Iniciada na semana passada, a série TBT 2024 revisita coberturas marcantes de jornalistas de Zero Hora e Rádio Gaúcha neste ano. Repórteres e comunicadores relembram momentos da tragédia climática no Estado, grandes operações policiais e acontecimentos que chocaram o Rio Grande do Sul e o país. Na segunda publicação, o colunista e apresentador Paulo Germano recorda quando a Orla virou uma central de resgates na enchente de maio.
Conforme a água invadia a região das Ilhas e as cidades vizinhas Eldorado do Sul e Guaíba, uma operação foi montada na Usina do Gasômetro, em Porto Alegre, para acolher pessoas resgatadas em lanchas, botes e jet skis. Ao desembarcarem, as vítimas recebiam mantas térmicas de alumínio e atendimento médico e veterinário — muitos animais também foram salvos.
Em meio a tendas de acampamento militar e o vaivém constante das embarcações, Paulo Germano participou do programa Timeline, da Rádio Gaúcha, direto do local, na manhã de 6 de maio, e falou ao vivo com voluntários.
— Aquele foi um dos momentos mais pavorosos e, ao mesmo tempo, mais bonitos dos meus 20 anos de trajetória no jornalismo — confidencia o jornalista.
A situação delicada e assustadora pela qual as vítimas passavam era contrastado pelo apoio de outras pessoas.
— Havia um ambiente de dor, de sofrimento muito intenso. E, por outro lado, havia a beleza de uma grande rede de solidariedade que se formou no entorno daquilo.
Durante a cobertura no Gasômetro, Paulo Germano entrevistou Dênis Abreu, auxiliar administrativo que perdeu a casa e os pertences durante a enchente. Morador de Eldorado do Sul, ele foi socorrido e, mesmo assim, seguiu auxiliando no trabalho de resgates. "Eu não durmo faz tempo. Estou exausto, mas não consigo descansar", contou o jovem, na ocasião.
— Era um rapaz que tinha perdido tudo. A casa foi absolutamente tomada pela inundação, cada membro da família dele estava em um abrigo diferente. E, ainda assim, ele estava ali à disposição e trabalhando duro para receber resgatados — relembra o apresentador. — Eu achei aquilo impressionante. Como podia alguém tão imerso em sofrimento, com problemas seríssimos, como a perda da própria casa, com a família também em situação muito delicada, se dedicando ainda assim à solidariedade a outras pessoas? E o Dênis não era uma exceção. Havia várias pessoas ali no Gasômetro nessa mesma situação. Isso é bonito, isso faz a gente acreditar no ser humano.
Em coberturas emocionantes e difíceis como essa, o jornalista conta que o mais difícil é conversar com quem está vivenciando um momento tão doloroso.
— Algumas pessoas eventualmente dizem que a imprensa faz um trabalho de abutre, de exploração do sofrimento alheio. Muito pelo contrário: não se trata de explorar o sofrimento alheio, se trata de dar a ele, ao sofrimento alheio, a importância e a solenidade, a relevância, que ele merece. A gente não pode deixar que uma tragédia como essa seja resumida a números. — defende o colunista. — É obrigação mostrar que tem gente sofrendo, que tem gente perdendo tudo, que tem famílias enlutadas, que as pessoas estão chorando, estão sentindo dores como nunca haviam sentido. Por que é importante? Porque só assim a gente consegue sensibilizar uma sociedade, só assim a gente consegue comover uma comunidade, para que as pessoas possam refletir e, inclusive, cobrar das autoridades para que situações assim não se repitam.
Produção: Laura Pontin
Supervisão: Gabriel Salazar