A Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) avalia que a vacinação contra a dengue no país teria melhores resultados se fosse realizada em escolas e houvesse uma campanha de divulgação nacional, e não ficasse restrita apenas aos municípios do país que receberam as doses.
— Não estamos fazendo vacinação em escolas por conta de observação de efeitos colaterais e de alergias. Só em unidades de saúde, o que dificulta muito a adesão. Outra coisa que dificulta é a comunicação. Não é uma campanha feita em todo o país, é só nos municípios que começaram a vacinação — afirma o vice-presidente da SBIm, Renato Kfouri.
Dados do Painel de Monitoramento de Casos de Arboviroses mostram que em 2025 já foram registrados no Brasil 139.241 casos prováveis e 21 óbitos por dengue, sendo que outros 160 estão em investigação. Até as 16h40min desta segunda-feira (27), no mesmo painel o RS somava 833 casos prováveis com dois óbitos em investigação. Os números mudam constantemente.
— Só tem um caminho para vacinar bem adolescentes: é a vacinação escolar — sugere Kfouri.
A vacina Qdenga é aplicada em duas doses com intervalo de três meses. O público-alvo são jovens dos 10 aos 14 anos, faixa etária que concentra, após os idosos, o maior número de internações em função da dengue. A vacina ainda não foi liberada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para o público idoso.
Na sexta-feira (24), a SBIm divulgou um alerta em relação à baixa procura pela vacina no país. Somente metade das doses distribuídas pelo Ministério da Saúde para Estados e municípios foi aplicada até o momento.
Conforme o vice-presidente da associação, o Brasil obteve uma quantidade de doses muito reduzida para as pessoas. Foram cerca de 6 milhões de doses em 2024.
— Nesses dois anos, vamos vacinar 8 milhões de brasileiros se conseguirmos a cobertura vacinal ideal. Não vai alterar em nada a epidemiologia da doença. A vacina não tem hoje um papel de controle da doença com esse quantitativo obviamente. À medida que termos mais doses, incrementando o público-alvo ou aumentando o número de protegidos, a expectativa é de que a vacina cumpra o papel não só na proteção de quem é vacinado, mas também no controle da doença. Então, é preciso deixar claro que as curvas de dengue e o número de casos de óbitos não vão se modificar pela vacinação — esclarece Kfouri.
RS tem baixa procura
O setor de Imunizações do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs) ressalta a importância de o público-alvo se dirigir às unidades de saúde dos municípios que receberam as doses.
O Estado recebeu 82.332 doses. Foram aplicadas 36.393 vacinas (primeira dose) e 9.542 (segunda imunização) – apenas 26.22% do público-alvo tomou as duas doses no RS. Os dados correspondem até o dia 16 de janeiro.
— A vacina veio como mais uma estratégia de prevenção da dengue. Além de outros cuidados que se tem, como a eliminação de criadores foco do mosquito, temos a vacinação para um público restrito de idade. Foi uma estratégia do Ministério da Saúde ser esse público. É fundamental que esses procurem as salas de vacinação, junto dos pais, nas unidades de saúde — observa a chefe da seção de Imunizações do Cevs, Eliese Cesar.
Eliese destaca que o esquema vacinal é de duas doses, e "não adianta só fazer uma". É preciso completar o esquema.
Saiba mais
Produzida pelo laboratório japonês Takeda Pharma, a vacina Qdenga foi aprovada pela Anvisa. O imunizante começou a ser distribuído no Brasil em fevereiro de 2024.
A previsão para este ano é que produza 15 milhões, sendo 9,5 milhões de doses destinadas ao país, o que representa 60% da produção mundial.
O Instituto Butantan começou a produção dos imunizantes contra a dengue na semana passada. A vacina será chamada de Butantan-DV e ainda aguarda por aprovação da Anvisa.