Com direito a políticos e produtores rurais aboletados na colheitadeira e grãos expostos em abundância, Porto Alegre realizou nesta segunda-feira (9) a primeira abertura da colheita da soja da sua história, no bairro Lami.
A cidade tem na sua zona rural uma tradição, mas a introdução desse plantio na capital do Rio Grande do Sul é inusitado. O predomínio é dos hortifrutigranjeiros, com força para a produção orgânica, mas a soja, neste ano, alcançou 550 hectares de área plantada. O Sindicato Rural de Porto Alegre já anunciou que, para a próxima safra, a previsão é subir para 900 hectares — estima-se que a área rural produtiva do município seja de 4 mil hectares.
Além do simbolismo da primeira abertura da colheita, também foi comemorada a produtividade. O sindicato diz que os três produtores que cultivaram o grão em Porto Alegre estão colhendo cerca de 55 sacas por hectare. No último boletim da Emater, a estimativa para a região era um pouco menor, de 46 sacas. Mesmo com a divergência, o indicativo claro é de que a colheita está melhor na Capital do que no restante do Estado, onde a estiagem causou cenário de colheita média de 25 sacas por hectare.
— Tivemos uma boa safra. É um registro histórico, uma capital colhendo soja, o produtor trabalhando com maquinário novo. Isso é um caminho para a zona rural sustentável e estável — afirmou Cléber Vieira, presidente do Sindicato Rural porto-alegrense.
A cerimônia foi realizada em uma propriedade de 70 hectares, arrendada pelo produtor rural Eduardo Gonçalves, o Dudu, de 19 anos, que toca o negócio com o pai. A bordo de uma moderna máquina recentemente adquirida, Dudu iniciou a colheita no sábado (7) e vai encerrá-la nesta terça-feira (10). Ele está colhendo o grão entre as 11h e as 18h, buscando obter uma soja mais livre da umidade trazida pelo sereno, o que pode desvalorizar o produto.
— Está superando as expectativas. Deu cuiudo o troço — exclamou o jovem produtor, contente com os negócios e surpreso por ter sido ciceroneado por tantas autoridades.
Nesta safra, ele e o pai plantaram 150 hectares de soja: além dos 70 em Porto Alegre, outros 80 em Viamão. Para a próxima, pretendem dobrar a área plantada para 300 hectares, mantendo a aposta na Região Metropolitana.
Outro que irá plantar soja na Capital na próxima safra é Vieira, presidente do Sindicato Rural, em parceria com donos de terras no Lami, no Cantagalo e no São Caetano. O desejo por expansão é o que sustenta a previsão da entidade de crescimento para a próxima rodada de plantio.
Prefeito em exercício, Idenir Cecchim compareceu, subiu na colheitadeira e discursou. Ele afirmou que a zona rural é uma contribuição para o meio ambiente. Nas manifestações de produtores, foram apresentadas reivindicações como a criação de uma Secretaria Municipal da Agricultura em Porto Alegre. Eles avaliam que isso é necessário para ampliar políticas públicas ao setor. Outra preocupação apresentada de forma recorrente versa sobre invasões de áreas na zona rural e no Extremo Sul da Capital. Produtores e a própria prefeitura relatam um crescimento nos casos de pessoas que avançam sobre terras, muitas delas com pendência na regularização fundiária, loteiam e, depois, vendem irregularmente para a construção de moradias humildes.
O secretário de Governança Local e Coordenação Política, Cassio Trogildo, foi designado pelo prefeito Sebastião Melo para coordenar um grupo de trabalho que está planejando ações para a zona rural.
— O tema é vasto, mas a questão das invasões está preocupando muito — diz Trogildo, também presente no ato da abertura da colheita.
Trogildo afirmou que um programa de regularização fundiária, liderado pela Secretaria de Habitação e Regularização Fundiária, contratou uma empresa de engenharia para fazer um cadastro de propriedades e levantamento topográfico. O objetivo é regularizar áreas que estejam com pendências.
Muitas terras, explica, fazem parte do espólio de falecidos e, anos depois, ainda não foram transferidas aos herdeiros ou pessoas que adquiriram frações. Isso é um problema na zona rural porque, sem a propriedade regularizada, o produtor não obtém inscrição no Incra, o que implica em não ter nota fiscal e ficar impedido de acessar financiamentos.
A prefeitura diz que a conservação de estradas sem pavimento e a poda de árvores nas margens de estradas são temas importantes na agenda. Por fim, iniciar um processo de transição até 2032, ano a partir do qual, por lei, não será mais permitida a aplicação de agrotóxicos na Capital, iniciativa que busca priorizar a produção orgânica.