Berço da imigração alemã no Rio Grande do Sul, São Leopoldo teve neste sábado (6) o primeiro dia de “suspensão total das atividades privadas”, decretada pelo prefeito Ary Vanazzi na véspera para reduzir a circulação de pessoas e tentar conter a transmissão do coronavírus.
As medidas colocadas em prática vão além das restrições previstas pela bandeira preta do modelo de distanciamento controlado do governo estadual. Com o decreto, que terá validade até as 23h59min da próxima terça-feira (9), Vanazzi fechou inclusive os mercados de médio e grande porte. Só estão autorizados a vender gêneros alimentícios os pequenos estabelecimentos de até 50 metros quadrados, com o máximo de dois funcionários. Os comércios varejista e atacadista podem fazer telentrega de produtos, mas as portas das lojas devem permanecer fechadas. O transporte coletivo funciona apenas em dois períodos, das 5h às 8h e das 17h às 20h.
Restaurantes e lancherias, somente com telentrega ao longo do dia, ficando as modalidades de drive-thru e pegue e leve autorizadas somente no horário de almoço. A permanência de pessoas em locais públicos, como parques, praças e centro comerciais, também está vedada até o final da próxima terça-feira. A prática de atividade física individual segue liberada. A indústria e a construção civil podem operar, observado limite de 75% da força de trabalho. Atividades consideradas essenciais, como farmácias, assistência veterinária, manutenção e abastecimento de veículos, entre outras, seguem de portas abertas.
As restrições mais severas levaram São Leopoldo, cidade de 238 mil habitantes localizada no Vale do Sinos e a 36 quilômetros de distância de Porto Alegre, a registrar baixa movimentação nas ruas neste sábado. Vias públicas tradicionais da cidade, como as ruas Independência e Primeiro de Março, ambas no Centro e de intensa circulação de pedestres, tiveram instantes de vazio.
— A decisão deu resultados, houve um esvaziamento muito importante na cidade. A maioria cumpriu o decreto. A população entendeu o recado. Até me surpreendeu. Acho que isso se deve ao agravamento da situação. Hoje (sábado) foi o pior dia da pandemia na região — diz Vanazzi.
Ele destaca que a UTI exclusiva para a covid-19 está esgotada: são 21 pacientes para 20 leitos no Hospital Centenário. Os 38 leitos clínicos da instituição estão todos ocupados. A situação dramática também pode ser medida pela oferta de ventiladores pulmonares: existem 16 equipamentos na UTI adulto, mas 23 estão ocupados, com remanejamentos de respiradores de outros setores para atender à demanda adicional. Com isso, a taxa de ocupação do aparelho, fundamental para os pacientes graves, é de 143,8%. A Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) do bairro Scharlau, exclusiva para atendimento de pacientes da covid-19, é outra a registrar superlotação, com 31 pessoas internadas.
Vanazzi diz que é necessária a adoção de um “lockdown de sete dias” na Região Metropolitana, reunindo em uma aliança os prefeitos e o governador Eduardo Leite. Caso contrário, ele avalia que a pressão política pela reabertura será “muito forte” para São Leopoldo suportar sozinha. Na terça-feira, o comitê de combate à covid-19, criado pela prefeitura para a tomada de decisões com a participação dos setores econômicos e sociais, irá se reunir para avaliar os números da pandemia. Vanazzi antecipa que, se o quadro de esgotamento do sistema de saúde se mantiver, ele irá propor ao comitê a prorrogação do decreto de suspensão total das atividades privadas.
— Só ontem (sexta), o Hospital Centenário recebeu 85 ligações da regulação (de leitos) do Estado para ver se tínhamos leitos disponíveis. Para a gente ver como está a situação na Região Metropolitana. A tragédia é que só libera leito quando alguém morre. Vai ter uma carnificina na região — diz Vanazzi.
Ele avalia que, se um lockdown de sete dias fosse adotado regionalmente, a transmissão do vírus seria cortada de forma mais abrupta, permitindo a retomada das atividades com maior rapidez.