Nem o céu cinzento que encobriu Porto Alegre durante a maior parte do domingo (2) resistiu a tanto brilho colorido. Por volta das 15h, quando uma multidão se reunia no Parque Farroupilha (a Redenção), para celebrar a Parada de Luta LGBT+, as nuvens se dissiparam e o sol apareceu para aquecer a pele de quem se orgulha da própria sexualidade.
Em sua 16ª edição, o evento atraiu milhares de pessoas. Por toda a extensão do espelho d’água, um corredor formado de bandeiras do arco-íris conduzia o público até a rótula da Rua Setembrina. Ali, quatro trios elétricos faziam o povo dançar e davam eco a discursos de combate à intolerância e pela luta por direitos.
Coordenadora da Parada da Diversidade de Florianópolis e assessora de Política Públicas LGBT+ da capital catarinense, Selma Light conclamou o público à ocupação de espaços no poder público.
— É muito importante os LGBT+s tomarem os cargos que merecem. Votem neles, elejam pessoas capazes de nos defender, que conhecem as nossas mazelas. Nós lutamos pelo básico, pelo direito à vida — afirmou.
Lá embaixo, na plateia, o casal formado pelo gerente operacional Douglas Pires, 38 anos, e pelo sócio-gerente Júlio Cezar de Souza, 40, comemorava a possibilidade de poder manifestar carinho em público. Há oito anos juntos, eles viajaram de Caxias do Sul, onde moram, para participar da Parada em Porto Alegre.
— Hoje é um dia em que a gente pode ser quem é. Aqui posso beijar, andar de mão, usar lente, me maquiar. É como sair do casulo — desabafou Pires, enquanto balança um leque multicolorido.
Espalhado pelo gramado, o público formava um mosaico da diversidade. Vestindo roupas militares ou com a maior parte do corpo à mostra, com o rosto salpicado de purpurina e guampinhas vermelhas na cabeça, com fantasia de dinossauro ou transparências reveladoras, o figurino emitia sempre uma mensagem de orgulho e pertencimento.
— É uma luta. Por muito tempo a gente se escondeu. Nós mesmos nos oprimimos por medo de perder o emprego, os amigos, a família — comentou Raphaelle Martins, 19 anos, ao lado da namorada Júlia Silveira, 18.
— Eu mesma sou uma mulher desfeminilizada. Mas isso não tira o fato de ser mulher. Então, é muito bom estar aqui, no meio de pessoas que sentem o que sinto. Aqui não vejo olhar de julgamento, só de amor — completou Júlia.
Em meio à distribuição de brindes, havia também entrega de cartilhas com informações sobre direitos e formas de prevenção ao preconceito e à violência. Durante o discurso da drag queen Tchaka, apresentadora da Parada LGBT+ de São Paulo, algumas pessoas na plateia cobraram a presença do governador Eduardo Leite, que em 2021 assumiu publicamente sua homossexualidade. De imediato, a artista pediu palmas ao político, que não compareceu ao evento.
— Governador Eduardo Leite e seu namorado, esposo, Thalis, vocês nos representam. Podem aplaudir o governador, ele é muito militante — afirmou Tchaka, enquanto o público aplaudia.
Por volta das 15h30min, os quatro caminhões de som saíram em carreata até a Usina do Gasômetro. O povo seguiu atrás, cantando e dançando pelas ruas, sob escolta da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) e da Brigada Militar. Na orla, um palco recebe cerca de 30 atrações musicais para a festa, que deve se estender até a meia-noite.