Em entrevista ao programa Gaúcha+, o presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), José Miguel Chatkin, detalhou as novas recomendações do Ministério da Saúde sobre o uso da cloroquina em paciências com coronavírus, lançadas nesta quarta-feira (20).
Ele destacou que o documento do governo federal é uma autorização do uso do medicamento, não uma obrigatoriedade. A decisão do médico pode ou não seguir a orientação.
— Esta é uma decisão individual do médico junto a seu paciente. Não há nenhuma indicação de que a cloroquina e hidroxicloroquina tenha efeito no tratamento da covid-19. Há indícios, pelo contrário, de que essas substâncias aumentam a gravidade da doença e contribuem para o óbito.
Chatkin afirmou que, caso opte pelo uso, o médico deve explicar “muito claramente” os eventuais riscos aos pacientes. Caso a pessoa não esteja em condições, algum familiar deve se tomar a decisão.
— Os piores efeitos são no coração. Pessoas com arritmia em uso de cloroquina podem ter uma parada cardíaca. Têm outros efeitos menos frequentes no fígado, como anemia. Então é uma droga que não é simples, não é um medicamento que se possa usar de olhos fechados. E mais: a quantidade e gravidade dos efeitos adversos, a frequência deles, variam conforme a dose utilizada e o tempo, ou seja, quanto maior for a dose diária e por mais dias, a possibilidade de efeitos adversos aumentam bastante.
Ele explicou que existem três modos pelos quais a cloroquina e a hidroxicloroquina funcionam, conforme observado ao analisar células isoladas.
— O primeiro mecanismo é que ela (cloroquina) aumenta o PH intracelular e, com isso, o vírus não consegue pôr seu material genético dentro da célula. O segundo seria uma interação da cloroquina com determinados receptores celulares, que são como tomadas de luz em que o vírus se encaixa para introduzir o material genético nas células. Quando esse receptor está ocupado pelo vírus, o que acontece é que algumas substancias pró-inflamatórias ficam mais livres para funcionar. O terceiro mecanismo, o mais considerado em relação a efeitos, é uma intervenção que se chama de tempestade de citoquinas. Quando acontece a doença em sua fase grave, há uma grande liberação destas citoquinas, a ponto de poder ser chamada de tempestade, tamanha a quantidade e variedade.
O médico destacou que não há semelhanças entre a novalgina e a cloroquina e que esta última deve ser administrada com cautela, caso o médico opte por fazê-lo. O método deve observar as orientações lançadas pelo governo. Ele reitera que o documento traz informações ilustradas e detalhadas a respeito da medicação, que devem ser analisadas com atenção por profissionais da sáude.