O bar e restaurante Van Gogh, que carrega o nome de um dos mais celebrados artistas plásticos do planeta, serviu sopas e foi ambiente de histórias durante 65 anos. Localizado na esquina da Avenida João Pessoa com a Rua da República, o lugar que foi ponto de encontro nas madrugadas porto-alegrenses vai fechar no dia 11 de agosto.
Na tarde e no início da noite desta quinta-feira (1º), o restaurante com paredes revestidas de madeira e piso cerâmico 20x20cm, mantinha a chapa quente, servindo canja de galinha aos visitantes que sustentam afinidade com hábitos que deixam de fazer parte do cotidiano na aglomeração urbana mais ativa da noite na Capital. Em 2020, o lugar quase havia fechado as portas por definitivo, em meio às restrições decorrentes da pandemia.
A boemia acabou. Aqui foi lugar onde vinham artistas, personalidades, pessoas comuns da vida noturna. Hoje isso não existe mais. É a geração do hambúrguer. O aluguel ficou caro e a receita é pouca. Estou triste nesta decisão.
CLÁUDIO PIOVESANI, 65 ANOS
31 anos na administração do Van Gogh
Apesar da mudança de comportamento descrita pelo empreendedor, há aparentes laços de identificação alimentados pela longevidade do Van Gogh, que se expressam de diferentes formas.
— Morei por mais de 50 anos aqui na Rua da República. Tomo minha cerveja neste lugar faz décadas e hoje não poderia ser diferente. Tem coisas como a amizade e a presença daqueles que acompanham a história da gente que têm valor — define o aposentado Iran Soares Marques, 78 anos.
O frequentador tomava sua cerveja, na companhia do amigo César Godoy, 67, a quem a brisa que se forma entre a Redenção, a partir da vista frontal do Van Gogh, e o outro extremo da Rua da República agrada em dias de calor.
Da mesa colocada sobre a calçada de pedras portuguesas avermelhadas, semelhantes às das praças da Alfândega e da Matriz, os amigos de longa data elogiavam o aroma que emanava do interior do velho ponto de encontro. Era canja. Piovesani preparando. Atende aplicativo. Serve marmitas, pilota panelas. Atende no balcão.
— É verdade que o senhor vai fechar? — indaga o homem que leva uma cerveja para sua caminhada e diz que tomará outra no segundo sábado de agosto, um dia antes da data de encerramento para um pedaço da memória boêmia da capital gaúcha.