Época de férias, praia e calor, o verão também pode ser propício ao desenvolvimento de quadros de intoxicação alimentar.
O número de pessoas que procuram atendimento médico por apresentar sintomas decorrentes do consumo de alimentos contaminados, estragados ou fora do prazo de validade aumenta nesta época do ano, conforme aponta a nutricionista Lilian Borges Teixeira, responsável técnica do Programa Estadual de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar, um dos braços do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (CEVS) do RS:
— Com o calor, temos uma condição que favorece a multiplicação de microrganismos capazes de contaminar os alimentos. Eles vão se desenvolver e se multiplicar muito mais rápido, fazendo com que a comida também estrague e fique imprópria para consumo mais rapidamente. Por isso, o cuidado deve ser redobrado durante o verão.
Um possível surto de intoxicação alimentar está sendo investigado pela Vigilância em Saúde de Pelotas, no sul do Estado, onde mais de 50 casos do tipo foram registrados desde a última terça-feira (24).
Destes, ao menos cinco seriam de membros de uma mesma família que passaram mal após consumir uma torta fria comprada em um estabelecimento da cidade. Acredita-se que o alimento estivesse estragado, e os ingredientes utilizados pelo local estão sendo analisados.
Segundo o Centro Estadual de Vigilância em Saúde, quando duas ou mais pessoas que tenham consumido um mesmo alimento apresentam algum sintoma clínico (geralmente a diarreia) que esteja comprovadamente relacionado ao consumo, os casos passam a configurar um surto.
Neste ano, o Rio Grande do Sul já registrou 249 de surtos de doença diarreica aguda, segundo dados do CEVS contabilizados até a tarde desta sexta-feira (27).
Sintomas acendem sinal de alerta
Infectologista do Hospital Moinhos de Vento, o médico Paulo Gewehr explica que a intoxicação por alimentos contaminados ou estragados pode ocasionar quadros clínicos diversos, que em última instância podem levar a óbito. O mais comum, contudo, são os casos de gastroenterite e doença diarreica aguda, que costumam causar sintomas como diarreia, dor abdominal e vômito.
Na maioria dos quadros que derivam de uma intoxicação alimentar, o sintoma inicial é a diarreia, conforme o especialista. Muitas vezes a condição evolui bem em casa, com hidratação e repouso, mas Gewehr aponta os sinais que indicam quando é a hora de procurar atendimento médico:
— Se a diarreia persistir por mais de dois dias em adultos ou, no caso das crianças, por mais de 24 horas, deve ser buscada uma unidade de saúde. Outros sintomas, como pus ou sangue nas fezes, dor abdominal muito forte e febre acima de 38 graus, também sinalizam que é o momento de procurar um médico. Além disso, precisamos observar com muita atenção os sinais da desidratação, como a apatia e o cansaço excessivo.
Abaixo, GZH reúne dicas dos especialistas para evitar casos de intoxicação alimentar. Confira!
Pesquise a procedência
Tudo começa pela procedência dos alimentos. Antes de preparar e consumir um ingrediente comprado no supermercado, por exemplo, é preciso analisar as condições do estabelecimento, segundo a nutricionista do CEVS, Lilian Borges Teixeira:
— É importante verificar se a higiene é satisfatória, sobretudo no caso dos perecíveis. A procedência e o modo como eles são armazenados e manuseados faz muita diferença. Por isso, é sempre bom pesquisar o histórico do local e prestar atenção nesses detalhes.
A dica vale também para pratos que são consumidos em locais como restaurantes e lanchonetes, conforme destaca o infectologista Paulo Gewehr:
— Nesta época do ano, é comum viajarmos e comermos fora de casa, por vezes até na beira da praia. Precisamos ter segurança de que o local onde estamos fazendo as nossas refeições tenha boas práticas de higiene e manipulação dos alimentos, para evitar o desenvolvimento de doenças por contaminação. Até mesmo a hepatite A pode ser contraída através de alimentos ou água contaminados, então, esse cuidado é fundamental.
Respeite o prazo de validade
Os especialistas também destacam a importância do prazo de validade informado nas embalagens dos alimentos comprados em estabelecimentos comerciais. Ele serve para garantir a segurança alimentar e deve ser respeitado com rigor, sem exceções.
— Não há nenhum tipo de alimento que possa ser consumido de forma segura fora do prazo de validade — enfatiza Lilian.
Preste atenção na embalagem
Também é importante olhar para a forma como os alimentos estão armazenados. Se a embalagem não estiver íntegra, não há como garantir segurança, diz Gewehr:
— A embalagem é a proteção do alimento. Ele pode até estar dentro do prazo de validade, mas se a embalagem não estiver em boas condições, não devemos consumir.
O infectologista orienta evitar alimentos acondicionados em pacotes rasgados ou furados, em latas que estejam amassadas ou estufadas e em invólucros que estejam visivelmente sujos.
Observe a aparência do alimento
O olhar também precisa estar atento para o aspecto da comida e dos ingredientes. Cor fora do padrão e cheiro forte nunca são um bom sinal, conforme a nutricionista do CEVS. Quando há suspeita de que um alimento esteja em más condições, a dica de Lilian é que não se pague para ver.
A regra também vale para alimentos que apresentam mofo. Nestes casos, a orientação é descartar o item integralmente, sem tentar "salvar" nenhum pedaço.
— É uma prática comum, mas que não é segura. Não adianta cortar somente o ponto que estiver mofado, porque o mofo que enxergamos é a ponta do iceberg. Quando ele aparece, é justamente porque os fungos já cresceram em todo o alimento — alerta a nutricionista.
Cuide do preparo e da conservação
É preciso ter cuidado também ao conservar os alimentos em casa, conforme os especialistas. No caso das frutas e verduras, a lavagem deve ser feita corretamente antes do consumo, com substância clorada. Carnes e outros alimentos perecíveis exigem atenção redobrada, conforme Lilian:
— São itens que não podem ficar fora da geladeira e não devem ser consumidos depois do prazo indicado na embalagem. Esses alimentos devem ser condicionados sob refrigeração até o momento do consumo, jamais em fornos ou armários, mesmo que já estejam prontos. Nesse caso, também não devemos deixar guardado por mais de três dias.
Não esqueça da água
Além dos alimentos, a água também pode ser vetor para algum problema de saúde. A hidratação é ainda mais importante no verão, mas precisa ser feita a partir de fontes seguras e potáveis. O cuidado vale também para o gelo.