A onda verde que tomou conta de Porto Alegre na noite de sexta-feira (17), em razão do Dia de São Patrício, seguiu pelas ruas da Capital neste sábado (18). Na Cidade Baixa, porém, a tonalidade característica do feriado irlandês ganhou companhia das demais cores do arco-íris. O bairro da região central recebeu a primeira edição do Saint Patrick's Gay, que convoca a comunidade LGBTQIA+ a participar da festa de São Patrício.
O Saint Patrick's Gay começou por volta das 15h e deve seguir até as 22h na Rua Lopo Gonçalves, que está bloqueada no trecho entre a José do Patrocínio e a Lima e Silva. A reportagem circulou pelo local nas primeiras horas de evento, quando dezenas de pessoas vestidas de verde curtiam o show do grupo Samba de Role e aproveitavam o calor intenso para saborear o chope verde que já virou marca registrada das festas de São Patrício na cidade. A programação ainda inclui apresentações de DJ's e um show da drag queen Cassandra Calabouço, que também é a mestre de cerimônias do evento.
A ideia de trazer o recorte LGBTQIA+ para o Saint Patrick's veio dos amigos Rodrigo Kras Borges e Guilherme Galvão. Atuantes no setor de eventos, os dois contaram com o apoio da prefeitura e dos estabelecimentos da Lopo Gonçalves para colocar o projeto em prática — um deles, o bar Workroom, é de propriedade de Rodrigo.
Conforme ele, a intenção foi criar um espaço para que a população LGBTQIA+ de Porto Alegre possa se sentir acolhida na celebração do Saint Patrick's. Rodrigo observa que os eventos alusivos ao dia de São Patrício costumam ser frequentados por público majoritariamente heterossexual.
— A gente quis pintar a rua de verde, mas também misturar o colorido. Percebemos que na cidade o Saint Patrick's é um evento muito frequentado pelos heteros, por isso pensamos em desmistificar essa cultura, deixá-la mais diversa — explica. — Esse é o projeto piloto, o primeiro passo. Queremos que o Saint Patrick's Gay tenha continuidade, que seja periódico e fique conhecido na cidade — sonha o idealizador.
A percepção de Rodrigo é reforçada pelos amigos Gilian Vinicius Cidade, 33 anos, e Ally Gomes dos Santos, 26. Os dois vieram de Viamão para participar do primeiro Saint Patrick's Gay. O evento é também a primeira a primeira festa de Saint Patrick's da qual os dois participam.
— Sempre achei que o Saint Patrick's era um rolê muito branco, com poucas pessoas negras, e também muito hetero. Por isso eu nunca me senti confortável em participar — explica Ally. — Aqui estou gostando, é um rolê que tem muitas pessoas como nós, tem drag queen, ainda que não tenha tantas pessoas negras também — pondera.
Já Gilian observa que, além de criar um ambiente acolhedor, o evento é também uma forma de incluir no Saint Patrick's estabelecimentos e profissionais da comunidade LGBTQIA+:
— É importante nos fazermos presentes nessa festa do Saint Patrick's, mesmo tendo noção de que é uma festividade totalmente exportada, porque isso traz mais uma possibilidade de a nossa comunidade gerar renda e ter espaço. Por exemplo, eu não participaria se não fosse aqui.
A drag queen Cassandra Calabouço, mestre de cerimônias e uma das atrações da festa, destaca que, apesar de o evento ter como público-alvo a comunidade LGBTQIA+, todos são bem-vindos. O único pré-requisito para curtir o Saint Patrick's Day é estar disposto a celebrar e respeitar a diversidade.
— A gente está na rua ressignificando uma festa que é historicamente do universo hetero, dizendo que ela também é nossa. Quando a gente vai festas heteros, a gente vê cara feia, mas aqui a gente não faz cara feia para hetero. Aqui é um rolê acolhedor e diverso — diz a drag queen.
No domingo (19), as celebrações do Saint Patrick's seguem na cidade com eventos em dois locais. Das 14h às 22h, a Rua Castro Alves (entre Ramiro Barcelos e Miguel Tostes) recebe um evento alusivo à data. Já na Cidade Baixa, a festa ocorre das 15h às 22h, na Travessa dos Venezianos.