Referência para mais de cem municípios gaúchos, a equipe do Hospital de Pronto Socorro de Canoas mantém atendimentos em meio à falta de insumos básicos e itens de higiene, conforme relatos. Também há atraso no pagamento de salários dos médicos terceirizados e do 13º salário de funcionários.
Fontes ouvidas pela reportagem indicam a falta de itens como soro, materiais para acesso venoso, roupas cirúrgicas e sabão para higienização das mãos. Também há relatos de problemas nas acomodações.
Diante da lotação e grande demanda, pacientes chegam a ser atendidos em colchões no chão. Na ala de descanso para médicos, faltam camas. Também há problemas de infiltrações no banheiro.
A estrutura do HPS fica no bairro Mathias Velho e foi totalmente afetada pela enchente de maio. Desde então, a ala de urgência e emergência está atendendo na estrutura do Hospital Nossa Senhora das Graças. Casos de baixa e média complexidade são atendidos no ambulatório do HPS. Atualmente, a sede passa por reformas e a previsão é de que a obra seja concluída em abril de 2025.
Em relação aos salários, existe atraso de dois meses no pagamento de médicos terceirizados. Foram depositados até o momento, 25% do montante. Já os funcionários, receberam apenas um terço do valor do 13º salário nesta sexta-feira (20). Não há previsão para regularização.
O HPS de Canoas é administrado pelo Instituto de Administração Hospitalar e Ciências da Saúde (IAHCS). O contrato com a prefeitura possui valor mensal de R$ 8,5 milhões, que não está sendo repassado integralmente. Em dezembro, por exemplo, foram enviados R$ 6,6 milhões.
Em nota, a prefeitura afirma que tem realizado repasses conforme a produção dos hospitais, seguindo orientação do Tribunal de Contas do Estado. A administração alega, ainda, que não está repassando o valor completo porque "o hospital está operando, desde maio, com equipes e estrutura reduzidas, como o centro de imagem, laboratório e parte das UTIs (unidades de terapia intensiva)".
A prefeitura e o IAHCS não se manifestaram sobre a falta de insumos básicos, de itens de higiene e os outros apontamentos feitos pelos funcionários.
Procurado pela reportagem de Zero Hora, o Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers) afirma que existem diversos indicativos de interdição ética na instituição. Porém, neste momento, a interdição seria temerária, pois poderia prejudicar a população.
Confira a nota da Prefeitura de Canoas:
"A Prefeitura de Canoas informa que mensalmente realiza repasses ao Hospital de Pronto Socorro e que a gestão do valor total, como pagamento de funcionários e outras despesas, é feita pela instituição administradora do HPS, o IAHCS (Instituto de Administração Hospitalar e Ciências da Saúde).
Sobre o valor mensal repassado, a Prefeitura informa que, seguindo orientação do Tribunal de Contas do Estado, desde a pandemia o Município tem realizado repasses conforme a produção dos hospitais. No mês de dezembro, a Prefeitura repassou cerca de R$ 6,6 milhões ao HPS, uma vez que o hospital está operando, desde maio, com equipes e estrutura reduzidas, como o centro de imagem, laboratório e parte das UTIs.
Para garantir recursos adicionais para a saúde do município, o prefeito Jairo Jorge irá a Brasília na próxima segunda-feira (23), buscar junto ao Ministério da Saúde R$ 20 milhões para os três hospitais e R$ 16 milhões para as UPAs e o Samu.
A Prefeitura reforça ainda que desde que o programa Assistir entrou em vigor em junho de 2022, os hospitais de Canoas tiveram uma perda expressiva, superior a R$ 80 milhões. Enquanto em 2021 o repasse anual realizado pelo Governo do Estado à Saúde de Canoas foi de R$ 117 milhões, o total de 2024 foi de R$ 87 milhões, ou seja, uma perda de R$ 30 milhões."