A Santa Casa de Santana do Livramento, na Fronteira Oeste, suspenderá cirurgias a partir desta sexta-feira (22) por falta de médicos. Conforme a prefeitura, após esta data, apenas o pronto-atendimento e a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) seguirão em funcionamento. Pacientes que precisarem de cirurgias deverão ser encaminhados a outros hospitais da região. O motivo é o desligamento de um grupo de médicos.
Conforme o diretor de interior do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), Luiz Alberto Grossi, 31 médicos pediram demissão, entre eles cirurgiões, anestesistas e especialistas. O aviso prévio foi cumprido e a maior parte deles está sendo desligada nesta semana. No entanto, um grupo de profissionais, na maioria uruguaios, decidiu permanecer a partir de uma proposta da prefeitura — e, por isso, o pronto-atendimento e a UTI seguirão funcionando.
Segundo Grossi, os salários de maio e de junho deste ano estão atrasados. Além disso, não foram pagos os de dezembro de 2020 e há um passivo trabalhista dos anos de 2016 a 2019.
— A prefeitura fez uma proposta para nós, de pagar maio de 2020 em sete parcelas e o salário de junho integral a partir de julho. Mas em nenhum momento mostrou planejamento futuro. Nós aceitamos receber maio e junho de maneira integral e os salários de dezembro de forma parcelada, mas a prefeitura alega que as dívidas das administrações anteriores não são com ela — diz Grossi.
A prefeitura de Santana do Livramento atua como interventora do hospital, que é 95% Sistema Único de Saúde (SUS). Prefeita da cidade, Ana Tarouco diz que 29 médicos pediram demissão, mas 11 voltaram atrás a partir da proposta da prefeitura, que pagou integralmente os salários de maio e de junho para esses profissionais.
— É importante combatermos a narrativa do caos. O momento é ruim, é tenso e não queríamos estar vivendo isso. Mas garantimos o funcionamento dos casos de urgência e emergência. A partir da meia-noite, não teremos anestesistas, por isso, não teremos cirurgias.
A prefeitura afirma não ter como garantir, neste momento, os pagamentos de anos anteriores:
— São dívidas que nem sabemos se existem. As dívidas teriam sido feitas em gestões anteriores, quando houve irregularidades e não há nem documentação. Não temos como arcar com isso agora.
A prefeitura segue dialogando com os médicos e, enquanto isso, tenta contratar outros profissionais. O Simers também se diz aberto à negociação e afirma que o funcionamento do hospital sem cirurgias é um risco à população.
— Chega um paciente na UTI e, de repente, tem uma perfuração pulmonar. Quem vai operar? Se tem uma mulher em trabalho de parto, quem vai anestesiar? E se chega uma pessoa baleada, uma pessoa que foi atropelada? É um pensamento irresponsável — argumenta o médico Luiz Alberto Grossi.
GZH tentou, sem sucesso, contato com a direção da Santa Casa.