Após realizar tratamentos quimioterápicos e cirúrgicos devido a um câncer de mama, Denise Figueiredo, 69 anos, ainda sofria com dores como consequência da doença.
Em 2008, a médica veterinária aposentada foi orientada pelo oncologista a experimentar a hidroginástica em busca de alívio. Desde então, pratica o exercício aquático rigorosamente. Hoje, define como se sente em quatro palavras:
— Perfeita, maravilhosa, saudável e feliz.
Exercícios físicos são as medidas que mais trazem benefícios para um envelhecimento saudável, estando intimamente ligados à longevidade, afirma Virgílio Olsen, chefe do serviço de Geriatria da Santa Casa de Porto Alegre.
Os exercícios na água, especificamente, como hidroginástica e natação, estão entre os melhores para quem tem mais de 60 anos. Têm tanto um componente de força quanto aeróbico, sem o impacto de atividades como caminhada ou corrida.
— O exercício na água retira esse impacto e é uma boa alternativa para que pessoas com problemas de artrose e dor crônica, por exemplo, mantenham-se ativas — explica Olsen.
Menos risco de quedas
Exercícios aquáticos trabalham as articulações dos idosos de maneira diferente, sendo mais controlados, além de garantir mais segurança, ao diminuir o risco de quedas, aponta Daniel Godoy, professor do setor de atividades aquáticas do Parque Esportivo da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), também na Capital.
Além da hidroginástica e da natação, Luiz Fernando Martins Kruel, professor aposentado da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), recomenda o deep water, que consiste em exercícios realizados em piscina profunda, com a ajuda de um flutuador, sem impactos. A água proporciona um ambiente que melhora o conforto e a aderência aos exercícios, conforme o fundador e coordenador do Grupo de Pesquisa em Atividades Aquáticas e Terrestres.
O especialista também destaca que, embora a natação seja benéfica, a hidroginástica e o deep water têm como vantagem um aprendizado mais rápido. Ambos os exercícios são eficazes na melhoria da densidade óssea, sendo úteis na prevenção e no tratamento da osteoporose.
Além disso, contribui para o tratamento de doenças cardiometabólicas, como obesidade, dislipidemia (alteração de colesterol e triglicerídeos), pressão arterial, diabetes tipo 2 ou síndrome metabólica, segundo o pesquisador. O deep water, especificamente, também melhora o equilíbrio.
— Para cada doença tem uma dose de exercício e uma intensidade — ressalta Kruel.
Benefícios que se somam
Olsen, da Santa Casa, afirma que "qualquer exercício é melhor do que nada":
— Para todo exercício que tem um acompanhamento de um profissional e uma rotina, os benefícios vão se somando e se tornando cada vez mais robustos.
Há 17 anos, Denise tem sentido esses pontos positivos, com destaque para o reforço muscular e a resistência respiratória, ambos importantes para os idosos. Além da hidroginástica duas vezes por semana, sua rotina de atividades inclui musculação, de uma a duas vezes por semana, e dois dias de fisioterapia.
Apesar de parecer "tranquila", a hidroginástica cansa, garante a aposentada, que precisa dormir à tarde após o exercício, devido ao esforço.
— Acho maravilhosa porque não se sente muito a resistência da água, mas ela trabalha bastante o corpo. Mesmo que se faça poucos movimentos, como no caso das pessoas que têm limitações, ainda assim é efetiva na musculatura — relata.
Convívio em grupo
Os exercícios aquáticos trazem diversas vantagens, segundo os especialistas, como benefícios cardiovasculares, metabólicos, respiratórios e diminuição de peso (veja lista ao final da reportagem).
Godoy, da PUCRS, ressalta:
— Isso tudo é fundamental para o público idoso. Até para a prevenção do Alzheimer e problemas de demência futura que podem vir a ter em função da idade.
Há ainda benefícios de socialização, acrescenta Olsen:
— Por meio do convívio em grupo, a hidroginástica oferece a oportunidade de continuar tendo um grupo de amigos nessa faixa etária.
É o que Denise tem vivenciado há anos:
— Criamos amizade, laços de afeto. Comemoramos juntos aniversários, Natal, Páscoa e Ano-Novo. Os laços ficam mais estreitos.
