As quadras esportivas do trecho 3 da Orla do Guaíba se dividiram, neste sábado (11), entre os tradicionais atletas de final de semana e centenas de homens e mulheres com roupas coloridas e pó branco nas mãos. Este grupo, que não costuma fazer seus exercícios a céu aberto, participa da segunda edição do Festival Sunset Games de cross training.
Nesta manhã, os exercícios da primeira prova eram o “ball wall”, em que uma bola que pesa entre dois e 13 quilos é arremessada a mais de dois metros de altura, e o “pull up”, no qual o corpo suspenso pelas mãos segurando uma barra precisa ser elevado de modo que o queixo, o peito e a cintura estejam acima dessa barra.
Cada rodada desta prova feita em duplas durava oito minutos, objetivando o maior número de repetições dos dois exercícios neste tempo. Caso a chuva projetada pela previsão do tempo começasse a cair, a prova de pull up seria inviável, por causa da falta de aderência causada pela água. Por isso, a organização antecipou a prova, para que a tarde fosse reservada aos exercícios que combinam levantamento de peso e movimentos sem elevação do corpo. Às 13h começou um temporal.
— Bora, gente, assinem a súmula e deixem a quadra. Deixa pra respirar, abraçar o colega, fazer a foto ou passar mal do lado de fora, estamos correndo contra o tempo e contra a chuva — anunciava o locutor do evento ao final de cada rodada da manhã.
Esta combinação é apenas a primeira de quatro provas que cada atleta inscrito vai tentar superar entre o sábado e o domingo. As categorias são niveladas por nível de prática de oito exercícios diferentes, com parâmetros de pesos e números de repetições de cada prova informados previamente.
Segundo Yuri Simas, 25 anos, de Canoas, o ritmo de competição é maior do que o dos treinos por conta da atmosfera e senso de comunidade entre os colegas adversários. Ele veio para a Orla às 8h30min com colegas da academia Red Java, mas faz dupla com um amigo de outro “box” (nomenclatura importada do inglês pelo formato de caixa com que os centros de treinamento são construídos).
— Estamos aí, sofrendo com gosto em uma manhã de sábado — brinca o atleta amador, que na infância chegou a integrar a seleção brasileira de judô.
Integração
Mais do que a exigência física e os efeitos da prática esportiva no corpo e na mente, Yuri ressalta que o companheirismo e adaptabilidade da modalidade são a maior atração para quem faz o cross training. Ele praticou judô entre os 9 e os 18 anos de idade, tendo encontrado a modalidade aos 22.
— Mesmo quem começou há menos de um ano já pode vir competir na categoria iniciante. O esporte aceita gente de todos os pesos e alturas, e até deficientes físicos — enaltece, revelando que o seu próprio peso baixou e subiu quase 20 quilos nos últimos três anos, em que alternou entre diferentes rotinas de treino.
Na sua mochila, sanduíche de carne moída, paçoca de amendoim e merengue, escolhas próprias para ter energia ao longo dos dois dias de competição. A previsão de chuva o agrada, pois traria um refresco aos competidores, ainda que as três outras competições que ele participou tenham sido em locais fechados. Independentemente do clima ou do seu resultado na classificação geral, a maior certeza de Simas é da integração entre academias.
— Amanhã (domingo) de noite, depois de terminarmos tudo aqui, vamos reto em um xis ou numa pizzaria. A cervejinha para comemorar pós-competição é uma lei — projeta o atleta.
Movimento na Orla
Entre a sexta e a tarde de domingo, no entanto, sucos, água e isotônico vão manter o organismo hidratado no calor de 30 graus. Matheus Rodrigues, 25 anos, responsável por servir os chopes vendidos pelo bar Espartano da Pista, observava a fila constante no caixa com tranquilidade.
— O movimento também é bom nos outros finais de semana nublados, mas dá pra ver que o pessoal hoje tá indo mais nas coisas naturais — comenta.
Rogério Belusso, 64, aposentado, fez sua tradicional pedalada de final de semana entre o bairro Jardim Leopoldina e a orla do Guaíba no começo da manhã. Estacionou a bicicleta na divisória entre as quadras de futebol e a do evento de cross training para observar o movimento apoiado na grade. Ficou mais de uma hora encantado com a disposição e constância daqueles homens e mulheres que erguiam os próprios corpos repetidas vezes acima de uma barra que fica a mais de dois metros de altura.
— Já fiz musculação, mas algo dentro das minhas limitações. Vim ver porque me inspiro nessa força de vontade e determinação de cumprir os desafios que eles mostram. Não só física, mas principalmente mental, de ir até o limite do corpo — comentou.