Após a devastação provocada pela cheia do Guaíba, os moradores do Lami passam o dia em barcos tentando recuperar o que sobrou de seus lares. Com a Orla ainda inundada e com previsão de mais chuvas nos próximos dias, o maior temor dos habitantes do bairro é o desabamento das casas, pois já verificam rachaduras e barulho nas paredes.
A convite de moradores, a reportagem de GZH percorreu de barco na tarde desta quinta (9) boa parte da Avenida Beira-Rio, a principal da Orla, tradicional pela prática de exercícios físicos e atividades de lazer. Hoje, porém, não existe nada além de água e de moradores tentando ver o que sobrou de suas residências e estabelecimentos.
— A água já está demolindo as portas e os muros das casas e dos bares. A gente vê que tem bastante rachadura e que as paredes fazem um estalo. Estamos apreensivos porque a previsão está marcando chuva para o final de semana. Se tiver vento sul, temos medo de que as casas venham abaixo — preocupa-se Daniel Schuck, 37 anos, funcionário de um dos bares inundados na Orla.
Na Avenida Beira-Rio, não existe nada que não esteja submerso ou com água pela metade. Já as ruas perpendiculares viraram pontos de embarque e desembarque de moradores que chegam de bote para resgatar seus bens.
— Está tudo cheio d'água. Para reconstruir, vai ser duro. Teve gente que saiu só com a roupa do corpo. Muita gente perdeu tudo — relata o pedreiro Adriano Moraes, 40 anos.
Ao contrário de outras regiões da cidade, não há pessoas no Lami ilhadas ou precisando de resgate. Porém, ao tentar buscar seus pertences, vários moradores tentam encontrar animais que ficaram para trás
— As pessoas que vivem aqui estão em casas de parentes e amigos ou em abrigos em Belém Novo. Estamos tentando resgatar os animais e recuperar as nossas coisas, pois está horrível o cenário. E temos que tirar tudo hoje porque amanhã, com a chuva, ninguém vai conseguir entrar — alerta Schuck.
Já a moradora Lerícia Ribeiro Cardoso, 35 anos, que trabalha em uma estética da Capital, alugou uma casa em outro bairro por tempo indeterminado, mas voltou ao Lami nesta quinta para recuperar seus bens.
— Pedi férias no serviço para reconstruir a minha vida. A minha casa era quase toda de madeira. Perdi quase toda. Sobrou só a cozinha e a sala, que eram de concreto. Minhas roupas estavam debaixo d'água, mas consegui recuperar pratos, panela, os dois sofás, uma cama, a geladeira e alguns brinquedos da minha filha — conta.
Mesmo quando o Guaíba recuar, Letícia não pretende mais morar no Lami.
— Vivo aqui há 12 anos. Desde antes dessa enchente, eu já dormia com muito medo. Quando tinha vento sul, a gente dormia ouvindo o barulho das ondas. Já aconteceu várias vezes de a água entrar no pátio. Não há mais segurança para morar aqui. Não quero voltar nunca mais.