
Um dia perfeito de sol e calor, complementado pela distribuição gratuita de erva-mate e água quente e pelo desfile de carros antigos atraiu milhares de pessoas neste domingo (23) ao tradicional Brique da Redenção, em Porto Alegre.
As atrações costumeiras da feira ao ar livre foram incrementadas neste final de semana por iniciativas destinadas a celebrar os 47 anos do brique montado na Rua José Bonifácio. A que mais chamou atenção dos frequentadores foi a passagem dos veículos antigos, que saíram por volta das 9h30min do Shopping Total e estacionaram junto ao Parque da Redenção.
A frota serviu de cenário para fotos que sugeriam uma viagem no tempo — entre os automóveis mais longevos estavam dois Ford T da década de 1920.
O desfile de carros do Veteran Car Club do Rio Grande do Sul já é um evento tradicional neste período do ano, mas é visto como novidade por muitos frequentadores eventuais ou novatos da feira quase cinquentona. A pedagoga Lara Konig da Silva, 25 anos, por exemplo, só passou a circular aos domingos pela José Bonifácio há um mês.
— Sou de Três Forquilhas, e moro na Capital há dois anos. Uma vizinha disse que eu tinha de conhecer o brique, e desde que eu vim pela primeira vez, se tornou meu ponto de paz na cidade, onde venho para espairecer, ver coisas antigas — contou Lara, logo depois de posar para fotos ao lado de um reluzente Chevrolet Bel Air de 1951 em tom esverdeado.
Ao lado estava um Renault Colorale, também de 1951, que se encontra em posse da mesma família há sete décadas.
— Só tenho conhecimento de outros quatro deles em todo o Brasil — conta o proprietário, Cezar Maciel, analista de sistemas de 62 anos.
O veículo foi adquirido pelo pai de Maciel em 1954, que o usava para trabalhar. O pai morreu em 2010, e em 2013 teve início o restauro do carro.
— Desmontamos e remontamos todo ele. Levou cinco anos. Como meu pai comprava peças (de reposição) quando as encontrava, felizmente já tínhamos praticamente todas as peças em casa para fazer a restauração — complementa o analista de sistemas.
Pouco metros adiante, estavam um Ford T de 1926 e outro de 1923, em meio a outras raridades como um Mercury conversível, um Cadillac, um Jaguar Vanden Plas e um Chevrolet Impala.
Sob as árvores do canteiro central, o casal de Palmares do Sul Airton Fonseca de Azevedo, 72 anos, e Maria Angélica de Azevedo, 70, aproveitavam para matar a saudade daqueles quarteirões cheios de gente após mais de duas décadas de ausência. Depois de uma primeira visita, lá pelos anos 2000, não haviam voltado à principal feira da Capital. Como se encontravam na cidade depois de assistir ao show de Caetano Veloso e Maria Bethânia, ocorrido na noite anterior, resolveram revisitar a José Bonifácio.
— Eu já havia achado muito bonito da primeira vez, muito original. A partir de agora, pretendemos voltar com mais frequência — garantiu Maria Angélica, levando na sacola um disco decorativo de vinil, em que foram desenhados os rostos dos quatro beatles, como presente para o genro.
Ao longo do passeio, Airton, Maria Angélica e os milhares de frequentadores foram deparando com a multiplicidade de atrações que caracteriza o Brique da Redenção e seus arredores a cada domingo: além das bancas de artesanato, antiguidades, artes plásticas e gastronomia, uma banda de jazz tocava sob a sombra das árvores, uma estátua viva se mantinha imóvel à espera de doações, amigos e casais mateavam, e todo aquele mar de gente mantinha viva uma tradição de 47 anos.
A história
A celebração deste domingo integra a programação oficial do aniversário de Porto Alegre, que comemora 253 anos em 26 de março. O evento deste final de semana foi organizado pela Comissão Deliberativa do Brique da Redenção, com o apoio das secretarias municipais de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Eventos e de Cultura e do Shopping Total.
Criada em 1978 por antiquários, a feira funciona desde 1982. Inspirada no Mercado de Pulgas, de Montevidéu, e na Feira de San Telmo, de Buenos Aires, foi declarada patrimônio cultural do Estado em 2005. Segundo a prefeitura, o maior segmento de expositores é o de artesanato, com mais de 180 bancas, seguido de 66 de antiguidades, 26 de artes plásticas e seis de gastronomia.