Arte e resistência andaram lado a lado no Centro Histórico, em Porto Alegre, para relembrar e reforçar a importância da luta do povo negro. Em 20 de novembro de 1971, foi no clube social Marcílio Dias que lideranças reuniram-se em um ato para definir aquela a nova data anual do Dia da Consciência Negra, em contraponto ao 13 de maio — data em que Princesa Isabel assinou a Lei Áurea.
Meio século depois, a Marcha Independente Zumbi Dandara saiu neste sábado (20) do Largo Glênio Peres até o Largo Zumbi dos Palmares, em ato que misturou carro de som, apresentações de danças, falas de lideranças e gritos contra a injustiça racial, o presidente Jair Bolsonaro e a rede de supermercados na qual ocorreu, há um ano, o assassinato de João Alberto Silveira Freitas.
Logo que os manifestantes começaram a andar na Avenida Borges de Medeiros, já ocupavam cerca de cinco quadras. No centro, mulheres dançavam com trajes alusivos a orixás. Também estavam presentes, além da percussão em ritmo de samba, berimbaus.
O carro de som começou tocando músicas, mas logo antes do Viaduto Otávio Rocha, os manifestantes pararam para ouvir as vozes das lideranças. Uma delas destacou a situação das mulheres negras no país, ressaltando que muitas são vítimas da violência doméstica.
Passadas as falas de algumas lideranças, a manifestação seguiu pela Demétrio Ribeiro e José do Patrocínio. Ao chegar no Largo Zumbi dos Palmares, mais pessoas falaram ao microfone. Já encaminhando-se para o término do ato, a violência policial contra pessoas negras foi destacada nos discursos — mas, especialmente, a necessidade de seguir resistindo e lutando para construir espaços mais representativos e uma sociedade mais justa.
Pelo país
Em São Paulo, manifestantes se reuniram na 18ª edição da Marcha da Consciência Negra. Entre as pautas levantadas, o governo foi alvo de críticas das pessoas que acompanhavam as intervenções na Avenida Paulista. Um dos motes dos protestos foi intitulado "Fora Bolsonaro racista".
A pauta econômica, que envolve a fome e o desemprego, foi um dos pontos levados pelos manifestantes com cartazes e faixas, assim como a defesa da vida no contexto de pandemia de coronavírus e a favor da democracia.
Lideranças políticas de partidos de esquerda, além de centrais sindicais, marcaram presença nos atos na capital paulista e no Rio. Houve registro de ações em Salvador e Fortaleza, entre outras capitais e cidades do Brasil e do Exterior, como em Londres.
A data foi instituída por meio da lei 12.519, de 2011, como marco de luta do povo negro, para conscientizar a resistência ao longo da história. Faz homenagem a um dos símbolos do enfrentamento à escravidão: Zumbi dos Palmares. Morto em 20 de novembro de 1695, foi o responsável pela criação do Quilombo dos Palmares, que abrigou centenas de pessoas que foram escravizadas.
No Rio, o monumento em homenagem ao líder negro reuniu centenas de pessoas, com apresentações artísticas e celebração de religiões de matrizes africanas.