Um antigo seminário da Igreja Católica, no bairro Vila Nova, em Porto Alegre, deixou de formar párocos e passará a funcionar como casa de acolhimento a imigrantes em situação de vulnerabilidade e recém-chegados neste sábado (3). Localizada em área ampla, a hospedaria dispõe de 20 quartos com dois beliches cada, a maioria deles com banheiros individuais. Poderão ser abrigados simultaneamente entre 60 e 80 imigrantes, sejam eles viajantes solitários ou acompanhados da família.
A vasta área verde, já dotada de frondosos pomares, terá espaço para hortas comunitárias. O objetivo é produzir verduras para abastecer a cozinha, onde os hóspedes terão direito a refeições diárias, além de auxílio no vestuário, na confecção da documentação, na capacitação profissional e no encaminhamento ao mercado de trabalho. A iniciativa é do Centro Ítalo-Brasileiro de Assistência e Instrução às Migrações (Cibai Migrações), instituição destinada a amparar imigrantes desde 1958, vinculada à Igreja Nossa Senhora do Rosário de Pompéia, encravada no centro de Porto Alegre.
O antigo seminário pertence à congregação católica dos scalabrinianos e foi desativado em maio de 2021, quando havia apenas sete formandos residindo no local. A decisão foi transferi-los a outras unidades da fração religiosa e usar a estrutura para a obra social.
– Antes da pandemia, atendíamos 500 pessoas por semana na igreja. Hoje estamos atendendo 1,5 mil. Os imigrantes procuram muito o sul e os que já estavam aqui empobreceram, aumentou o desemprego – diz Anderson Hammes, diretor do Cibai Migrações e pároco da Igreja Pompéia.
Ainda em momento de crise econômica e sanitária, ele assegura que a congregação, no trabalho de acolhida aos imigrantes, tem percebido número crescente de famílias morando na rua, em situação de miséria. Foi uma das principais motivações para inaugurar o abrigo, batizado Casa do Migrante Guadalupe, em homenagem à Nossa Senhora de Guadalupe, padroeira da América Latina para os católicos.
– Já temos uma lista com 20 famílias que desejam vir para cá, incluindo duas de venezuelanos que estão na rua em Porto Alegre – relata Hammes.
Normas
Existem regras para ir ao local: o encaminhamento e a condução serão feitos exclusivamente pela sede da Igreja Pompéia. A permanência no abrigo será de até sete dias, com possibilidade de prorrogação, dependendo do comportamento. O princípio é de que as estadias são temporárias.
– A iniciativa é para que eles não morram de frio e não fiquem na rua. Depois, é tocar para a frente e trabalhar. Queremos que o imigrante seja o protagonista da vida dele. O meio mais eficiente de integrar o migrante na sociedade é pelo trabalho – afirma Hammes.
Para a inserção no mercado, o Cibai Migrações tem parcerias com diversas empresas, sobretudo da Serra, que necessitam e absorvem a mão-de-obra. O atual ciclo migratório, dominado por haitianos, venezuelanos e senegaleses, tornou-se mais forte a partir de 2014 no Brasil e, nesta altura, eles já construíram imagem de bons trabalhadores: em geral, são dedicados, não faltam ao serviço e apresentam comportamento elogiável.
Nesta quarta-feira (30), às vésperas da inauguração, oito pessoas atuavam nos últimos reparos na casa. Novos móveis estavam nos arremates, colchões ainda involucrados em sacos plásticos eram distribuídos pelos beliches e pinturas eram feitas no prédio de boa estrutura que segue o padrão dos seminários: as habitações formam um quadrado de alvenaria e, ao centro, reluz um jardim esverdeado pela grama aparada.
Até agora, tudo foi bancado financeiramente por uma associação civil dos católicos scalabrinianos e pela Organização Internacional para as Migrações (OIM), agência da ONU dedicada aos deslocamentos humanos.
Como ajudar
O Cibai Migrações e a Casa do Migrante Guadalupe estão abertos a receber apoio com alimentos, roupas e recursos financeiros de pessoas físicas e jurídicas. Doações podem ser feitas na Rua Dr. Barros Cassal, número 220, no centro de Porto Alegre, ou pelo telefone 9-9222-3032.