Idosas com pouca massa muscular podem ter até 63 vezes mais risco de morrer do que mulheres acima de 65 anos sem essa condição física. É o que revela estudo desenvolvido na Universidade de São Paulo (USP). Nos homens, a mortalidade pode ser 11,4 vezes maior.
Foram acompanhadas 839 pessoas, moradoras do bairro Butantã, na zona oeste paulistana. Os estudos tiveram início em 2005, com a participação de um grupo de 1.025 pessoas idosas. Elas fizeram exames de sangue e de composição corporal por densitometria e responderam a questionários. O estudo teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp).
— De 2010 a 2012, essas pessoas foram reconvocadas. Entre os que voltaram, tivemos notícia de 839 pessoas, das quais 15,7% haviam falecido. Fomos comparar aqueles pacientes que estavam vivos na segunda convocação com aqueles que haviam falecido e ver quais eram os fatores que poderiam estar relacionados com a morte — disse a professora da Faculdade de Medicina da USP Rosa Maria Rodrigues Pereira, coordenadora da pesquisa.
Perda conhecida como sarcopenia
Segundo ela, já existiam questionamentos sobre a importância da massa muscular e o estudo da USP reafirmou essa ideia.
— Não imaginávamos que fosse tão importante. Os voluntários eram indivíduos saudáveis. Isso mostra que, realmente, a prevenção, para melhorar a massa muscular, é bastante importante — disse a pesquisadora, ao lembrar que o envelhecimento já implica perda de massa muscular e que doenças crônicas contribuem para agravar o problema.
A perda generalizada e progressiva de massa muscular associada ao envelhecimento é conhecida como sarcopenia. De acordo com a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, tal condição aparece em 46% dos indivíduos acima de 80 anos.
Na análise final foram incluídos 323 (39%) homens e 516 mulheres (61%). A frequência de baixa massa muscular nessa amostra foi em torno de 20% em ambos os sexos. Dos 132 voluntários mortos após cerca de quatro anos, o que foi verificado na reconvocação, 43,2% morreram por problemas cardiovasculares. O índice de mortes entre os homens foi de 20% e, entre as mulheres, de 13%. De modo geral, os indivíduos que morreram eram mais velhos, faziam menos atividade física, sofriam mais de diabetes e de problemas cardiovasculares.
Diferença entre gêneros
No caso das mulheres, ao analisar qual fator da composição corporal estaria associado ao risco de morte — já consideradas as variáveis de ajuste –, apenas o índice de massa muscular baixo mostrou-se significativo. Entre os homens, a gordura visceral também foi um fator relevante. A chance de morrer tornava-se duas vezes maior a cada aumento de 6 centímetros quadrados na gordura abdominal.
Uma das razões que podem explicar a diferença entre os sexos na importância da perda de musculatura como marcador de mortalidade é a mudança hormonal relacionada à menopausa.
— Essa perda rápida, que ocorre com a queda de estrogênio, talvez seja um fator importante para diminuir mais músculo na mulher do que no homem, no qual a perda é um pouco mais lenta — explicou Rosa Maria.
Os pesquisadores afirmam que a massa muscular é fundamental para a postura, equilíbrio e movimento, mas tem outras funções no organismo, como regulagem dos níveis de glicose no sangue, da temperatura corporal e produção de mensageiros hormonais, como a mioquinase, que promove a comunicação com diferentes órgãos e influencia respostas inflamatórias. A sarcopenia pode ser revertida com a prática de exercícios físicos, especialmente a musculação, além de cuidados com a ingestão de proteínas.