Um dos parques mais frequentados de Porto Alegre, a Redenção é como uma galeria de arte a céu aberto. São dezenas de peças, dispostas entre os jardins e os bosques do Parque Farroupilha, que marcam períodos e homenageiam personagens da história ou que simplesmente trazem a beleza da arte ao ambiente.
No entanto, o acervo, que deveria estar permanentemente disponível para o deleite da comunidade, é constantemente atingido por furtos e depredação.
A mais recente baixa é a escultura O Menino da Cornucópia, peça que ornamenta o alto do Chafariz do Roseiral. A escultura é uma representação da imagem de Tritão, filho de Poseidon e Anfítrite, deuses da mitologia grega que exerciam sua soberania e seus poderes nas profundezas de mares e oceanos.
A estátua foi removida pela última vez em 13 de outubro do ano passado, após novo episódio de vandalismo. Trata-se de uma réplica da obra de arte original, a qual foi arrancada de seu pedestal e abandonada ao lado da fonte. A última restauração havia ocorrido em 2020.
— Esta é uma questão que infelizmente se repete e que extrapola o âmbito da gestão de patriomôno cultural. Temos um grave problema de segurança que repercute sobre a preservação dos monumentos da Redenção — lamenta a arquiteta Manuela Costa, integrante da Diretoria de Patrimônio Cultural da Secretaria da Cultura da Capital.
Manuela explica que a Secretaria da Cultura mantém constante contato com a Guarda Municipal, que realiza diariamente a vigilância do Parque Farroupilha, mas os casos voltam a acontecer.
Segundo a arquiteta, ainda não há previsão para a recolocação da estátua no local. Manuela revela que a administração encaminhou a peça para o atelier de um artista credenciado para nova restauração e agora busca recursos com patrocinadores para custear sua recuperação, juntamente com outras obras atingidas pelo vandalismo.
Original de bronze está preservada
A obra de arte O Menino da Cornucópia foi originalmente esculpida em bronze e havia sido instalada na Praça XV de Novembro. Em decorrência de mudanças urbanísticas promovidas no Centro, em 1925 a estátua ganhou nova morada, sendo instalada na Redenção, ao final dos anos 1930. O Chafariz do Roseiral está localizado nas proximidades da UFRGS, no espaço situado entre as avenidas João Pessoa e Paulo Gama.
Ali, sobre a fonte de água, o menino permaneceu por décadas soprando a cornucópia, uma espécie de vaso em forma de chifre, que representa fertilidade, riqueza e abundância, de acordo com a mitologia.
Tritão fez companhia para as tardes de trabalho do jardineiro Renato Menezes Fraga, 60 anos de idade e 39 anos de serviço na conservação da Redenção.
— Quebraram o nosso indiozinho com rabo de peixe. É uma estátua linda. As pessoas vinham pra tirar foto ao lado dela. Entristece a gente olhar e não ver mais o menino ali — desabafa o jardineiro.
Não é a primeira vez que a figura, correspondente ao masculino da sereia, é alvo de vandalismo. O Tritão original havia sido removido do Parque Farroupilha em 2002 para ser restaurado. Pela relevância artística, acabou sendo preservado em um espaço de conservação do acervo municipal e foi substituído, em 2011, por uma réplica em liga metálica sem componentes com valor comercial.
Mesmo assim, os ataques não cessaram. De lá para cá, foram diversos episódios de depredação e tentativas de furto. Em 2020, O Menino da Cornucópia foi novamente restaurado e instalado sobre o Chafariz do Roseiral. Dois anos depois, o ciclo negativo se repete e a fonte está outra vez sem sua figura ornamental.