O Hospital Nora Teixeira já está integrado à rotina do complexo da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre mesmo antes da inauguração oficial, marcada para esta semana. Nesta terça-feira (17), três andares de atendimento – dois de internação e a Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) – recebiam 57 pacientes. Além disso, os frequentadores do complexo já utilizam novas passarelas e têm à disposição uma rua coberta, ambos financiados com recursos do Nora Teixeira.
A cerimônia de inauguração do centro está marcada para quinta-feira (19), dia em que a Santa Casa completará 220 anos. Dos R$ 284 milhões do orçamento do projeto, R$ 234 milhões já foram captados, a maioria por meio de doações. A principal articuladora da arrecadação é a empresária que empresta o nome ao hospital.
— Trabalhamos ao longo da vida, e chega em um ponto em que temos de começar a “devolver” para a sociedade. Não adianta reclamar e ficar sentado: tem que fazer alguma coisa. Existem várias maneiras de doar, não só a financeira. Penso que Porto Alegre está, cada vez está mais, abraçando a causa da doação – pontuou a empresária durante coletiva de imprensa nesta terça.
Nora é sócia da Casa NTX de eventos de luxo e é casada com o Alexandre Grendene, cofundador da empresa de calçados Grendene: o casal destinou R$ 80 milhões para o empreendimento. Além deles, entre as famílias que permitiram concluir o hospital, estão as de Santina De Carli Zaffari, Irineu Boff, Ling Sheun Ming, João Jacob Vontobel, Regina e Hermes Gazzola, Caio Poester, Renato Bastos Ribeiro e Flávio Sérgio Wallauer. Josapar/Real Empreendimentos e JBS integram a relação de empresas doadoras.
Nova emergência, rua e passarela
O investimento no centro também inclui a reforma da emergência SUS da Santa Casa, que foi inaugurada em 2022, quando a instituição completou 219 anos. Além da assistência aos pacientes, o prédio, de 15 andares, contempla espaços de nutrição e restaurante para colaboradores, estacionamento, almoxarifados e uma central de recebimentos (veja abaixo como os andares estão distribuídos).
A principal via interna da Santa Casa foi inteiramente transformada e agora é uma rua coberta por uma estrutura de 4 mil metros quadrados, que conta com 420 toneladas de aço e 1,6 mil placas de vidro. A circulação pelos prédios também foi melhorada: novas passarelas, com 420 metros de percurso total, interligam as oito unidades hospitalares da Santa Casa.
Sustentabilidade financeira
Segundo Julio Matos, diretor-geral da Santa Casa, a instituição tem um déficit anual de R$ 150 milhões nos atendimentos a pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), que representam 70% da demanda do complexo.
— Recebemos R$ 74 para cada R$ 100 de custos que temos com um paciente SUS. Esses R$ 26 (de diferença), pelo grande volume assistencial que temos, chega aos R$ 150 milhões por ano. Isso é pago com próprio trabalho da Santa Casa, que não tem nenhum orçamento público de custeio, salvo a contraprestação defasada do SUS. A diferença é paga com os convênios, particulares, receitas de ensino, pesquisa e estacionamento — explica o diretor executivo.
Com o novo hospital, a expectativa é que R$ 100 milhões sejam agregados aos cofres da fundação anualmente. O hospital pretende realizar em torno de 10 mil internações nos primeiros 12 meses e chegar a 15,5 mil anuais quando toda a estrutura estiver pronta.
A maternidade Santina De Carli Zaffari (primeiro andar) deve começar a funcionar em dezembro, assim como o Centro de Oncologia Irineu Boff (segundo andar). Os outros quatro andares de internação que estão disponíveis (dois já recebem pacientes) serão ocupados conforme a demanda do hospital, afirma a direção.
— O Nora Teixeira é um hospital dedicado a pacientes privados e convênios, em que visamos olhar para o futuro e nos prepararmos para o que a Medicina vai nos trazer. Mas, sobretudo, nossa missão é que seja um hospital que ajude a sustentar o SUS da Santa Casa. Para isso, precisamos de um faturamento suficiente — completa Fernando Lucchese, diretor-médico do Nora Teixeira.