Popular na voz do narrador Galvão Bueno, o bordão "haja coração" não se resume a uma expressão dita pelo simples acaso. De fato, fortes emoções, como partidas de futebol, podem acarretar em infartos. Prova disso foi um estudo feito na Inglaterra durante os jogos da Copa do Mundo de 1998. Conforme o levantamento, o número de atendimentos em decorrência de infartos do miocárdio aumentaram em 25% no dia em que a Inglaterra perdeu nos pênaltis para a Argentina. Em 2006, algo semelhante foi visto na Alemanha durante as partidas, lembra o gerente médico do Programa de Cardiologia do Hospital Israelita Albert Einstein, de São Paulo, Marcelo Franken:
— Houve um aumento de duas vezes na quantidade de infartos perto dos jogos da Alemanha.
Picos de emoções podem podem vir de acontecimentos que nos afligem a partir de cargas internas ou externas, explica o chefe do Serviço de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista Hospital Moinhos de Vento, Marco Wainstein.
— Há vários relatos de que, em momentos de extrema emoção, tanto interna quanto externa, existem picos de infartos. As cargas externas são terremotos, por exemplo, ou jogos de futebol. A interna pode ser a morte de um parente — ilustra o médico do Moinhos.
Para fugir do risco a cada lance emocionante da partida, não tem receita de bolo. O ideal é controlar os fatores de risco antes do time entrar em campo: manter a pressão sob controle, fazer check-up com regularidade, cuidar da dieta, fazer atividades físicas, não abusar do álcool e evitar o cigarro.
— Não se deve fumar nesses momentos de estresse, pois o cigarro aumenta o risco de eventos cardíacos — destaca Wainstein.
Franken acrescenta que todo e qualquer exagero deve ser evitado:
— As pessoas tendem a confraternizar nos dias de jogos. Aí, comem coisas não tão saudáveis: churrasco com muito sal, embutidos, salgadinhos com muito sódio. As refeições muito fartas podem ser gatilhos. Além disso, podem querer praticar esporte sem estarem condicionadas, o que é arriscado.
Além de maneirar, uma boa dica seria fugir desses momentos de muita adrenalina. Dar um tempo na partida pode ser uma boa saída para quem percebe que se emociona muito com os jogos. Em casos extremos e muito específicos, pode haver recomendação para uso de tranquilizantes.
— Mas só com prescrição médica — ressalta Wainstein.
Ao sentir qualquer sintoma, como dor no peito, a pessoa mais próxima deve ser avisada. O paciente deve ser levado imediatamente para um serviço de emergência médica, orienta Franken.