Como o próprio nome diz, a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é uma enfermidade que afeta os pulmões e não tem cura. A DPOC pode ser definida como um guarda-chuva que abriga outras doenças pulmonares como enfisema pulmonar, que são danos irreversíveis nos alvéolos, e a bronquite crônica, que é o estreitamento das vias aéreas e paralisação da atividade dos cílios das vias respiratórias, por exemplo. Essas alterações dificultam o trabalho mecânico da respiração e facilitam o acumulo de muco nas vias aéreas.
Fator característico desta doença, o tempo para que os sintomas comecem a ficar evidentes é longo. Portanto, os pacientes diagnosticados com a doença pulmonar obstrutiva crônica dificilmente têm menos de 40 anos.
Segundo a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), por conta disso, estão entre os desafios dos pneumologistas realizar o diagnóstico da doença de forma mais precoce, já que ela pode não manifestar sintomas até os graus mais avançados. No Brasil são cerca de 6 milhões de pessoas com a DPOC. Porém, apenas 12% dos casos são diagnosticados. Ainda segundo a SBPT, a doença pulmonar obstrutiva crônica é classificada como a terceira maior causa de morte, globalmente.
Exposição à fumaça de cigarro é um fator relacionado fortemente à doença. De acordo com a médica do Hospital São Lucas da PUCRS e presidente Sociedade de Pneumologia e Tisiologia do Rio Grande do Sul (SBPTRS), Daniela Cavalet Blanco, não tem como estipular uma média de anos para a patologia se tornar evidente. No entanto, é possível realizar uma conta de carga tabágica para ter uma percepção. Esse cálculo não depende necessariamente só do número de anos fumando, mas também do número de cigarros que o paciente fuma por dia.
— O número base para o cálculo do risco mais relevante de desenvolver DPOC é de no mínimo 10 anos/maço. Nós chegamos a esse valor multiplicando a quantidade de cigarros que o paciente fuma por dia em média vezes o número de anos que a pessoa fuma e dividimos isso por 20, que é a quantidade de cigarros em um maço. Quando essa conta dá um resultado maior que 10, nós sabemos que essa pessoa tem um risco significativamente maior de desenvolver DPOC — detalha Daniela.
Portanto, quem fuma 20 cigarros por dia por dez anos terá o mesmo risco de quem fuma 40 cigarros diariamente durante cinco anos.
Causas e prevenção
Em raros casos, o surgimento da doença até pode ter relação com herança genética, mas na imensa maioria das vezes, essa enfermidade está relacionada com a exposição à fumaça de cigarro. Apesar de se manifestar em menos intensidade nas pessoas, a exposição à fumaça da queima de biomassa, no caso de pessoas que trabalham queimando lenha ou em caldeiras, por exemplo, também pode causar DPOC.
Se a doença pulmonar obstrutiva crônica é desenvolvida basicamente por hábitos individuais das pessoas, a única prevenção é evitar o contato com esses agentes tóxicos.
— E tem que evitar qualquer tipo de fumo, não só o cigarro comum. O vape, narguile, cigarros eletrônicos, muito usados pelos jovens atualmente, também podem desencadear a DPOC — ressalta Daniela.
Sintomas
Os principais sintomas da DPOC costumam ser semelhantes aos de outras doenças pulmonares. São eles: a tosse crônica, ou seja, aquela que ocorre na maioria dos dias por mais de três meses consecutivos, por no mínimo dois anos seguidos e a sensação de falta de ar. Aliado a isso, o catarro em excesso e um chiado incomum no peito podem ser notados pelo paciente.
Inicialmente, a dificuldade para respirar será percebida ao realizar atividades mais desgastantes como correr, subir muitos lances de escada ou realizar exercícios físicos intensos. À medida que a doença progride, os sintomas se acentuam e o paciente pode passar a tossir com mais frequência e sentir falta de ar mesmo em tarefas simples ou até em repouso.
Diagnóstico
Para saber se uma pessoa tem ou não a doença pulmonar obstrutiva crônica é necessário realizar uma espirometria. Nesse exame o paciente precisa assoprar em um aparelho que vai medir o fluxo do assopro e detectar a obstrução dos brônquios na saída do ar. Para confirmar o diagnóstico, é possível que exames de imagem sejam solicitados após os resultados da espirometria.
Tratamento
A DPOC não tem cura, portanto o tratamento é baseado em tentar aliviar os sintomas da enfermidade. A primeira medida adotada pelos médicos é afastar o paciente do que está causando a doença. Se for cigarro, a recomendação é parar de fumar. Se for o contato com queima de biomassa, o ideal é se afastar dessa exposição.
Para o alívio da falta de ar, medicamentos broncodilatadores administrados como bombinhas ou outros inaladores, muito comuns em pacientes asmáticos, são os mais utilizados. A intensidade e a quantidade do uso dos broncodilatadores vai depender da gravidade da doença em cada pessoa.
Em alguns casos, mais restritos, remédios para prevenir infecções e corticóides inalados também podem ajudar a aliviar os sintomas. Pacientes com DPOC têm mais chances de ter infecções respiratórias. Em razão disso, necessitam de atendimento emergencial e hospitalização com mais frequência.
— Por isso, a gente orienta que eles mantenham as vacinas em dia. Se imunizar contra a gripe, covid-19, pneumonia e coqueluche, por exemplo, é ainda mais importante para estes pacientes — destaca a pneumologista.