Com olhar fixo na plateia e repetindo a frase que se tornaria marca do seu discurso: How dare you? (Como vocês ousam). Assim a adolescente ativista Greta Thunberg se dirigiu ao plenário da cúpula do clima na ONU nesta segunda-feira (23).
A sueca de 16 anos se tornou uma das principais figuras do combate ao aquecimento global e vem ganhando destaque internacional pelas suas posições, mas também por ter uma doença até então pouco conhecida: a síndrome de Asperger.
Greta foi diagnosticada com o quadro, um tipo de autismo, por volta dos 11 anos. Antes disso, a adolescente havia passado por um período de depressão em função do temor ao meio ambiente, deixando de ir à escola. A sueca vem se tornando alvo de críticos pela intensidade de seu posicionamento — muitos sem entender que parte de sua personalidade deriva da síndrome.
Batizado em homenagem ao pediatra austríaco Hans Asperger, desde 2013, o quadro deixou de figurar como um diagnóstico específico no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5). Atualmente, é entendido como uma das muitas formas de apresentação do Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). Trata-se de uma forma leve da doença, onde o indivíduo não apresenta atraso no desenvolvimento intelectual ou da linguagem.
Diagnóstico costuma ser tardio
— Pessoas com TEA, incluindo aquelas com síndrome de Asperger, têm dificuldades em interpretar a linguagem verbal e não verbal, como gestos ou tom de voz. Muitos têm um entendimento muito literal da linguagem e acham que as pessoas sempre querem dizer exatamente o que é dito — explica a neuropediatra e professora da faculdade de medicina da UFRGS Renata Rocha Kieling.
— Eles podem achar difícil entender expressões faciais, piadas, sarcasmo, metáforas e conceitos abstratos, por exemplo. Muitos têm dificuldade em entender as expectativas dos outros nas conversas, por vezes conversando longamente sobre seus próprios interesses — completa.
Conforme Renata, apesar da dificuldade de interação social, jovens com o quadro possuem uma "inteligência normal ou até acima da média". Com frequência, apresentam interesse intenso por alguma área ou assunto específico. Isso ajudaria a explicar o discurso dela em meio a líderes mundiais na ONU.
Assim como todas as formas de autismo, as causas seguem desconhecidas.
— Ainda não existem causas conhecidas, mas, seguramente, o transtorno tem bases genéticas. Não significa ser transmitido de pai e mãe, mas no sentido de que, pelo menos, parte do fenômeno é explicado por alterações em genes específicos — explica a neuropediatra.
Diferentemente do autismo clássico, que pode ser descoberto ainda nos primeiros anos de vida, a síndrome de Asperger costuma ser diagnosticada mais tardiamente, principalmente em crianças com idade escolar ou na adolescência.