Correção: entre 16h de segunda (24) e 12h55min desta terça (25), a reportagem informou equivocadamente que o caso havia sido passado para a Polícia Federal em abril. O correto é para o Ministério Público. A informação foi corrigida no texto.
Permanece um mistério para as autoridades o que levou a menina Bianca Vitória Silbershlach Cézar, um ano e sete meses, a ser declarada morta logo após nascer, embora ainda estivesse viva. O atestado de óbito foi dado pelo obstetra que chefiou a equipe médica que a atendia, no Hospital Universitário de Santa Maria (Husm), na região central do Estado. A morte foi atestada em 6 de fevereiro de 2017 e, desde então, foram abertas investigações na Polícia Civil, na Polícia Federal e dentro da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), à qual o hospital é vinculado. Nenhuma delas está concluída e não se sabe por que a criança foi colocada numa sala destinada aos corpos, saindo dali apenas porque uma enfermeira desconfiou que pudesse estar viva.
Desde o nascimento, Bianca esteve internada nove vezes no Husm e fez 38 consultas. Na semana passada, foi transferida para Porto Alegre, em decorrência de um coágulo e de uma endocardite (infecção no coração), cujo tratamento não pode ser feito em Santa Maria. Nesta segunda-feira (24), ela fez ressonância e aguarda cirurgia, na UTI do Hospital da Criança Santo Antônio.
Bianca nasceu prematura, em meio a uma crise de pressão alta (eclampsia) de sua mãe, Tieli Martins Silbershlach. Conforme médicos relataram a Tieli e ao marido dela, Marcos Renato Cézar, a menina teve parada cardiorrespiratória durante a cesariana. O óbito foi declarado às 13h18min, tendo como causas da morte "sofrimento fetal agudo, deslocamento prematuro de placenta e hipertensão gestacional". Às 13h28min, a criança foi levada para o "descarte", uma sala ao lado do centro cirúrgico, onde são deixados corpos dos que morrem. Só que estava viva.
Foi às 19h15min, seis horas depois, que uma enfermeira reparou o tom rosado na face de Bianca e respiração agônica. Aí foi uma correria, até que médicos fossem convencidos de que a criança estava viva. Desde então, a menina vive mais tempo em hospitais do que em casa, descreve o pai dela, Marcos Cézar.
Equipe médica ainda não foi ouvida
GaúchaZH foi atrás das investigações a respeito do episódio. Na Polícia Civil, foi aberto um inquérito para apurar possíveis negligências na equipe médica do Husm. Por decisão do Ministério Público Estadual, porém, a investigação foi repassada para a Polícia Federal (PF), já que os fatos ocorreram num hospital federal. O delegado Antônio Firmino de Freitas Neto, da 4ª Delegacia de Polícia de Santa Maria, diz que nada avançou, entre outros motivos, porque o hospital adiou envio de documentos, inclusive prontuários médicos. Até por isso a equipe médica não foi ouvida.
– Passamos o caso para a Ministério Público em abril, que nos devolveu – relata ele.
Já o delegado regional da PF em Santa Maria, Getúlio Jorge de Vargas, afirma que o material requisitado pela Polícia Civil é aguardado pelos federais, "para não haver duplicação de esforços". O caso chegou à PF somente no último mês de agosto. Por isso tampouco avançou ali a investigação.
Os responsáveis são investigados por causar lesão corporal grave.
Na Universidade Federal de Santa Maria, tramita uma sindicância, que pode resultar em advertência ou até demissão de integrantes da equipe médica que atendeu Bianca.