A certidão de óbito aponta que Eduardo Schinestsck Guthler, de Porto Alegre, morreu por complicações de uma fibrose cística, aos 20 anos, em 2020. Os mais próximos rebatem a informação: Tatá, como era conhecido, continua ao lado dos amigos. O jovem, que precisava de um transplante, mas não resistiu até a chegada de um novo pulmão, tem seu nome presente no projeto De Ponto a Vírgula, de incentivo à doação de órgãos.
— Um nome simples para algo tão complexo. Transformar pontos finais em vírgulas, no sentido de que a morte de alguém pode ser a vírgula de outra pessoa. Como a gente gostaria que tivesse sido com o Eduardo — resume a estudante de Direito Victoria Houpert, 23 anos, uma das idealizadoras.
No perfil do Instagram @depontoavirgula, são publicados conteúdos desmistificando o tema: curiosidades, relatos de pessoas que tiveram uma segunda chance a partir de um órgão recebido, dicas de filmes, entre outros posts — você sabia que um senhor de 95 anos se tornou o doador de órgãos mais velho da história? Esse caso também é contado na página.
O projeto foi criado em setembro de 2020, no dia seguinte à morte de Eduardo.
— Após o velório, estávamos revoltadas em perder alguém tão jovem tão cedo, comentamos que nosso sonho era criar um instituto. E uma outra amiga nos contou que a mãe do Eduardo pediu isso: que o mais importante que poderíamos fazer para homenagear e levar a palavra dele adiante era conscientizar as pessoas da importância de ser um doador — relembra Victoria.
Fabrício Carpinejar, poeta e colunista de GZH, publicou na época, nas redes sociais, um texto em homenagem ao rapaz e ao luto de sua família (leia neste link). “Não há sentido em uma mãe e um pai enterrarem o seu filho”, publicou o escritor.
Na manhã desta quinta-feira (30), ao saber pela Rádio Gaúcha que o caso inspirou o De Ponto a Vírgula, Carpinejar relembrou a corrida pela vida de Eduardo. E, assim como seus amigos, garantiu que o jovem não desistiu de lutar.
— O Tatá continua lutando pelo transplante, agora para outras pessoas, já que não conseguiu sobreviver por falta dele — disse o poeta.
Sonho de virar instituto
O grupo é formado por 12 voluntários. Ana Rita Schinestsck, mãe de Eduardo, é considerada membro honorário e participa das campanhas com o mesmo objetivo. Sorteios e ações com ajuda de parceiros também são realizadas.
Formado “em nome da amizade”, como definem os integrantes, o site agora busca um sonho maior: alçar voos como instituto.
— Como instituto, o sonho é que se eternize durante gerações, educando principalmente os jovens a falar sobre doação de órgãos com suas famílias. E dizerem sim — finaliza a sonhadora estudante.