Alimentar-se de frutas frescas e saladas, praticar exercícios físicos e beber mais água são algumas das mudanças fáceis de implementar durante o verão. No entanto, é preciso tomar alguns cuidados para que o efeito não seja o inverso do esperado.
O calor, por si só, já tem impacto no funcionamento do organismo. Ele afeta diretamente o sistema circulatório, dilatando os vasos sanguíneos. Isso traz uma série de implicações, como o aumento de circulação de sangue – exigindo mais esforço do coração para manter a nutrição de todos os órgãos vitais. Esse contexto pode derrubar a pressão arterial e acelerar os batimentos cardíacos, causando arritmia e aumentando o risco de infarto.
Esses e outros efeitos não tiram a beleza da estação, mas sugerem cautela. Além de fazer um check-up (principalmente quem tem mais de 35 anos), é recomendado tomar alguns cuidados. Para curtir o verão com tudo o que ele oferece, vale estar atento a alguns detalhes e manter na rotina hábitos essenciais, como a hidratação e o uso do protetor solar. Confira, a seguir, algumas recomendações para manter ou começar uma rotina saudável nas próximas semanas.
Alerta ao sol
Um dos mais importantes aliados da vida, o sol exige atenção. É preciso estar protegido durante a exposição ao sol durante o ano todo, mas isso se acentua no verão. O horário mais indicado para uma exposição contínua é até as 10h e após as 15h. Dentro desse período, a radiação UVB, que é mais agressiva, está mais presente. Na hora de aplicar o protetor, também existem detalhes que podem fazer toda a diferença, como colocar uma gota sobre a pele e distribuir ao redor, sucessivamente, até cobrir a superfície.
— A maneira e a quantidade que se aplica permitem curtir o verão com tranquilidade e prudência — define a dermatologista Ana Lenise Favaretto, cooperada da Unimed Porto Alegre com Registro de Qualidade de Especialista (RQE).
Para atenuar o calor e também proteger a pele, a recomendação é usar bonés, chapéus, roupas com proteção ultravioleta e guarda-sóis. Os materiais que compõem esses acessórios também devem ser observados. Alguns protegem melhor e muitos já vêm com uma trama que bloqueia a passagem da radiação. Para se certificar, é interessante observar o selo do Inmetro.
É preciso ter atenção com as crianças – distraídas com as brincadeiras, elas não percebem o quanto a temperatura está elevada. Um descuido pode causar queimaduras e desidratação, o que exige a atenção dos adultos aos pequenos.
Corpo hidratado
Manter o corpo hidratado é ponto de partida para todos os cuidados com a saúde. Opções não faltam: água natural, água com gás, água saborizada, água de coco (para quem está na praia ou em um resort, por exemplo), sucos naturais, chás gelados e até mesmo os isotônicos. O volume recomendado de ingestão diária está na casa dos dois litros, mas pode variar conforme a pessoa.
No caso dos idosos, a sensação de sede diminui e, no verão, isso pode ser crucial. Embora essas pessoas não suem tanto, é preciso ter atenção a elas – por isso, líquidos refrescantes e naturais devem ser oferecidos para garantir a hidratação.
Alimentação leve
O abuso de alimentos gordurosos ou muito temperados, assim como os de procedência duvidosa, causa aumento nos casos de gastroenterite. Isso ocorre não apenas pela exposição dos alimentos ao calor, mas por uma incidência maior de vírus e bactérias.
— O cuidado consiste em lavar bem os alimentos, hidratar-se muito, não ir em qualquer lugar para comer e preparar as refeições em casa, usando alimentos frescos — recomenda a endocrinologista e internista Melissa Barcellos Azevedo, cooperada da Unimed Porto Alegre.
Segundo ela, expondo-se mais à água, seja de mar, rios ou lagoas, as pessoas estão mais suscetíveis a esse tipo de infecção. Em caso de vômito ou diarreia, a orientação é cuidar a alimentação e reforçar a hidratação.
Pele protegida
Quando se fala da exposição ao sol, o pensamento imediatamente leva ao protetor solar. Antes disso, no entanto, é preciso focar na limpeza da pele. Com mais produção de suor e o uso do próprio protetor, a pele é mais exigida.
Depois da limpeza, o protetor solar entra em campo. Ele tem a função de bloquear as radiações UVA e UVB, assim como a luz visível. Além disso, mantém a pele hidratada, pois impede que o corpo perca água para o ambiente. É uma barreira que atua nos dois sentidos. Quem estiver na praia ou na piscina, precisa reforçar o protetor sempre que ficar muito tempo na água.
— A maioria dos produtos suporta um pouco, mas não é resistente. Se mergulhou (na água) e passou a mão (onde havia protetor), tem que reaplicar. Já para o dia a dia, como atualmente eles estão mais sofisticados, dependendo da marca podem durar até seis horas — explica Ana Lenise.