Embora o exercício seja normalmente associado a pessoas de mais idade, a aposentada ressalta:
— Não é uma turma de idosas, é de hidroginástica. Então, tem rapazes e moças também.
Cuidados na hora de começar
Os especialistas explicam que é preciso realizar uma revisão médica antes de começar a praticar uma atividade física, principalmente se a pessoa é sedentária ou não realiza atividade regular há algum tempo.
Estando em condições e com autorização do médico, a recomendação é começar devagar, com acompanhamento e orientação de um profissional. Olsen aconselha:
— Deve ser algo que caiba na rotina, ou seja, perto de casa ou do trabalho, para que esse exercício seja de fato incorporado como uma atividade de médio e longo prazo.
Alguns idosos desejam, por vezes, realizar exercícios sozinhos na piscina de casa, com o auxílio de conteúdos da internet, mas é preciso cuidado, pois podem não ser os mais indicados e agravar algum problema, aponta Godoy, da PUCRS. Os professores orientam os alunos para que haja a melhor ergonomia, com a intensidade correta e segurança, de modo a evitar lesões.
Complementando a rotina de exercícios
A atividade aquática já é bastante completa, sendo capaz de trabalhar o corpo integralmente — tanto a parte cardiorrespiratória quanto a muscular, resultando em boa resistência —, conforme os profissionais de Educação Física. Entretanto, pessoas com indicação médica e/ou interesse podem complementar a rotina com uma atividade de força, como musculação, treinamento funcional e pilates.
Para Olsen, da Santa Casa, a natação acaba tendo menos atividades de força e mais aeróbicas. Portanto, a recomendação é intercalar com um exercício como musculação. A hidroginástica, por sua vez, consegue unir esses dois exercícios em uma única atividade, podendo ser a única realizada. A orientação é fazer pelo menos 150 minutos de atividade física moderada por semana.
Para pacientes com osteoporose ou osteopenia são indicadas atividades na água, como hidroginástica, natação e deep water, associadas a exercícios de força para reforço muscular. Também são recomendados exercícios como tai chi para melhora do equilíbrio, destaca Olsen.
(O exercício físico) deve ser algo que caiba na rotina, ou seja, perto de casa ou do trabalho, para que seja incorporado como uma atividade de médio e longo prazo
VIRGÍLIO OLSEN
Chefe do serviço de Geriatria da Santa Casa de Porto Alegre
Aula experimental
O geriatra explica que, entre os exercícios aquáticos, não há um melhor. Godoy acrescenta que a escolha é pessoal e varia de acordo com a capacidade física, a necessidade, a idade e a habilidade aquática de cada pessoa. No mesmo sentido, as execuções e a intensidade também vão variar conforme a aula, o perfil da turma e as necessidades individuais. Godoy alerta que, no caso do deep water, pode haver uma exigência de domínio aquático maior.
O aluno deve respeitar seu limite e suas necessidades, conforme as orientações médicas. A recomendação de Godoy é realizar uma aula experimental para avaliar se há a capacidade de executar a atividade.
Na terceira idade, conclui Kruel, da UFRGS, a chave é o equilíbrio, evitando tanto a falta de exercícios quanto o excesso para evitar o agravamento do quadro de saúde e prevenir lesões.
Para cada doença tem uma dose de exercício e uma intensidade
LUIZ FERNANDO MARTINS KRUEL
Professor aposentado da UFRGS
Efeitos positivos dos exercícios aquáticos
- Benefícios cardiovascular e metabólico, com melhora da frequência cardíaca e da absorção de oxigênio
- Benefícios para o sistema respiratório, com aumento da capacidade respiratória
- Diminuição de peso, com melhor controle dos níveis de pressão e glicose em pessoas com diabetes
- Manutenção do tônus muscular
- Aumento da capacidade de realizar atividades básicas da vida
- Redução da dor crônica
- Melhora da resistência articular
- Melhora da coordenação motora e da parte cognitiva
- Aumento da sensação de bem-estar
- Melhora do sono
- Melhora da circulação sanguínea
- Redução de inflamação
- Redução do risco de lesões, devido ao baixo impacto
Fontes: Especialistas ouvidos para esta reportagem