Dia de glitter, purpurina, fantasias, adereços, dança, sol e calor. Parece até um dia de fevereiro, mas é maio.
Um Carnaval fora de época tomou conta da Praça Itália, no bairro Praia de Belas, em Porto Alegre, nesta quinta-feira (1º). Trata-se da abertura da 6ª edição do Honk!POA – Festival de Fanfarras Ativistas.
O evento teve início às 14h, e a previsão era de que se estendesse até as 22h30min, com apresentação de 17 fanfarras de diferentes localidades. Milhares de pessoas compareceram à praça em um feriado marcado por um leve veranico que chegou a 25ºC à tarde — embora a temperatura fosse despencando com o avançar da noite.
Entre o público do Honk!POA, prevalecia uma diversidade de cores, idades e estilos. A maior parte dos presentes trajava roupas coloridas, misturando adereços e enfeites. Mas havia quem aproveitasse fantasias, como um grupo de pessoas vestidas de vacas.
Pela praça estava a advogada Marina Nedel Costa, 35 anos, combinando verde e preto em seu traje. Moradora da capital gaúcha, ela vai a todo Honk!POA desde a primeira edição, de 2019.
— Para mim é o festival de rua mais bonito que há em Porto Alegre. Moramos numa cidade que não tem muito apoio para ocupações da rua como um todo. E o Honk está aí ocupando os lugares que as pessoas querem estar, que são boêmios há muito tempo, sem desrespeitar ninguém e deixando as ruas limpas — destaca Marina.
— É um festival que só traz benefícios pra cidade. Pode ir do jeito que quiser. Todo mundo é bem vindo — completa.

Os foliões formavam um círculo em volta das fanfarras no meio da praça. Cada grupo tinha 30 minutos para apresentar seu repertório. O que se ouvia dos músicos era superlativamente eclético.
Por exemplo, havia desde Além do Horizonte, de Roberto Carlos, a I Got You (I Feel Good), de James Brown. De Celebration, do Kool & The Gang, ao funk Morto Muito Louco, de Jack e Chocolate. Até o clássico da eurodance Something, do Lasgo, foi tocado.
Há também fanfarras que investem em repertório autoral, caso da porto-alegrense Bate Sopra. Para um dos saxofonistas do grupo, João Pedro Siliprandi — mais conhecido como JP —, há um muito intercâmbio cultural no evento.
— A coisa mais legal do Honk é a possibilidade de ouvir muitas referências sonoras. Vem uma fanfarra de fora com um repertório "X", com um jeito de tocar tal, e trazem isso na sua identidade — explica JP.

Ainda, havia também fanfarra com foco específico, como a Gilbloco Gil. Formado em Florianópolis (SC) no ano passado, o grupo surgiu para homenagear aquele que definem como a grande estrela do Brasil.
Carolina Becker Peçanha, produtora e porta-estandarte do Gilbloco Gil, participava pela terceira vez do Honk!POA. Ela lembra que em 2024 foi realizado um Aquece Honk! Solidário RS na capital catarinense, visando arrecadar ajuda para movimentos sociais gaúchos. Para eles, não havia sentido em fazer uma edição completa sem os padrinhos de POA, por conta da enchente — por isso o “aquece”.
— Já fui em outros Honks ao redor do Brasil, mas o que acho muito especial do Honk de Porto Alegre é que a cidade vive o festival. Em cidades maiores, às vezes, o evento fica espalhado, mas aqui em Porto Alegre me parece que a cidade o vive — relata Carolina.
"Perigosa e Gringa"

Entre os instrumentistas, havia o tubista Antônio Roberto de Jesus Filho, mais conhecido como Mestre Torão, que se apresentaria em oito fanfarras. Ele também é o mestre da Desorkestra Montanhosa, fanfarra de Caxias do Sul.
— É a união de tribos diferentes. O nosso grupo é bem heterogêneo, com alunos, profissionais, entusiastas. Foi unida dessa forma numa noite gelada de verão de Caxias, onde o clima é tão instável quanto o humor de um Carnaval gaúcho (risos). Foi feita para ser uma bagunça organizada — diz Mestre Torão.
Formada no final de 2024, Desorkestra Montanhosa tem um repertório que passa por marchinhas de carnaval, reggae, rock, pop, MPB e o que mais der vontade de tocar. Até bailão.
Aliás, ao apresentar Perigosa e Linda, sucesso do grupo Corpo e Alma, a fanfarra abriu uma faixa com os dizeres “Perigosa e Gringa”, referenciando sua terra natal.
Entre conversas e cortejos

Até domingo (4), a 6ª edição do Honk!POA – Festival de Fanfarras Ativistas reúne mais de trezentos músicos de fanfarras do Brasil e da Argentina para ocupar as ruas da capital gaúcha. A expectativa da organização é que sejam reunidas 10 mil pessoas.
Além das apresentações gratuitas em diferentes pontos da cidade, haverá ações e oficinas em três comunidades atingidas pela enchente do ano passado: Vila Elizabeth (Sarandi), Humaitá e Cabo Rocha.
— A intenção do Honk é ter um vínculo com essas comunidades, não é só chegar e tocar. Não é turismo de favela. É ter esse elo — explica Carólis Pizzato, produtora do festival.
Na última quarta (30), o Honk teve início com uma roda de conversa “Quando o Rio Fala: Memória, Enchente e Resistência nas Margens da Cidade”, com um cortejo que partiu da Rua General Canabarro até a Usina do Gasômetro.
O tema deste ano é O Caminho das Águas. Conforme a organização do evento, a ideia é promover uma “reflexão sobre os impactos socioambientais nas cidades, os fluxos de resistência e os caminhos de reconstrução coletiva”.
— A edição do ano passado ocorreu às vésperas da enchente em Porto Alegre. No último dia do Honk do ano passado, já chovia. Para nós, era muito óbvio trabalharmos com esse tema — destaca Carólis.
Contando com apoio da Secretaria Municipal da Cultura, o festival é realizado por meio de financiamento coletivo. A organização também o viabiliza por meio da venda de produtos (como bonés e camisetas) e festas de arrecadação. As fanfarras que integram o Honk também tocam nesses eventos, abrindo mão do cachê para o festival.
6ª edição do HONK!POA
A programação completa das apresentações e mais detalhes atividades do festival podem ser conferidas no Instagram oficial.
O cortejo de encerramento, que reunirá fanfarras participantes, deve partir do Centro Cultural Lupicínio Rodrigues (Érico Veríssimo, 307), neste domingo (4), a partir das 14h.