Roupas e acessórios com proteção ultravioleta são uma ótima opção, especialmente para crianças, que podem resistir ao processo de passar o protetor. Mas a dermatologista reforça a importância de passar o produto onde fica descoberto, como mãos, pernas e rosto – sem esquecer das orelhas, que muitas vezes ficam para fora do chapéu.
No couro cabeludo, a dica é utilizar protetor spray, pois os pequenos costumam tirar a cobertura. O mesmo vale para os calvos e os que dividem o penteado, deixando o couro cabeludo à mostra.
Cuidado: fungos
Eles gostam de calor, umidade e escuro. Por isso, costumam aparecer no verão. As crianças têm mais facilidade de contato na areia, enquanto os adultos ficam mais expostos encostando em superfícies como cadeiras, equipamentos de academia e piso molhado. Como no verão se usa menos roupas e a temperatura é mais propícia para a reprodução e a sobrevivência dos fungos, a contaminação aumenta.
— A água da piscina tem cloro, que elimina os fungos, mas aquela água que fica parada no piso do vestiário pode estar contaminada. É bom sempre usar chinelo. E é por isso que as academias recomendam o uso de toalha na hora de usar um aparelho — observa Ana Lenise.
Os efeitos mais comuns são manchas na pele, especialmente nas costas, brancas ou vermelhas. Embora não ofereçam riscos, os fungos causam as manchas e, geralmente, instalam-se em quem está com a imunidade baixa, tem diabetes descompensado ou faz uso de imunossupressores ou corticóides.
Olho no coração
Quem tem alguma condição preexistente ou doença cardíaca deve conversar com seu médico sobre eventuais mudanças na medicação. Com a dilatação dos vasos sanguíneos, pode ser necessária uma adequação nesse sentido.
O consumo de bebidas alcoólicas, que também tende a aumentar, é outro ponto a ser observado. Esse descontrole pode elevar o número de doenças cardíacas nas pessoas que já estão em tratamento ou desencadear novas doenças, como a arritmia.
— Deve-se ter atenção com alterações dos batimentos cardíacos, que aumentam com a utilização de estimulantes como o álcool, a cafeína e os energéticos. Muito cuidado, principalmente se já tem doenças cardíacas — alerta o cardiologista Cidio Halperin, médico cooperado da Unimed Porto Alegre.
Uma rotina equilibrada
A analista de marketing Louise Pinheiro, 32 anos, mora em Porto Alegre e sempre teve o verão como estação preferida. Para a prática de corrida, isso ficou ainda mais evidente. Nesse período do ano, ela consegue dar mais atenção a cuidados como a alimentação.
— O verão é mais convidativo para comer coisas leves, facilita para fazer refeições com salada e proteína. Diminui o desejo por carboidratos, embora eu os mantenha na dieta para contemplar todos os nutrientes — conta.
Para consumir mais frutas, Louise usa uma estratégia: mantém morango e abacaxi congelados e prepara batidas no liquidificador com suco de laranja. A bebida gelada é uma forma saudável de se refrescar. Além disso, sempre tem uma garrafa de água por perto, mesmo durante as corridas – faz questão de usar bermudas ou calças que tenham bolsos para isso:
— As pessoas levam os celulares para todos os lugares. Eu levo o celular e a garrafinha de água. A regulagem do sono também faz parte da rotina, até mesmo para trabalhar melhor. Ela vai dormir por volta das 22h e, quando treina pela manhã, acorda às 6h.
4 pílulas de cuidados especiais
Alguns detalhes nem sempre são lembrados, mas os médicos ouvidos nesta reportagem chamam atenção para que todos possam curtir o verão sem problemas:
- Dengue – As condições do verão são propícias para a reprodução do Aedes aegypti, reforçando a importância de usar repelente. Muita atenção em locais próximos a terrenos baldios ou que tenham poças d’água. Onde houver risco de presença de mosquitos, usar repelente, mesmo durante o dia. Dentro de casa, aparelhos que funcionam como repelentes são indicados. Essas medidas previnem, ainda, quadros alérgicos que podem ser desencadeados por outros insetos.
- Quedas – Banheiros e lugares molhados oferecem risco, especialmente para idosos. A recomendação é usar calçados adequados para cada superfície, o tempo todo. Pacientes diabéticos devem ter atenção redobrada: pela falta de sensibilidade na pele, é comum que não percebam as queimaduras causadas pelo sol ou pela areia, alcançando quadros graves.
- Reflexo do sol – A radiação solar não atinge a pele somente de forma direta. O reflexo na areia e na água (assim como na neve) pode ter tanto impacto quanto a exposição convencional. Portanto, mesmo que esteja abrigado por guarda-sol ou estruturas afins, convém observar o uso do protetor solar sempre que necessário.
- Atletas ocasionais – É comum, no verão, a prática de atividades físicas sem a preparação adequada. Isso aumenta muito o trabalho do coração e pode desencadear doenças. Antes de começar a se exercitar, principalmente sob o sol ou em ambientes sem climatização, é preciso buscar orientação médica e, melhor ainda, fazer um check-up.
* Produção: Padrinho Conteúdo