Monitorar o sono, contar os passos e controlar a quantidade de atividade física diária são algumas das funções das chamadas tecnologias "vestíveis". Pelo segundo ano consecutivo, elas lideram a tradicional lista de tendências fitness do Colégio Americano de Medicina do Esporte (American College of Sports Medicine, ACSM). Todos os anos, a entidade divulga uma pesquisa feita com profissionais de Educação Física, estudantes, médicos e outros indivíduos da área para elencar o que deve "bombar" nos próximos 365 dias. Nesta edição, além de indicar as tendências globais, a ACSM publicou os dados de uma pesquisa regional, que aponta as tendências na América do Norte, Ásia, Europa e América do Sul.
Com presença garantida há anos entre os cinco primeiros colocados no levantamento global, as novas tecnologias, o High Intensity Interval Training (o popular HIIT) e o treino em grupo seguem no topo (veja abaixo a lista completa). Contudo, chama a atenção, neste ano, a ascensão de uma tendência: o exercício como remédio. De acordo com o ACSM, esse tópico diz respeito a uma iniciativa global focada em incentivar médicos e profissionais da atenção primária a incluir uma avaliação de atividade física dos seus pacientes, além de encaminhá-los para profissionais de Educação Física. Essa tendência era a décima na pesquisa de 2019 e pulou para a sexta na previsão para 2020.
— Isso não seria uma tendência, mas uma constatação que há tempo trabalhamos. Exercício é saúde. O corpo humano foi feito para o movimento, porém, ninguém ganhou um manual de instruções de como usá-lo. É mais fácil ficar parado do que estar em movimento — diz o professor mestre Paulo Ricardo Ayres, coordenador técnico da Cia. Athletica.
As três tendências mais citadas:
- Tecnologias "vestíveis" — Na lista desde 2016, essa tendência foi a número 1 na sua estreia, em 2017, e caiu para a terceira colocação em 2018. Há dois anos, é a primeira do ranking. Abrange rastreadores, dispositivos para monitorar os batimentos cardíacos, controlar calorias e horas sentado.
- High-Intensity Interval Training (HIIT) — Medalha de ouro em 2014 e 2018, o treinamento tem aparecido sempre no top 5 do ACSM. A ideia dessa modalidade é enfatizar atividades de alta intensidade intercaladas com períodos de descanso ou recuperação. Tudo isso feito em um período curto de tempo. Apesar de tentador — o treino traz bons resultados e requer pouco tempo —, a modalidade não é recomendada para iniciantes, sugere Ayres.
- Treino em grupo — São as famosas aulas coletivas, como de bike indoor, step ou dança. A vantagem desses treinos é a questão motivacional que o grupo favorece.
Tratamento para evitar doenças
Ayres afirma que tem observado uma mudança de comportamento da população nos últimos anos: se antes a academia só lotava às vésperas do verão, agora, há mais movimentação nas outras épocas.
— Tem mais fluxo o ano todo, o que mostra essa preocupação — garante.
O médico do Esporte do Hospital Moinhos de Vento Luiz Crescente acredita que essa nova posição na lista é reflexo de um conhecimento maior das pessoas e dos médicos sobre a inclusão da atividade física como componente do tratamento.
— Até certo tempo, alguns colegas tinham restrição de indicar exercício físico. Mas hoje, com as pesquisas, vemos que a atividade física se mostra um método eficaz e seguro.
Crescente, que também é membro da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte, reforça que há inúmeras doenças que têm recomendação de exercícios como parte do tratamento.
— As cardiopulmonares, as metabólicas, como o diabetes, as renais, as psiquiátricas e oncológicas. Está provado que há vários tipos de câncer que são prevenidos com atividade física — enumera.
Nesse sentido, o próprio ACSM divulgou, em outubro, o resultado de uma reunião com uma série de entidades relacionadas ao câncer. Na ocasião, foram estabelecidas diretrizes para prevenção do câncer por intermédio do exercício bem como a recomendação de atividades durante e após o tratamento.
Esta edição do relatório também incluiu um levantamento regional, que indicou as tendências nas Américas do Norte e do Sul, na Ásia e na Europa. Em destaque nas quatro regiões, diz o ACSM, estão a importância de incentivar o exercício e os esportes entre crianças e jovens. Também há uma preocupação em estimular as práticas de atividades entre os mais velhos. Conforme o documento, "os achados destacam que ambos, crianças e adultos e idosos, são populações-alvo importantes".
Na América do Sul, participaram Brasil e Argentina. Ao todo, foram respondidos 894 questionários e os resultados mostraram que a tendência número 1 é o exercício para perda de peso. Na sequência, foram elencados o estilo de vida saudável e o treino com personal trainer.