A Santa Casa de Santana do Livramento, na Fronteira Oeste, demitiu, na última terça-feira (23), 59 funcionários, em meio ao pior momento da pandemia no Rio Grande do Sul. A informação foi confirmada pela secretária municipal de Saúde, Caroline Gomes. Segundo ela, a maioria dos 59 funcionários demitidos são agentes administrativos, apesar de a lista ser composta também enfermeiros e técnicos de enfermagem.
A secretária, no entanto, não soube dizer quantos profissionais da linha de frente foram demitidos. GZH procurou a administração do hospital, que ainda não detalhou quais as funções dos profissionais.
A secretária municipal entende que a demissão não vai prejudicar o atendimento dos casos de covid. Referência para região, a rede de saúde de Santana do Livramento tem 16 leitos de UTI e 11 estavam ocupados no início da tarde desta sexta-feira.
— O atendimento vai se manter. Até porque a gente não demitiu tantos profissionais como técnicos, enfermeiros e do meio fim. Eu, como ex-enfermeira da Santa Casa, não me preocupo — garantiu.
Já o Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde de Santana do Livramento (Sindisaúde) afirma que entre os demitidos está a chefe de enfermagem da UTI.
Em uma nota publicada em uma rede social (confira na íntegra abaixo), a administração do hospital afirma que as demissões ocorreram por necessidade de "medidas de contenção de custos, mas sem deixar de que se mantenha a qualidade na prestação dos serviços". Argumentou que, entre os motivos, estão "dificuldades históricas que enfrenta e o momento socioeconômico" e que, embora saiba da "importância e do esforço de cada um dos funcionários neste momento crítico, não podemos manter um elevado quadro com uma remuneração justa".
"Dito isso, a diminuição do quadro de funcionários é medida lamentada pela equipe diretiva, mas consciente de que não há possibilidade de contemplar, desde suas necessidades básicas até as mais urgentes, sem os ajustes necessários, visto que não podemos manter a folha em dia, impondo ser adotada a reorganização planejada da estrutura não somente de recursos humanos, mas, igualmente, reestruturação para aquisição de insumos e materiais indispensáveis à manutenção da rotina hospitalar, sempre visando garantir que todos os envolvidos na atividade sejam contemplados", prosseguiu a nota.
Trabalhadores do sindicato fazem uma mobilização, que completou 24 horas na manhã desta sexta-feira (26), em frente à prefeitura. O objetivo é tentar uma reunião com a prefeita Ana Tarouco para reverter as demissões ou para assegurar o pagamento da rescisão contratual. Segundo o presidente do Sindisaúde, Sílvio Madruga, há dívidas de Fundo de Garantia com os servidores demitidos.
— O mundo inteiro abraça os profissionais de saúde neste momento grave da pandemia. Aqui demitem sem nem falar nada, sem dizer se pagarão as dívidas — declarou Madruga.
A situação já vinha complicada no hospital. Em 24 de janeiro, houve uma greve devido ao atraso no pagamento de salário de novembro e dezembro, que foi suspensa após um acordo na Justiça do Trabalho. Agora o sindicato avalia uma nova greve dos profissionais da instituição.
Um dos maiores hospitais do sul do Estado e com prioridade ao Sistema Único de Saúde (SUS), a Santa Casa de Livramento enfrenta uma grave crise financeira. Desde 2015, a instituição é administrada pela prefeitura. Ao longo de 2020, de acordo com a direção, a instituição operou com déficit de R$ 500 mil mensais só em salários.
Além disso, no ano passado, a Polícia Federal deflagrou uma operação para investigar suspeitas de corrupção no hospital. A Operação Sem Misericórdia apurou supostos desvios de R$ 2,2 milhões pela administradora que esteve à frente do hospital até 2020. Os diretores do Instituto Salva Saúde negaram os desvios, mas foram indiciados pela investigação.
Confira a nota da direção da Santa Casa de Livramento
"A Santa Casa de Misericórdia de Livramento vem a público esclarecer que apesar das dificuldades históricas que enfrenta e do momento socioeconômico que é de conhecimento de todos e agravado em razão da pandemia, que é de ordem mundial, escapando a qualquer intervenção desta instituição de saúde, tornam-se necessárias e, infelizmente prioritárias, medidas de contenção de custos, mas sem deixar de que se mantenha a qualidade na prestação dos serviços. Muito embora a empresa saiba da importância e do esforço de cada um dos funcionários neste momento crítico, não podemos manter um elevado quadro com uma remuneração justa.
Dito isso, a diminuição do quadro de funcionários é medida lamentada pela equipe diretiva, mas consciente de que não há possibilidade de contemplar, desde suas necessidades básicas até as mais urgentes, sem os ajustes necessários, visto que não podemos manter a folha em dia, impondo ser adotada a reorganização planejada da estrutura não somente de recursos humanos, mas, igualmente, reestruturação para aquisição de insumos e materiais indispensáveis à manutenção da rotina hospitalar, sempre visando garantir que todos os envolvidos na atividade sejam contemplados.
É com grande pesar que esta nota é emitida e esperamos a compreensão da situação vivenciada pela instituição e, lembrando que a Santa Casa é de todos e para todos, confiando que juntos poderemos reverter esse quadro o mais breve possível."