Para dar início à produção das doses da vacina de Oxford contra a covid-19 no Brasil, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) aguarda o envio de um importante insumo por parte da farmacêutica AstraZeneca: o ingrediente farmacêutico ativo (IFA), que é a matéria-prima para fabricar as doses. Segundo a Fiocruz, a previsão é de que o envio ocorra ao longo deste mês e que a fabricação comece em 20 de janeiro.
No contrato fechado entre o governo brasileiro e a AstraZeneca, ficou estabelecido que a Fiocruz começaria a produzir doses após receber o IFA para processar e envasar as vacinas na fábrica de Bio-Manguinhos, pertencente à Fiocruz, no Rio de Janeiro.
Até julho de 2021, a perspectiva é de que a Fiocruz entregue 110,4 milhões de doses da vacina de Oxford ao governo brasileiro. Com a transferência de tecnologia, espera-se produzir mais 110 milhões de doses no segundo semestre.
Cada pessoa precisa tomar duas injeções para alcançar a proteção necessária, que varia entre 62% e 90%, segundo resultados divulgados na revista The Lancet.
O primeiro lote com 1 milhão de doses produzidas no Brasil deve ser entregue entre 8 e 12 de fevereiro. Na semana seguinte, será liberado mais um lote de 1 milhão de doses e, a partir da terceira semana, de 22 a 26 de fevereiro, serão 700 mil doses diárias, totalizando 3,5 milhões de doses por semana.
Para iniciar a vacinação em fevereiro com as doses produzidas no Brasil, a Fiocruz projeta solicitar o registro de uso definitivo da vacina de Oxford à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 15 de janeiro.
Por e-mail, a Fiocruz afirmou a GZH nesta terça-feira (5) que “inicialmente o IFA será importado, mas o processamento da vacina, ou seja, a produção propriamente dita, será realizada aqui em Bio-Manguinhos. Isso inclui os processos de formulação, envase e controle de qualidade. A previsão é que as primeiras doses estejam prontas no início de fevereiro”.
Importação da Índia é estratégia à parte para iniciar vacinação antes
Uma segunda estratégia adotada pela Fiocruz para começar o quanto antes a vacinação, costurada enquanto aguarda o recebimento do IFA pela AstraZeneca, é a importação de 2 milhões de doses já prontas do Instituto Serum, da Índia – um dos centros capacitados pela farmacêutica anglo-sueca para a produção da vacina de Oxford. Em caráter excepcional, a Anvisa autorizou, em 31 de dezembro, a importação.
Com o aval da agência regulatória, a Fiocruz aguarda a finalização das tratativas e o recebimento de mais informações para submeter à Anvisa o pedido para o uso emergencial da vacina de Oxford produzida na Índia, o que deve ocorrer ainda nesta semana. Com isso, a vacinação com as doses importadas (e não as produzidas no Brasil) pode ocorrer em janeiro.
A Anvisa já declarou que precisaria de mais dados para aprovar o uso emergencial, como a garantia de que as doses da vacina de Oxford produzidas na Índia são iguais à produção no Reino Unido, incluindo o local de fabricação, o material e o método.
A Fiocruz destaca que a compra das doses da Índia não impacta no cronograma de produção das vacinas no Brasil: a fabricação nacional e a importação são duas ações diferentes e independentes.
A importação de doses da Índia é “uma estratégia complementar para antecipar o máximo possível o início da vacinação, sem prejuízo das estratégias já em curso”, afirmou a Fiocruz em nota publicada na segunda-feira (4).
“Em reunião realizada recentemente com o Ministério da Saúde e a Fiocruz, a AstraZeneca apresentou o cenário atual e a viabilidade de entregar ao governo brasileiro doses prontas, com a finalidade de antecipar o início da vacinação e reduzir os graves problemas causados pela pandemia”, diz o texto.
O Ministério das Relações Exteriores brasileiro confirmou, nesta terça-feira, que as doses da vacina de Oxford produzidas na Índia chegarão ao país. O anúncio ocorreu após um vaivém: o CEO do Instituto Serum, Adar Poonawalla, disse que a exportação fora proibida pelo governo indiano até que toda a população prioritária fosse vacinada. Nesta terça-feira, os laboratórios da Índia garantiram a produção para o mercado internacional.
Apesar de a vacina da AstraZeneca ter menor eficácia em relação às da Pfizer e da Moderna, as doses não precisam ser armazenadas em ultracongeladores – portanto, são distribuídas sem que o governo tenha de adaptar a logística de imunização.
Analistas vêm afirmando que, em um cenário de nenhuma vacina, uma eficácia de 62% é ótima e já ajuda a proteger a população. Ao mesmo tempo, cobram que o Ministério da Saúde feche parcerias com outras farmacêuticas para assegurar mais doses aos brasileiros.
A vacina de Oxford usa a tecnologia de vetor viral: um vírus “primo” atua como vetor para estimular a resposta imune do organismo. Nas vacinas desse tipo pesquisadas, cientistas pegam o adenovírus de macaco, que causa resfriado, removem sua carga genética e deixam apenas a "carcaça". Dentro da "carcaça", inserem um pedacinho do Sars-CoV-2. Nossas células, ao entrarem em contato com o vetor, estimularão o sistema imune a produzir anticorpos contra a covid-19.