Um vídeo no TikTok em que uma mulher de 24 anos afirma ter contraído HPV ao utilizar um equipamento da academia viralizou nas redes sociais. No entanto, especialistas afirmam que não é possível contrair a infecção por meio de objetos e nenhuma outra superfície.
Em relato, a jovem Victoria Sartorelli, estudante de medicina, percebeu o surgimento de uma verruga no dedo, e, ao consultar um especialista, foi informada que a protuberância era causada pelo vírus HPV (veja o relato abaixo).
A informação repercutiu e assustou alguns internautas. "Novo medo desbloqueado", escreveu uma usuária nos comentários. "Você alugou um tríplex na minha cabeça", afirmou outra. Apesar de ser contada com a intenção de alertar outras pessoas, a história deve ser ouvida com cautela.
É possível contrair HPV na academia?
Conforme a ginecologista e especialista em saúde feminina Mariana Mendes Rodrigues, não é possível contrair o HPV em aparelhos de academia e em nenhuma outra superfície.
— É necessário contato pele a pele para que ocorra essa transmissão — explica a ginecologista.
A infectologista e virologista da Santa Casa Cynara Carvalho Nunes reforça a informação. Ela explica que, para que ocorra esse tipo de contaminação, a pele da pessoa infectada deve estar lesionada.
— Se alguém foi infectado, o vírus permanece no organismo. Entretanto, para transmitir o HPV para outra pessoa, é preciso que esta tenha uma lesão ativa — salienta.
No portal do Instituto Nacional de Câncer (INCA), a explicação sobre transmissão do HPV ressalta que não está comprovada a possibilidade de contaminação por meio de objetos, do uso de vaso sanitário e piscina ou pelo compartilhamento de toalhas e roupas íntimas.
HPV tem variações
O papilomavírus humano, ou HPV, é um vírus com mais de 200 tipos. No caso relatado nos vídeos publicados pela estudante, o quadro não se trata de uma infecção sexualmente transmissível (IST).
Mariana afirma que situação do vídeo é causada por uma variação comum e menos agressiva do patógeno. Esse tipo é diferente do procurado em exames ginecológicos.
— O HPV que pesquisamos em exames preventivos são os tipos oncogênicos, que podem causar lesões no colo do útero — esclarece a médica. — O restante se manifesta como verrugas simples, que não possuem grande repercussão clínica.
De acordo com Cynara, essas variações pouco prejudiciais do HPV são extremamente comuns, inclusive em crianças. Nesses casos, a profissional reforça que não há motivo para preocupação.
— Para as verrugas vulgares, realizamos o tratamento com a retirada desse tecido, mas isso é feito apenas por razões estéticas, essa verruga não vai evoluir para nada — pontua a infectologista.
Vacinação para prevenção
Mariana reforça que a vacinação é a forma mais segura e eficaz de prevenção contra o HPV. Segundo ela, por se tratar de um vírus de pele, o uso de preservativo não garante total proteção contra as formas agressivas da doença.
— Como é um vírus de pele, ele pode estar presente não apenas nos órgãos sexuais, mas também no períneo e na região íntima como um todo — explica.
Disponibilizada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) nos postos de saúde do Brasil, a vacina contra o HPV não é obrigatória, mas tem como foco as duas variantes do vírus que mais resultam no desenvolvimento de algum câncer: os tipos 16 e 18. A aplicação dos imunizantes concentra-se em crianças e adolescentes entre 9 e 14 anos, mas também está disponível para outros grupos.
*Produção: Maria Fernanda Freire