especialista.
Diferenças entre homens e mulheres

Embora a atividade física beneficie a libido de ambos os sexos, as mulheres podem ter uma resposta mais complexa.
A produção de testosterona nelas é menor do que nos homens, e a libido feminina é influenciada por múltiplos fatores, como estado emocional, níveis de estresse e autoestima.
— Para as mulheres, o exercício ajuda, mas não é o único fator determinante para o desejo sexual. Ele contribui para o bem-estar geral, reduz o estresse e melhora a autoimagem, o que pode indiretamente aumentar a libido — explica Juliana.
Já nos homens, o impacto tende a ser "mais direto", especialmente quando há um aumento nos níveis de testosterona com exercícios de força.
Existe uma modalidade que estimula mais a libido?
Entre as práticas mais associadas à melhora da vida sexual estão a musculação e os exercícios aeróbicos moderados. A musculação, especialmente para pernas e glúteos, tem um impacto positivo na produção de testosterona, o que pode aumentar a libido masculina.
— Homens que fazem exercícios de força, especialmente para membros inferiores, costumam ter níveis mais altos de testosterona. Nas mulheres, a musculação ajuda na circulação, tonificação muscular e no bem-estar geral, fatores que podem melhorar a disposição para o sexo — afirma o doutor Yago Fernandes.
Já os exercícios aeróbicos, como caminhada, corrida e natação, melhoram a circulação sanguínea, beneficiando a resposta sexual.

Por fim, atividades como ioga e pilates podem auxiliar no fortalecimento do assoalho pélvico, o que contribui para o prazer sexual.
— Exercícios específicos, como os de Kegel ou o pompoarismo, são recomendados para melhorar o controle muscular na região íntima. Quanto mais tu exercita essa musculatura, maior a vascularização, o que facilita a excitação, o prazer, tanto para o homem, quanto para a mulher — indica Juliana.
Há exercícios que devem ser evitados?
Apesar dos benefícios, quando ocorre o excesso de treinamento, pode gerar efeitos indesejados.
Isso porque, segundo a treinadora física Stefani Natus, treinos muito intensos e sem recuperação adequada podem levar ao chamado "overtraining", condição que afeta a produção hormonal e pode reduzir o desejo sexual.
— O excesso de atividade física gera um aumento crônico do cortisol, que, a longo prazo, pode levar à fadiga e até à diminuição da testosterona. Isso acontece principalmente em esportes de resistência extrema, como maratonas e triátlon — alerta Stefani.

O crossfit, por exemplo, não é prejudicial por si só, mas pode ter impacto negativo caso seja praticado de maneira extenuante e sem uma alimentação equilibrada.
— Se a pessoa tem um déficit calórico muito grande e não se recupera adequadamente, ela pode sentir queda na libido e no rendimento sexual — complementa a personal trainer.
E a autoestima?
Além dos benefícios fisiológicos, a prática de exercícios físicos também impacta diretamente na autoestima e na imagem corporal, fatores que influenciam a vida sexual.
— O exercício ajuda a pessoa a se sentir melhor com o próprio corpo, o que pode aumentar a confiança na intimidade. Isso vale para ambos os sexos, mas especialmente para as mulheres, que têm muitas vezes uma relação mais complexa com a autoimagem — afirma Juliana.
A atividade física também melhora a qualidade do sono, fator essencial para a regulação hormonal e o bem-estar geral. Isso porque o cansaço excessivo pode ser um grande inimigo da libido, tornando o descanso tão importante quanto o próprio treino.
No final das contas, o segredo está mesmo no equilíbrio: praticar exercícios regularmente, sem exageros, garantir uma alimentação adequada e respeitar os períodos de descanso são as chaves para colher os benefícios do treino na vida sexual e principalmente — na própria saúde.
*Produção: Murilo Rodrigues