Vai fazer 10 anos que os barcos Ana Terra e Carlos Nobre estrearam seu percurso entre Porto Alegre e Guaíba, retomando o transporte fluvial regular de passageiros.
As cidades estavam há meio século sem o serviço — pouco depois da inauguração da ponte do Guaíba, as travessias comerciais foram interrompidas. Seis projetos para retomar foram abortados desde 1960, até 28 de outubro de 2011.
Jairo Kereski, 47 anos, estava lá nesse dia. E pode provar: tirou uma foto do tíquete da concessionária Catsul, que relaciona hora de embarque (6h30min), linha (0141, direção Guaíba/Porto Alegre) e preço cobrado (R$ 6,00, hoje é R$ 12,50). Tinha a sensação de fazer parte da história.
— Como o papel da passagem apaga, tirei a foto para eternizar. Eu sabia que ia chegar a esse ponto um dia — diz o bancário, que sabia que ainda iria contar a história do catamarã.
Nessa última década, o catamarã tem sido o meio de transporte entre a casa de Jairo, em Guaíba, ao banco onde trabalha. Adora a vista na chegada à Capital: enxerga a Orla, o Gasômetro, o icônico prédio modernista do Centro Administrativo Fernando Ferrari.
A volta para casa também não é nada mal. Aprecia o contraste da escuridão no Guaíba com as luzes da cidade, que dão a Porto Alegre “um tom romântico”.
Mas mais do que a beleza, a comodidade foi o que fidelizou Jairo ao catamarã:
— Evoluímos muito em relação ao que era com o transporte rodoviário: o catamarã é constante, não é barulhento. E não tem congestionamento, não tem aquele arranca e para.
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Jairo é um entre os mais de 7,4 milhões de passageiros já transportados. No próximo dia 28, o catamarã chega a 3.638 dias de operação, com 127.848 viagens feitas.
A maior parte delas ocorreu de forma tranquila, inclusive em dias de temporal — catamarãs são barcos com dois cascos, construídos justamente para evitar o balanço incômodo que as navegações provocam. Mas esse marasmo tem suas exceções.
No dia 1º de agosto, um domingo à tarde, o Corpo de Bombeiros solicitou apoio à embarcação para atender ocorrência próximo a Guaíba. Um jovem estava à deriva dentro da água depois que o caíque em que estava quebrou.
O marinheiro Diego Dimer Esteves, 40 anos, jogou uma boia salva-vidas, e os tripulantes puxaram o rapaz por um cabo:
— Ele estava desesperado. Dei para ele minha jaqueta e retornamos a Guaíba para que fosse socorrido, pois já estava com hipotermia.
Os passageiros do catamarã, lotado naquela tarde de domingo, aplaudiram o resgate.
O engenheiro Carlos Bernaud, diretor da Catsul, destaca que a expectativa para o futuro do transporte hidroviário de passageiros é positiva. Com o enfraquecimento da pandemia de covid-19, projetam a retomada da demanda, aos mesmos patamares de antes da pandemia, no ano de 2022. E vai além:
— Estimamos uma maior atratividade pelo transporte hidroviário, especialmente pelos investimentos realizados e que ainda serão ampliados na orla de Porto Alegre e Guaíba. A revitalização da orla já ampliou o atrativo ao público e resgatou o acesso a um dos cartões postais da cidade — destaca ele.
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Catamarã em números
- Número de viagens: 127.848, a completar dia 28
- Passageiros transportados: 7.452.757 (até 30/09)
- O maior movimento diário ocorreu em 20/07/19, com 5.195 passageiros transportados.
- Equipamentos: são dois catamarãs com capacidade para 122 passageiros e um para 172 passageiros